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Pandemia dificulta rotina de autistas

Um ano depois dos primeiros casos de Covid-19, a necessidade de distanciamento físico é mais um desafio para pessoas com essa condição

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
02/04/2021 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Entre as muitas dificuldades impostas pela pandemia, a necessidade de se manter distanciamento físico agravou uma das principais condições críticas na vida das pessoas que estão dentro do chamado espectro autista: a socialização, essencial para seu desenvolvimento. Estima-se que de 2% a 3% das pessoas no mundo sejam autistas, transtorno comportamental sem causa definida, com prevalência em indivíduos do sexo masculino. No Grande ABC, estima-se que entre 5.600 e 8.400 pessoas estejam dentro do espectro. Para aumentar a informação sobre o tema, é celebrado hoje o Dia Mundial do Autismo.

O autismo é um transtorno comportamental sem causa definida e ainda sem cura. A neuropediatra Regia Gasparetto explica que os estudos mais recentes estabeleceram relação entre maior prevalência de autismo em filhos de homens com mais de 45 anos, em prematuros e em pessoas com histórico familiar anterior. “Apesar de não haver cura, as terapias e os medicamentos podem melhorar e muito a capacidade de aprendizagem e socialização dessas pessoas”, pontua a médica.

Os efeitos da pandemia entre os autistas, destaca a neuropediatra, foram especialmente na socialização. “Nas crianças menores a gente percebeu, em alguns casos, até uma regressão no comportamento. Já com aqueles acima dos 12 anos, as aulas on-line deixaram o aprendizado, em muitos casos, mais confortável, pelo menor ruído e a menor interação”, relata. A médica alerta que, dentro do possível, as famílias devem continuar os estímulos para as crianças e incluí-las em atividades com pais e irmãos. “A família é o primeiro local de socialização.”

A analista financeira Elisabete Oliveira, 42 anos, de São Bernardo, é mãe de Matheus, 12, diagnosticado com autismo aos 2. “Ele sente muito a falta da escola, dos colegas, porque é nesse momento que ele interage com outras pessoas”, relata. Elisabete afirma que suas únicas interações têm sido com os terapeutas e faz apelo para que todas as escolas, especialmente as que praticam a inclusão (onde alunos neurotípicos convivem com alunos neuroatípicos), sensibilizem os pais. “Existe muito preconceito e nem todo mundo sabe como agir com as crianças autistas”, aponta.

A professora Tatiana de Sousa Alves, moradora da divisa entre São Paulo e São Caetano, tem duas filhas, Laura, 2, e Bárbara, 7. A pequena foi diagnosticada com autismo antes de completar o segundo ano de vida e a mãe destaca a importância do diagnóstico precoce. “A gente notava que ela não olhava no olho, se incomodava com mudanças de rotinas, não brincava com a irmã”, lembrou. A insistência da mãe em procurar profissionais especializados fez com que a filha iniciasse as terapias com 1 ano e 3 meses. “As pessoas precisam de mais informações sobre o autismo, não apenas em abril, mas durante o ano todo. Conscientizar as famílias sobre a importância de procurar um tratamento adequado”, frisa.

Analista do comportamento e diretora da clínica Arte Psico, Thainara Morales ressalta que é importante os pais saberem sobre os marcos do desenvolvimento das crianças, para poder identificar alguma alteração. A diretora explica que é preciso que os cuidadores estejam atentos a sintomas como dificuldade de comunicação ou interação social (em crianças pequenas, elas não estabelecem contato visual durante a amamentação, por exemplo); padrões de movimentos repetitivos ou restritos, interesses fixos, hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como luz e som. Os casos são classificados em uma escala de leve, moderado e severo.




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