Mesmo com uma possível ‘invasão’ desmentida com veemência pela Casa Branca, Cuba declarou-se preparada para enfrentar uma eventual ofensiva militar dos Estados Unidos, com Raúl Castro "firme na liderança", embora ele ainda não tenha aparecido em público, quatro dias após ter recebido o poder de seu irmão Fidel.

O clima na ilha é de nomalidade, mas ao alegar que Washington poderia se aproveitar da situação, autoridades tomaram medidas militares, reforçaram o controle e a vigilância nos aeroportos e no litoral, e mobilizaram as brigadas e Comitês de Defesa da Revolução.

A imprensa local, controlada pelo Estado, publicou nesta sexta-feira artigos e resenhas sobre Raúl Castro, mensagens com votos pela recuperação de Fidel, e informes sobre atos de reafirmação revolucionária.

"Nós, cubanos, estamos preparados para a defesa, disse Fidel Castro, e aí está Raúl, firme no timão da nação, das Forças Armadas Revolucionárias, que não são mais do que o próprio povo, uniformizado", publicou hoje o jornal oficial "Granma".

Os argumentos oficiais foram reforçados com os chamados de Washington por uma "mudança democrática" na ilha, e do exílio cubano em Miami por levantes internos, protestos e atos de desobediência. "Apoiaremos seus esforços para criar um governo de transição em Cuba, comprometido com a democracia. Tomaremos nota dos que obstruem o desejo de uma Cuba livre do atual regime", destacou Bush, em mensagem ao povo cubano.

Com essa declaração, o presidente rompeu o silêncio sobre a situação na ilha, onde na segunda-feira passada Fidel Castro anunciou a "transferência provisória" de poder ao irmão Raúl, após ser operado do intestino.

Bush lembrou que "ter como vizinha e amiga uma Cuba livre, independente e democrática foi, durante muito tempo, a esperança dos Estados Unidos", disse, referindo-se à pressão feita por seu país, por quase meio século, para derrubar o presidente cubano. "Ao alcançar isso, os cubanos podem contar com um apoio completo e sem condições dos Estados Unidos", completou Bush, garantindo que seu país "está pronto para oferecer a ajuda humanitária necessária ao povo cubano, em caso de transição no governo".

Uma nova mensagem é aguardada. A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, gravará hoje um pronunciamento aos cubanos, que será transmitido pela rádio e televisão Martí, informou o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack.

A chefe da diplomacia americana ainda não falou publicamente sobre a situação em Cuba. Ela co-preside a comissão que coordena um plano preparado desde 2004 pelo governo de Washington para promover uma transição política e econômica na ilha, reforçado em julho passado com uma ajuda de 80 milhões de dólares para a oposição, e outras medidas.

O órgão do PCC (Partido Comunista de Cuba) classificou de inadmissíveis as declarações de Bush, e assinalou que, "diante de tais planos anexionistas, reforçam-se a unidade e força da revolução".

A COCC (Conferência de Bispos Católicos de Cuba) pediu hoje que os fiéis orem para que Deus acompanhe o presidente em sua doença e ilumine seus substitutos provisórios, segundo um comunicado.

O pedido do Comitê Permanente da COCC, que no próximo domingo será lido nos templos da ilha, assinala que "o delicado estado de saúde" de Fidel "representa um momento especialmente significativo" para o povo cubano, e que a Igreja Católica "compartilha dessa preocupação e dos pedidos de todos os fiéis".

Alguns líderes da oposição estimam que o momento deve ser aproveitado para uma transição pacífica, enquanto outros, como Vlamidiro Roca, filho de um dos fundadores do PCC, não vislumbram nenhuma mudança, e temem uma onda de repressão.

Alina Fernández, filha de Fidel, afirmou hoje que seu tio Raúl "não pretende" ser um líder, mas conta com o apoio das Forças Armadas. Visto como um homem pragmático e "forte" como ministro da Defesa das Forças Armadas Revolucionárias, Raúl não apenas continua invisível para os cubanos, mas também é uma incógnita.