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Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024

‘A função da universidade é atender à comunidade’
Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
03/01/2022 | 04:34
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À frente da reitoria da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) desde junho de 2020, Leandro Prearo destaca os efeitos da pandemia de Covid-19 na instituição, que teve de promover várias mudanças para atender os alunos a distância. Além disso, se destacou nas pesquisas de vacinas e nas parcerias com a Prefeitura para implantação do Disque Covid e na realização do inquérito epidemiológico. Agora, com a volta de José Auricchio Júnior (PSDB) ao comando da cidade, a intenção é ampliar a atuação em outras áreas. Principalmente na educação, capacitando os professores da rede municipal. “A função da universidade é essa. Atender à comunidade local”, afirma.

O senhor está à frente da USCS desde junho de 2020 e seu mandato como reitor vai até 28 de fevereiro de 2025. Quais as principais lições que tirou desse período em que comanda a instituição? 

Eu peguei a reitoria em um momento complexo, que foi a pandemia. Tivemos de nos reinventar e fazer o que se projetava para dez anos em uma semana. Basicamente, trazer uma plataforma digital e treinar os professores. Foi uma reinvenção. Depois que os alunos puderam começar a voltar, transformamos as 265 salas de aula em mini estúdios. Equipamos com câmera de alta definição e microfones para que 50% dos alunos assistissem a aula na instituição e ela fosse transmitida ao vivo na casa dos outros 50%. Então foi complicado, uma batalha árdua, mas que nos preparou para o futuro. Era uma coisa que a gente planejava fazer. Fora isso, a pandemia trouxe avanços importantes. Principalmente a pesquisa. Começou a trabalhar em projetos importantes, como o Disque Covid, com a Prefeitura de São Caetano, que foi referência nacional e internacional, em que as pessoas recebiam o agente de saúde em casa, geralmente um aluno nosso de medicina, justamente para não ir ao equipamento de saúde. Participamos ativamente disso. Fizemos o primeiro inquérito epidemiológico do Estado de São Paulo, o segundo do Brasil, atrás apenas de Pelotas (Rio Grande do Sul), e aí começamos a crescer nessa área. Fomos convidados para testar a vacina Coronavac, depois fechamos um contrato gigante com a Janssen e os testes estão na terceira fase, além da tetravalente, do (Instituto) Butantan. Crescemos muito nessa área e então começamos a montar um dream team. O professor Fábio Leal, que encabeçou tudo isso, coordenou junto à reitoria a contratação da professora Ester Sabino, que é a principal referência nacional e internacional na questão da Covid. Ela sequenciou em 24 horas o vírus. Depois o professor Ricardo Palacios, que foi o médico que construiu a Coronavac no Butantan, veio também. Brinco aqui que estamos montando o PSG (Paris Saint-Germain) da medicina. Isso deu um destaque para ampliar a pesquisa na universidade. 

Qual a grande marca que pretende deixar da sua administração?

Se pudesse resumir em poucas palavras a primeira seria ‘inovação’. Estamos inovando em todos os processos. Mudamos o sistema acadêmico, implantamos o Google Classroon e mudamos os sistemas administrativos. Até o ano passado tinha de vir à escola para pegar qualquer tipo de documento. Agora, 80% das requisições podem ser feitas de casa, no nosso sistema. A segunda é ‘pesquisa’, por tudo o que já falei. A terceira seria ‘extensão’, porque em 2021 fizemos dois megalançamentos, que foram o Hospital Universitário (no antigo Hospital São Caetano) e o hospital veterinário. São duas áreas que têm pesquisa, mas que estão fora dos muros da universidade e onde há trabalho para a comunidade. Esses dois equipamentos sublinham de forma marcante a história da USCS. Poucas universidades médicas têm um hospital próprio. A maioria dos municípios brasileiros querem um hospital veterinário e nós vamos inaugurar o nosso em março ou abril. 

Como está o projeto de transformação do Hospital São Caetano em Hospital Universitário USCS?

A parceria foi feita em outubro, mas a Câmara só aprovou a criação do hospital nas últimas sessões do ano, em dezembro. Agora estamos com CNPJ e estamos nos cadastrando no SUS (Sistema Único da Saúde). Hoje temos (atendimento em) 20 especialidades médicas, com professores e alunos e, além disso, a pesquisa clínica. Neste ano vamos acoplar os laboratórios de análises clínicas e de imagens. Já será um segundo passo importante. Alunos e professores da biomedicina e farmácia é que irão tocar. Então, tem uma integração dos cursos. Vamos levar também uma parte da clínica de fisioterapia e, a partir daí, estando cadasttrados no SUS, vamos construir leitos. Depois teremos UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Esse é o nosso projeto, de 24 a 36 meses para ter um hospital completo. É um projeto bem pé no chão. 

Hoje, então, já está servindo à população?

Sim. A pessoa procura as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e a rede municipal de saúde e é direcionada para o hospital. 

E o hospital veterinário. Em que pé está esse projeto? Quando será inaugurado?

