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No Grande ABC, 51% da
frota têm mais de 10 anos

Para especialistas, automóveis a partir de uma
década de fabricação são considerados velhos

Por Cadu Proieti
Do Diário do Grande ABC
25/08/2013 | 07:00
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Divulgação


Do total de 1,5 milhões de veículos que circulam no Grande ABC, 51% possuem mais de dez anos de uso. Levantamento feito pelo Diário, com base em dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), aponta que cerca de 791 mil automóveis da região foram fabricados antes de 2003. Segundo especialistas, a frota das sete cidades é considerada antiga.

Pesquisa divulgada no ano passado pelo Gipa (Grupo Interprofissional Automotivo) mostra que a idade média da frota veicular brasileira é de nove anos. “A vida útil do carro nacional é de dez anos, em média. Isso significa que parcela muito alta dos veículos da região já se encontra em condição restrita quanto a problemas de poluição e risco de quebra, que gera mais congestionamento”, comentou o professor de Engenharia Civil da FEI (Fundação Educacional Inaciana), especializado em Transportes, Creso Peixoto.

A frota mais antiga é a de Rio Grande da Serra, onde 63% dos automóveis têm mais de uma década de fabricação. Em São Caetano, 43,1% dos veículos possui mais de dez anos, sendo a média mais baixa da região.

De acordo com o especialista em Engenharia de Tráfego Humberto Pullin, é comum os automóveis mais antigos circularem em áreas menos desenvolvidas. “Os veículos mais novos são comprados por classe social média e alta. Quanto mais antigos, mais vão sendo jogados para a periferia. A maioria deles é irregular. Na Capital, por exemplo, 40% da frota não pagam IPVA ou multa”, explicou.

Especialistas explicam que, por serem carros com documentação irregular, os donos dos automóveis costumam deixar de lado os cuidados necessários para a conservação. “Acredito que 80% dos veículos com mais de dez anos não estão com condições de trafegabilidade e possuem problemas de manutenção em relação aos itens de segurança ou na lataria. Ou seja, a qualidade não é mantida. Esse é o maior agravante em ter a frota antiga. Por exemplo, a correia dentada pode ser usada por 30 mil quilômetros, depois deve ser trocada. Se isso não acontece, a peça pode estourar e o carro ter de ser guinchado, atrapalhando o trânsito”, argumentou Pullin.

VELHO AMIGO

A aposentada Elvira Valença Pestana, 64 anos, possui um Gurgel, ano 1991, modelo BR-800 SL, há 20 anos. A dificuldade em achar peças de reposição – a fabricante não existe mais – não é vista como problema. “Já até fiquei na mão com ele algumas vezes, mas não vendo esse carro por nada, porque ele me leva para onde quero. Além disso, me sinto segura, porque ninguém se interessa por um veículo com essa idade.”

Há seis meses, o aposentado Edivaldo Pivetta, 52, resolveu comprar um Ford 1991, modelo Verona, de seu afilhado, mesmo tendo outro carro seminovo. Agora, ele usa o automóvel mais rodado para trabalhar. “Para passear tenho um novo. Esse virou meu carro de serviço. Como faço alguns trabalhos em obras, não dava para ficar carregando saco de cimento no carro em que uso com a família. Mas tento manter a manutenção em dia para não ter problemas”, afirmou.

Especialistas pedem políticas que visem renovação

O poder público deve pensar em políticas que visem a renovação de frota no Brasil, segundo especialistas. Atualmente, não existe nenhum trabalho nesse sentido. Diferentemente de países mais desenvolvidos, no Brasil, quanto mais velho é o automóvel, mais benefício o dono possui, como isenção do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores).

O especialista em Engenharia de Tráfego Humberto Pullin afirmou que não é contra a venda de carros novos com facilitação das montadoras. Entretanto, defende que não é possível colocar veículos nas ruas continuamente sem tirar os existentes.

“Essa política tem de ser casada com renovação da frota. É discussão antiga, que existe há mais de 20 anos. Nossa ideia era que grandes empreendedores se interessassem em montar desmanches para que o motorista entregasse seu carro que vale R$ 3.000 e ganhasse crédito para ir em uma agência comprar outro zero quilômetro ou com condições de tráfego”, disse Pullin, que foi consultor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).

Ele acredita que o trabalho de renovação poderia ser financeiramente rentável. “Os carros velhos que estão nas ruas poderiam ser desmanchados e as peças levadas para fundição, reutilizando o material. Isso já funciona em muitos países do mundo.”

Para o professor de Engenharia Civil da FEI (Fundação Educacional Inaciana), especializado em Transportes, Creso Peixoto, os políticos devem agir para agilizar o processo de renovação da frota no Brasil. “Como a maioria é irregular, se houvessem blitzes intensas, os veículos antigos poderiam ser retirados da rua imediatamente. Mas não há locais para colocá-los. A lei não permite que, em prazo curto, eles virem sucata. Isso é evidência de que está na hora de o Congresso Nacional discutir lei a favor de um processo rápido para que o carro vá para o compressor se o proprietário não demonstrar interesse breve em pegá-lo de volta”, comentou.  




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