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Reichenbach começa filmar 'Aurélia' do ABC
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
25/08/2002 | 18:39
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Uma rua pacata em São Caetano convive há dois meses com a equipe de produção de Aurélia Schwarzenêga, assim como um bilhar em São Bernardo, que recebeu de sexta-feira até domingo o ator Selton Mello para uma das seqüências do longa. Essas são duas das muitas locações escolhidas por Carlos Reichenbach para rodar seu filme no Grande ABC até meados de outubro. O início dos trabalhos foi na quinta (dia 22), na rua Belvedere, uma travessa da Estrada das Lágrimas.

O sobrado escolhido para a locação como casa da protagonista, uma operária de origem negra que namora um rapaz branco contra a vontade da família, tem o aspecto bucólico que o diretor queria, sem modificações, com um alpendre, um lustre do lado de fora e sem garagem na frente. A produção pintou o sobrado e outras três casas para a locação. As cores são vivas, azul, verde, amarelo e vermelho. A dona do sobrado, Raquel Sansão, 32 anos, professora, aguardava a cena ansiosa: “Há dois meses vi um grupo de pessoas olhando a casa e fotografando. Achei que fosse algum partido político procurando lugar para colocar faixa”.

Muitos da equipe já se conheciam e haviam trabalhado com o próprio Carlão em filmes anteriores. O entrosamento é completo, bem como o clima de respeito entre cerca de 40 profissionais. Carlão ouve o diretor de fotografia Jacob Solitrenick e o técnico de som Romeu Quinto, além do diretor de arte Luiz Rossi antes de dizer o que deseja. Só depois de tudo concordado, começam a rodar.

Mas a ação só acontece mesmo após o pedido de silêncio total do diretor de set André Montenegro para os muito curiosos, moradores das imediações, que acompanharam desde a chegada dos caminhões da produção às 17h até o encerramento dos trabalhos, às 4h.

A cena rodada no local é a número 14 e reuniu dois estreantes em cinema: Michelle Valle, carioca, modelo até ser escolhida pela produção, e Fernando Pavão, que foi o professor Guto de Malhação. Eles vivem Aurélia e Fábio, seu jovem namorado e integrante de uma gangue neofascista.

O diretor pede um longo beijo do casal dentro do carro, enquanto a câmera se movimenta em travelling de cima, mostrando a rua ao fundo com movimentação de figurantes locais, para baixo até fechar no casal dentro de um Opala Comodoro, vermelho vivo. Ao beijo, segue uma situação tensa entre os dois: Aurélia desce do carro, bate a porta e caminha nervosamente para sua casa.

Aurélia pergunta a Fábio se ele gostaria de ter um filho. Ele é ríspido. Aponta seu coração – na história ele sofre de uma doença cardíaca hereditária – e indaga se ela gostaria que a criança tivesse a mesma doença. Na cena anterior, ainda a ser rodada, Aurélia e Fábio voltam da represa Billings, depois de uma noite de amor.

Carlão acerta o posicionamento dos atores no carro e explica como quer o tom da discussão. Tudo pronto para a primeira tomada, mas o diretor percebe pelo monitor que o espelho retrovisor está na frente do rosto do ator. Solução 1: abaixar um pouco a posição da câmera, embora isso exigiria tempo para trocar uma peça do tripé. Solução 2 (a utilizada): deslocar um pouco a posição do espelho.

Em outra tomada, Michelle arranha seu braço no portão do sobrado que representa sua casa. Acode a maquiadora para corrigir o problema. Na tomada quatro, Carlão pede que ela caminhe mais depressa até sua casa depois de sair do carro. Na tomada cinco tudo ficaria perfeito, se o pára-sol não abaixasse de repente no rosto do ator quando ela bate a porta do carro. “Estava perfeito. Tinha que cair essa b...”, diz Carlão. A sexta tomada valeu e a cena durou 80 segundos, enquanto todo o trabalho consumiu mais de uma hora.

Na outra cena rodada na rua, a 73, já por volta das 3h de sexta-feira, o repórter investigativo Nelson (Ênio Gonçalves), oferece carona a Aurélia e a deixa em casa após um baile. Na cena ele comenta que o namorado dela anda com gente perigosa – ele faz parte de uma gangue de neofascistas. Foi usado um trilho para um travelling com a câmera até fechar nos dois dentro do Fusca amarelo, enquanto três integrantes da produção empurravam o carro até o ponto marcado para a parada.

Foram oito tomadas. A sétima ficou boa, mas um ônibus passou em uma rua próxima e fez um barulho que incomodou Carlão. A opção foi rodar mais uma. Antes dela, duas foram excluídas porque os empurradores apareceram refletidos na porta do carro e porque o operador de câmera gritou que o “boné do Montenegro” (André Montenegro, diretor de set) apareceu em cena. Carlão entendeu que “a mulher do Montenegro” havia aparecido. Risadas e descontração geral. E é só o começo.




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