A parte estrutural, como pisos e telhado, já foi feita. Agora começa a reforma interna, como a criação das salas. O planejamento é que abriremos entre abril e maio, mas pode ser antes. 

Como a população poderá utilizar esse equipamento? Será gratuito? 

Não será gratuito, porque não temos como manter um hospital veterinário dessa forma. Mas vamos cobrar pelos procedimentos algo como o preço de custos dos materiais. Isso com relação à USCS, com relação à Prefeitura, ainda não temos uma parceria. Não sabemos se a Prefeitura vai contratar uma parte das consultas. Vamos conversar agora com o prefeito (José) Auricchio (Júnior) para saber como será esse modelo.

E por falar em Auricchio, o retorno dele à Prefeitura muda alguma coisa para a USCS?

O Auricchio, como os grandes líderes mundiais, enxergou – principalmente no terceiro mandato – a importância e o potencial de trazer a universidade para a construção das políticas públicas. Lá fora, na Europa e Estados Unidos, é muito comum a universidade estar junto nessas construções. Ele viu essa possibilidade inicialmente na saúde e teve muito sucesso. E acho que essa parceria deve ganhar novos tentáculos. Principalmente na educação. A gente ainda não conversou sobre isso, mas sei que o animus dele é continuar crescendo nessa parceria. A USCS pode trabalhar fortemente, por exemplo, na formação dos professores da rede municipal. Temos mestrado em educação, podemos fazer pós-graduações específicas. A volta do Auricchio vai ampliar muito essa parceria, o que é bom. Essa é uma parceria ganha-ganha, pois é bom para a Prefeitura e também para nós, pois o aluno tem um campo de estágio prático, que diferencia a USCS nessa formação. A função da universidade municipal é essa, atender à comunidade local.

Quando foi criada, em 1968, a instituição era voltada para economia e ciências polítiticas, depois para negócios. Hoje está muito forte na área de saúde. Em que ponto se deu essa guinada?

No começo desse século, quando foi construído o campus da saúde, na Rua Santo Antônio, começamos a abrir alguns cursos. No fim da primeira década começou a crescer e consolidou-se com a medicina (criado em 2014), que virou uma grande âncora para que os demais cursos crescessem muito. Hoje a área da saúde representa mais de 50% dos alunos da universidade. Então, a USCS realmente tem se transformado em uma escola com potencial para a saúde. Todas as áreas são importantes, mas a saúde acabou ganhando um grande destaque.

Como estão as instalações da USCS em Itapetininga?

As obras devem ser concluídas no fim de janeiro. Porque já tem uma turma de medicina matriculada para iniciar as aulas em fevereiro. Iniciaremos apenas um curso, com 60 alunos já matriculados.

Além de São Caetano, a USCS está em quais outras cidades?

Na Capital, temos um campus na Bela Vista, que também só tem medicina, com cerca de 700 alunos. E agora em Itapetininga, com entrada semestral de 60 alunos e que quando fechar o ciclo (seis anos) terá capacidade para 720 alunos. E em São Caetano são quatro campi: Barcelona, Santo Antonio (Centro), Conceição – onde está o colégio – e o campus latu sensu no antigo shopping (Centro). 

E colégio USCS, como está?

No caso do colégio, devemos bater a marca de 2.000 alunos neste ano. Eu imagino que seja um dos maiores colégios de ensino médio do Estado. Chegar a isso em três anos foi um golaço. Queremos manter os alunos desde o colégio até a pós-graduação na instituição. 

A USCS hoje tem quantos alunos e quantos professores?

Contando do colégio à pós-graduação, cerca de 9.000 alunos e 150 professores.

Quais os grandes diferenciais da USCS em 2022?

Eu colocaria os dois hospitais. A inauguração completa do veterinário não é uma promessa, já está consolidado porque o curso precisa. O hospital universitário e também o grande investimento na capacitação dos professores. Estamos investindo em novos métodos de ensino, tecnologias ativas. 

A USCS e o Diário desenvolvem o Desafio de Redação. Em 15 anos esse projeto já recebeu mais de 1 milhão de redações. O que o senhor pensa desse projeto? 

Penso em manter esse projeto pelo resto da história da USCS. Além do número de textos, está sempre discutindo temas importantes. É sensacional a região discutir temas tão importantes. Incentivar a redação, a escrita, é muito importante. É um projeto que tem de ser premiado.

Qual o planejamento para o pós-pandemia?

O que tem acontecido com relação às variantes nos impede em falar no pós-pandemia. Parece que está consolidada a questão de menor potencialidade de dignósticos ruins para a ômicron, mas grande potencialidade de transmissão. Preocupa para o futuro. A USCS foi pioneira no laboratório de pós-Covid da fisioterapia. Muitas pessoas com sequelas respiratórias e motoras continuam sendo atendidas até hoje. Com relação às vacinas, o estudo com a Janssen foi reiniciado em dezembro, com aplicação da segunda dose. Estamos sendo acompanhados. Continuamos com os testes. Os voluntários passam com os nossos médicos. Possivelmente vamos testar remédios que devem chegar por aí. Não temos contratos fechados, mas muitas conversas. Isso deve crescer bastante.




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