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EUA anunciam queda de Saddam, mas guerra não acabou
Do Diário OnLine
10/04/2003 | 00:52
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Vinte e um dias após o início da guerra no Iraque, o Exército norte-americano anunciou nesta quarta-feira que já controla a maior parte de Bagdá. As tropas da coalizão anglo-americana ocuparam o centro da capital do Iraque e derrubaram uma estátua do ditador Saddam Hussein, sugerindo o fim simbólico do regime iraquiano, no poder há 24 anos. Embora já comemore a queda de Saddam, o governo norte-americano afirma que a campanha militar no Iraque não acabou.

"Não há dúvida de que a guerra não acabou (...).Muita gente ainda vai morrer. Ainda há muito trabalho, teremos dias duros pela frente. (A guerra) pode durar semanas, meses, não dá para prever", afirmou nesta quarta-feira o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld. Por outro lado, o embaixador do Iraque na Organização das Nações Unidas (ONU), Mohammed Aldouri, afirmou que "o jogo acabou" – fazendo referência ao conflito. Para Aldouri, que disse não manter contato com o governo iraquiano, agora as atenções devem se voltar ao auxílio humanitário.

A queda de Saddam - O maior símbolo da derrocada da ditadura iraquiana foi a derrubada de uma estátua gigante de Saddam Hussein na praça Al Ferdaus, no centro de Bagdá. As imagens da demolição ganharam o mundo todo. Em Londres, o primeiro-ministro Tony Blair se disse "encantado" com as cenas da 'queda de Saddam' em Bagdá.

A destruição da estátua de seis metros de altura, em bronze maciço, começou pela iniciativa de alguns populares iraquianos, amparados por soldados e um tanque de guerra americanos. Placas que identificavam o ditador na base da estátua foram arrancadas com as mãos pelos civis. Momentos depois, um iraquiano robusto tentou destruir a base do monumento com uma marreta. Desistiu logo depois, vendo que teria pouco sucesso.

Em seguida, a aglomeração de civis ganhou o reforço de um tanque americano, que invadiu a praça para ajudar na derrubada da estátua. Depois de colocar uma grossa corrente no pescoço da estátua, um soldado americano cobriu a cabeça da imagem com uma bandeira dos EUA – ato que foi reprovado pela platéia. O mesmo militar repetiu o gesto, desta vez com uma bandeira do Iraque pré-ditadura (apenas com as estrelas, sem as inscrições religiosas instituídas por Saddam Hussein). Também foi vaiado. Enfim, a estátua foi ao chão sem bandeira alguma.

Logo que o corpo de bronze caiu, populares iraquianos começaram a pisotear a estátua e golpeá-la com sapatos – ato considerado uma grande ofensa no mundo árabe. As manifestações de raiva dos civis logo foram substituídas por uma dança frenética sobre a imagem caída. Minutos depois, populares saíram pelas ruas do centro Bagdá arrastando a cabeça da estátua.

Era a última estátua inaugurada na cidade, em 28 de abril de 2002, por ocasião dos 65 anos de Saddam.

Horas depois, a Casa Branca anunciou com cautela a queda do regime de Saddam. "O presidente (George W. Bush) diz que há duas notícias. A primeira é ótima: a celebração da queda de Saddam Hussein. A outra, a resistência no norte do país. A guerra não acabou", disse Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca.

Bush, que assistiu às imagens da chegada das tropas à cidade pela televisão, afirmou, por meio do porta-voz, que está satisfeito com o progresso, mas advertiu que as cenas são apenas de uma região de Bagdá e que conflitos continuam em outras partes do país. "Por mais que o presidente esteja satisfeito com o progresso da campanha militar, continua cauteloso porque sabe que há um grande perigo que ainda pode estar à frente", afirmou Fleischer.

Rumsfeld enumerou uma série de missões a serem cumpridas antes que a vitória absoluta seja declarada: assegurar os poços de petróleo; achar armas de destruição em massa; impedir que os líderes iraquianos saiam do país; caçar os esquadrões de extermínio; achar cientistas que conheçam planos químicos do Iraque; localizar documentos da inteligência; trazer líderes do Iraque exilados; achar criminosos de guerra e levá-los à Justiça e estabelecer a democracia no país. A Casa Branca ainda ignora o paradeiro de Saddam, mas, segundo Fleischer, o sucesso da campanha não depende da morte do ditador.

Euforia - Para comemorar o progresso de suas forças, o governo americano se respalda principalmente no apoio demonstrado por populares iraquianos aos militares americanos, embora não tenha sido uma manifestação em massa. A população saiu às ruas para saudar a chegada das tropas, depredar a estátua e destruir fotos e cartazes de Saddam. Muitos civis iraquianos pelo país posam para as câmeras de TVs internacionais com bandeiras dos EUA nas mãos.

O secretário de Defesa comparou a derrocada da estátua à queda do muro de Berlim, em 1989 – paralelo que também foi feito pelo chefe do governo espanhol, José María Aznar, e pelo primeiro-ministro da Polônia, Aleksander Kwasniewski. "As cenas dos iraquianos livres celebrando nas ruas e montando nos tanques de guerra americanos para derrubar as estátuas de Saddam são de prender a respiração", afirmou.

"Saddam Hussein está agora pegando seu lugar adequado ao lado de Hitler (Adolf, austríaco), Stalin (Joseph, soviético), Lenin (Vladimir, soviético) e Ceausescu (Nicolau, romeno) no panteão de ditadores brutais fracassados; e o povo iraquiano está bem em seu caminho para a liberdade", afirmou o secretário americano.

Mas Rumsfeld admitiu que ainda há focos de resistência iraquiana dentro da própria capital e, principalmente, no norte do país, onde ainda há duros combates com o exército regular iraquiano, soldados da Guarda Republicana e paramilitares leais a Saddam.

Resistência - A pouco mais de três quilômetros da celebração na praça Ferdaus, na Universidade de Bagdá, uma coluna de fuzileiros navais americanos foi alvo de fogo inimigo. Segundo a rede norte-americana CNN, o campus da universidade se tornou um campo de batalha entre as forças iraquianas e fuzileiros navais (Marines) da 1ª Divisão. Uma nuvem de fumaça preta se ergueu de vários prédios e disparos atingiram os blindados dos Estados Unidos.

Explosões também foram ouvidas no oeste da cidade e nas proximidades do rio Tigre. Durante a madrugada, as tropas se espalharam pela cidade e populares aproveitaram a falta de poder para saquear prédios públicos e supermercados. Iraquianos invadiram prédios governamentais e levaram móveis, computadores, vasos, tapetes e qualquer coisa que tivesse valor.

A madrugada desta quinta-feira foi silenciosa e relativamente tranqüila em Bagdá. Soldados americanos patrulharam as ruas da cidade, que ficaram completamente desertas ao anoitecer de um dia que foi bastante agitado na região central da capital. O fornecimento de energia elétrica permaneceu interrompido em muitas áreas de Bagdá.

Na região norte do Iraque, entretanto, a madrugada foi mais turbulenta. Aviões da coalizão promoveram pesados ataques contra posições da resistência iraquiana. O norte, onde soldados americanos apóiam guerrilheiros separatistas curdos nos combates contra o Exército de Saddam Hussein, está concentrado o maior núcleo de "hostilidade" do regime.

Com Agências




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