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'Mammal', um drama denso e sombrio no Festival de Gramado
31/08/2016 | 07:00
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Desaconselhado por seu médico, José Mojica Marins, o Zé do Caixão, não veio receber seu prêmio, na noite de terça, 30. Marins foi representado pela filha, que recebeu por ele o Troféu Eduardo Abelin, que leva o nome do pioneiro gaúcho e recompensa uma personalidade, preferencialmente um diretor, que tenha contribuído para o desenvolvimento da arte e da indústria do cinema no País.

A mostra competitiva de longas latinos começou na segunda à noite. Começou desfalcada. Estavam previstos dois filmes - o cubano Espejuelos Oscuros, de Jessica Rodríguez, e o uruguaio Las Toninas Van al Este, de Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta. Houve um problema com a cópia de Las Toninas e o filme foi substituído por Mammal, de Rebecca Daly, que já havia sido apresentado à tarde, em presença da atriz Rachel Griffiths.

Mammal é um drama denso e sombrio que passou no Sundance Festival, no começo do ano. Sua apresentação especial selou a parceria de Gramado com o Sundance Channel, que, como o festival criado por Robert Redford em Utah, visa a trazer ao Brasil o melhor da produção indie, e não apenas dos EUA.

Mammal estreia no canal em novembro e, na sexta, 2, Gramado apresenta outro filme da seleção de Sundance que será exibido na TV brasileira, The Fits, de Anna Rose Holmer. Cabe destacar que Rachel subiu ao palco com Rubens Ewald Filho, da comissão de seleção de Gramado. Rubinho, como é conhecido, disse que a atriz estava muito emocionada com a notícia da morte de um de seus ídolos, Gene Wilder. A plateia permaneceu impassível.

Rubinho exasperou-se - "Gene Wilder! Vamos aplaudir, gente." O aplauso teve de ser arrancado a fórceps, para um artista que, como disse Mel Brooks no Twitter, abençoou tantos filmes (comédias) com sua mágica.

Toda noite o palco do Palácio dos Festivais tem sediado protestos. O alvo preferido é sempre o presidente em exercício, Michel Temer. Na primeira noite da competição, no sábado, 27, a equipe de Black-Out protestou contra uma decisão do governo interino que retira do Incra a atribuição de regularizar as terras dos quilombolas, e o filme trata justamente da defesa do território, do racismo e da invisibilidade especial. Na segunda, o protesto foi de Ingrid, mulher trans que interpreta o longa de Maick Hannder que leva seu nome. Foi uma fala forte, denunciando a violência contra as trans que todo dia alimenta as estatísticas no Brasil. O filme, de apenas sete minutos, constrói-se no discurso de Ingrid, quando ela lembra o tormento que sempre foi ter de cortar os cabelos no barbeiro, quando criança. A vida toda Ingrid nunca se reconheceu no próprio corpo. O cabelo comprido, quando finalmente o deixou crescer, foi o primeiro passo na afirmação da identidade. Toda a construção dramática converge para o plano final - Ingrid, de corpo inteiro, em nu frontal para a câmera, exibe sua ambiguidade. Depois de falar tanto, silenciosa ela se expõe. É como se dissesse - Eis como sou. Vocês vão ter de me aceitar. Ingrid acaba de passar em São Paulo, no Festival de Curtas.

Cuba tem uma tradição de enviar belos filmes a Gramado, desde que o festival se latinizou. Infelizmente, Espejuelos Oscuros não honra essa tradição cubana. O filme é o primeiro de uma jovem diretora que narrou as dificuldades que as mulheres enfrentam na ilha, tão machista. Além da violência de gênero, existe a crise econômica e as mulheres são duplamente penalizadas. Cuba tem produzido pouco, quatro ou cinco filmes por ano, Jessica Rodriguez não tem certeza. Espejuelos é uma produção independente, o que significa que foi feito à margem do Icaic, o instituto cubano de audiovisual. Jessica queixou-se da falta de infraestrutura. "Conseguimos carro para transportar os atores, mas eu ia de ônibus regular para a locação no campo", contou. O filme é uma mistura de Xerazade com Lucía, clássico do cinema cubano, de Humberto Solás. Xerazade é uma referência assumida, Lucía está muito mais no imaginário de quem viu aquela obra-prima. "Oxalá meu filme fosse tão bom", diz Jessica.

Uma mulher, presumivelmente cega, fica à mercê de um fugitivo que invadiu sua casa. Para sobreviver, e como a narradora das 1001 Noites, ela conta histórias. As tramas retrocedem no tempo, sempre abordando a questão da mulher na sociedade de Cuba, em diferentes épocas. Parece interessante, mas decepciona. Por abordar questões pertinentes, foi muito visto, comentado e aplaudido no Festival de Havana. Jessica ainda aguarda pelo lançamento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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