O Banco de Alimentos da Prefeitura de Santo André, ligado ao Fundo Social de Solidariedade, entregou na tarde de ontem carne vencida a pessoas carentes do Núcleo do Cigano, no bairro Utinga. O fundo é coordenado pela primeira-dama, Denise Ravin. A validade do produto expirou no dia 21.

Além de carne, também foram entregues biscoitos, batatas, pastas de dente e xampus, entre outros itens. O produto vencido foi dispensado à família de Luzia Maria de Souza, 40 anos. A peça de acém tem cerca de dois quilos. A supervisora do Banco de Alimentos, Patricia Cibele Veras, que estava de saída quando a equipe do Diário chegou ao local, acompanhou a visita à comunidade. A encarregada impediu que o plástico com a informação sobre a validade fosse fotografado, escondendo-o rapidamente no bolso.

Mesmo fora da validade, a moradora informou que a carne já estava sendo preparada. A supervisora tentou contornar o problema ao dizer: "Mexemos com toneladas, não com quilinhos." Além disso, alegou que todos os alimentos doados por instituições, empresas, supermercados ou pessoas físicas passam por triagem antes de serem relacionados para entrega nas comunidades carentes do município.

A família negou que tivesse feito a denúncia. A maioria dos moradores preferiu não polemizar a situação por temer a interrupção do benefício. "Quando tem algum produto (no lote) com prazo de validade próximo, eles sempre avisam para consumirmos de imediato", explicou a moradora Adelma Aparecida Martins, 35, que afirmou nunca ter tido problemas com os produtos distribuídos.

Com exceção da peça distribuída a Luzia, as demais carnes checadas pela equipe do Diário tinham validades que expiravam entre hoje e amanhã. Famílias exibiam os rótulos e admitiram não ver problemas na entrega de produtos que devem ser consumidos em curto prazo. "Dão de graça e ainda tem gente que reclama", emendou um vizinho que passava pelo local.

Segundo moradores, a distribuição é realizada há cerca de dois meses em galpão improvisado em cima de uma padaria em reforma. Apenas as famílias cadastradas pela Prefeitura recebem os alimentos e demais produtos regularmente. Na comunidade, 59 famílias são beneficiadas atualmente, mas nem todas retiraram os donativos na tarde de ontem.

De acordo com o delegado titular do 1º DP (Centro) de Santo André, Lupércio Antonio Dimov, vender ou distribuir produto alimentício com data vencida configura crime contra o consumidor e contra a Saúde pública. A pena, em caso de condenação, varia de um a dois anos de prisão.

DADOS

Em 2011, o Banco de Alimentos de Santo André bateu recorde de arrecadação: foram 2,2 milhões de quilos de alimentos e credenciamento de 118 instituições. Ao todo, a iniciativa beneficou cerca de 32 mil pessoas em todo o município.

De acordo com o site da Prefeitura, o programa visa o combate ao desperdício e insegurança alimentar por meio de doações de alimentos e ações educativas.

A equipe do Diário solicitou posicionamento da Prefeitura e entrevista com a primeira-dama Denise Ravin, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Ingestão de comida contaminada pode provocar botulismo

Os alimentos perecíveis industrializados precisam ser manuseados de forma responsável. Quando estão fora da data de validade e estragados, a ingestão pode provocar reações e até causar botulismo, nos casos mais raros. Trata-se de uma infecção alimentar grave e que pode ser fatal.

A informação é do infectologista da Faculdade de Medicina do ABC, Hélio Vasconcellos. Os sintomas já são conhecidos. "A primeira reação do organismo é rejeitar o alimento por meio do vômito ou diarreias", explica.

Porém, no caso de consumir carne bovina fora do prazo de validade por dois dias, o risco de contaminação praticamente deixa de existir se fatias finas forem cortadas e cozidas em alta temperatura.