Cultura & Lazer Titulo
Brasil trágico e cômico em peça ágil
Por
21/11/2008 | 07:00
Compartilhar notícia


A julgar pela leitura do texto de Pedro Brício, Cine-Teatro Limite, espetáculo que estréia nesta sexta-feira no Teatro Anchieta, em São Paulo, acrescentará mais uma possibilidade de ver bom teatro para quem optou por ficar na cidade neste fim de semana de feriado prolongado. O público talvez identifique em Brício mais o ator de teatro (A Falta Que nos Move) e o diretor - é sua a direção do solo Acqua Toffana que fez recente temporada na cidade - do que como autor de peças.

A verdade é que só escreveu seu primeiro texto teatral aos 30 anos, mas vem se revelando um dramaturgo talentoso. Depois de ter sido premiada em concurso da Funarte, sua peça A Incrível Confeitaria do Sr. Pellica, ao ser encenada no Rio, lhe rendeu o Prêmio Shell de autor em 2005.

Cine-Teatro Limite vem de bem-sucedida temporada carioca e o contraponto entre o tom fabular e de época - a ação se passa na década de 1940 -, e um jogo cênico ágil e de linguagem extremamente contemporânea tem tudo para agradar também ao público paulista.

É possível dizer que a peça retrata um ritual de passagem da juventude à maturidade de um personagem chamado Sábato. Mas seria simplista. Também seria possível dizer que a temática gira em torno das relações afetivas numa família de classe média - ‘barracos' à mesa, frustrações e traições, rigidez paterna versus proteção materna, choque de temperamentos, cobranças, tudo explorado em diálogos a um só tempo hilariantes e contundentes.

Porém, mais uma vez seria simplista, pois Brício se afasta, e muito, do humor ligeiro da comédia de costumes. E o faz porque ele traz à tona a ambientação social, cultural e política do Brasil sob a ditadura de Getúlio Vargas: as discussões e os problemas da família seriam outros, fosse outro o País. O papel da mulher na sociedade, a repressão política da era Vargas, os movimentos operários e estudantis, tudo isso se emaranha na trama desse texto, que prima pela ‘boa carpintaria', como se dizia antigamente.

Pressionado a trabalhar pelo pai imigrante e jornaleiro, o rapaz sonha escrever o roteiro de um filme para o seu ator preferido - Totorito, claramente um misto dos famosos cômicos Totó e Oscarito. O filme é duplo escape: por um lado, ele recria seus pais, seu irmão e até a empregada no seu roteiro fantasioso, que, por mais que ele tente tornar cômico, ganha ares trágicos.
Esse trânsito, entre real e imaginário, com revezamento de atores e até mudança de estilo de interpretação, por si só rende dinâmico e divertido jogo cênico.

O espetáculo se divide em dois atos, o primeiro predominantemente cômico, porém de um humor de fundo trágico, e o segundo mais dramático, ainda que com toques de humor. "Acho que a primeira idéia que veio foi a de fazer uma comédia que não desse certo", diz Brício. "Também pensei neste Brasil que é sempre cômico e trágico e, nesse sentido, a época de Getúlio é muito rica nesse contraponto entre a guerra e as chanchadas, o teatro-revista e a repressão política."

Cine-Teatro Limite - Teatro. No Sesc Consolação - Rua Dr. Vila Nova, 245, São Paulo, tel.: 3234-3000. 6.ª e sáb., às 21h; dom., às 19 h. Ingr.: R$ 20. Até 14 de dezembro.

 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;