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Naná Vasconcelos põe um pé na música eletrônica
Por Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
25/08/2002 | 18:42
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Autodidata, o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos está com CD novo na praça. A novidade de Minha Lôa (Fábrica Discos, R$ 22 em média) não está só no fato do lançamento. Por meio dele, o percussionista embarca, ainda que de maneira não ostensiva, na música eletrônica. O próprio Naná explica o título do álbum: “Lôas são canções de exaltação. Quis exaltar o cenário brasileiro. As composições trazem imagens”.

“Cada disco meu parte de uma idéia diferente. Nesse caso, quis botar um pezinho no eletrônico, trabalhar com programas rítmicos”, afirma. Como resultado, uma integração: “É difícil definir quem sou eu e quem é a máquina”. Percussão rítmica, no caso de Naná, não soa como pleonasmo, já que ele está acostumado ao trabalho de solista. “Procuro tirar sons e não tocar mais alto ou mais rápido”, diz.

Naná é um dos músicos brasileiros mais conhecidos e requisitados no exterior – já gravou com B.B. King, Don Cherry, Jack DeJohnette, Pat Metheny, Paul Simon e Talkin Heads. “Sou reconhecido lá fora porque nunca deixei de ser brasileiro”, afirma. Afoxé, forró e maracatu, então, convivem com o elemento eletrônico com certa harmonia, sem que este anule a brasilidade explícita no trabalho do percussionista.

Futebol (Naná Vasconcelos), por exemplo, reclama a volta do futebol-arte que encantou o planeta: “Não deixe o futebol perder a dança/Nem perca esse sorriso de criança/Não deixe o futebol perder/Passe no peito, jogue de lado/Dê um sorriso e não pise na bola”.

Já Afoxé do Nêgo Véio (Naná Vasconcelos) evoca as festas brasileiras: “Nego véio tomou o seu banho/Ficou perfumado, chamou nega véia/Pra dançar nesse afoxé/Vestiu a camisa vermelha/Lenço amarelado no dorso/Problema pra ele é besteira/Que ele deixou na Maré”.

Em Goreé (Naná Vasconcelos), o percussionista estabelece uma analogia poética entre a música e o povo africano arrastado ao Brasil. “Goreé é uma ilha na costa do Senegal que foi um dos últimos portos de escravos. Já estive lá, sua arquitetura colonial parece com a de Olinda (onde Naná nasceu), com a de Ouro Preto. A música é a travessia, tem imagem e sentimento”.

A semente de Minha Lôa começou a brotar em 1999, quando Naná produziu o CD do Cordel do Fogo Encantado, gravado no Fábrica Estúdios, no Recife. “Gravo idéias aos poucos. Gravava duas músicas e viajava (o percussionista mora nos Estados Unidos). Gravava mais duas, viajava. Como não tinha banda, chamei uma garotada do Recife”, diz. Entre os músicos estão ex-componentes de Sheik Tosado e Jorge Cabeleira.




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