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Família denuncia suposto ato de racismo em shopping

Adolescente negra de 12 anos teria sido acusada de furtar esmaltes em uma loja

Por Aline Melo
do Diário do Grande ABC
19/09/2019 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


A família de uma adolescente negra de 12 anos acusa funcionários da loja Daiso e um segurança do Grand Plaza Shopping, em Santo André, de racismo. O caso foi registrado no 4º DP (bairro Jardim) como calúnia e constrangimento ilegal. Segundo o pai da garota, o funcionário público Luiz Fernando Baltazar, 31, a filha estava na companhia de duas amigas brancas passeando no centro de compras no último sábado. As três entraram na loja, saíram e continuaram andando pelos corredores, quando foram abordadas por um segurança do shopping e um funcionário da loja.

Segundo Baltazar, as três foram levadas de volta à loja pelos dois homens e apenas a filha do reclamante foi acusada de furtar esmaltes. A madrasta da adolescente, a técnica em enfermagem Karen Katharine Santos, 29, fez postagem em sua rede social denunciando o episódio.

“Sem a presença de qualquer dos pais ou responsáveis, as três meninas, assustadas, detidas, minha enteada chorando, foram apresentadas ao ‘responsável’ pela loja”, escreveu.

De acordo com o relato feito por Karen, as garotas – que não tinham mochilas ou bolsas – argumentaram que sequer passaram no corredor de cosméticos e que sua enteada sugeriu que as câmeras de segurança fossem vistoriadas, mas o responsável da loja as teria ignorado. O funcionário teria dito que a menor deixou os produtos em outra loja.

A garota foi levada para casa pelo pai de uma das amigas e contou o que houve. “Fomos duas vezes à loja e um representante disse que não havia mais o que fazer, pois tudo foi resolvido no sábado”, explicou Baltazar. Para o servidor público, está claro o racismo praticado contra a filha. “Meu sentimento é de revolta”, afirmou.

A presidente da comissão de igualdade racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André, Maria Francisca Moreira Zaidan Silva, acompanhou a menor, seu pai e seu avô à delegacia, na tarde de ontem, e afirmou que a situação configura caso de racismo. “Violaram o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), a lei de racismo. Foram cometidos vários crimes e não podemos maquiar, dizer que é injúria, é racismo mesmo”, pontuou. “Precisamos registrar esses casos, ou não teremos nem estatísticas”, concluiu.

Professora e especialista em direito das diversidades, Ingrid Limeira destacou que a situação vivida pelas adolescentes pode caracterizar diferentes crimes, como calúnia, difamação, cárcere privado e denunciação caluniosa. “Segurança de shopping não tem poder de polícia, não pode interrogar ninguém”, afirmou.

Em nota, o Grand Plaza Shopping informou que repudia qualquer tipo de discriminação, que está averiguando os acontecimentos para as devidas providências e que estará à disposição para eventuais esclarecimentos. A Daiso informou que não compactua com qualquer ato discriminatório e/ou preconceituoso, repudia todo e qualquer ato de racismo, que no caso citado não houve qualquer atitude racista e que isso foi esclarecido com o pai da menor envolvida. Leia a íntegra das duas notas abaixo .

Médico foi afastado após injúria racial

Há um mês, o médico do HM (Hospital Municipal) de Diadema Sergio Marciano Leme foi afastado das suas atividades após praticar injúria racial contra a técnica de enfermagem Maria de Lourdes Teodoro dos Santos, 61 anos. Na ocasião, o médico disse para a técnica “essa nega (sic) merece levar 50 chibatadas”, após Maria de Lourdes ter pedido para refazer um formulário. O caso foi registrado no 2° DP (Piraporinha) como injúria racial consumada.

Professora e especialista em direito das diversidades, Ingrid Limeira explicou que, em linhas gerais, o crime de racismo se configura quando a ofensa atinge um grupo em questões de raça, religião, orientação sexual ou gênero. A injúria racial, por sua vez, tem caráter mais personalizado. “Como a ofensa foi ‘essa nega’, especificamente contra ela, é classificado como injúria racial e cabem dois processos. O criminal, porque injúria racial é crime, e o cível, por danos morais, já que foi ferida em sua honra”, pontuou.


LEIA A ÍNTEGRA DAS DUAS NOTAS ENVIADAS PARA O DIÁRIO

Grand Plaza Shopping
“O Grand Plaza Shopping informa que repudia qualquer tipo de discriminação e acrescenta estar averiguando os acontecimentos para as devidas providências, ressaltando, desde já, que estará à disposição das partes envolvidas, bem como das autoridades competentes para cooperar com eventuais esclarecimentos que se façam necessários.”

Daiso
"Cumpre informar que a Daiso não compactua com qualquer ato discriminatório e/ou preconceituoso, repudia todo e qualquer ato de racismo.

No caso em tela não houve qualquer atitude racista por qualquer colaborador da loja e/ou pela própria loja, inclusive tal fato já foi esclarecido em conversa com o pai da menor envolvida.

As 3 (três) menores (com 12 anos aproximadamente) estavam desacompanhadas de qualquer responsável (adulto) no shopping;

A abordagem está sendo apurada pela loja a fim de que sejam constatados se, de fato, houve algum excesso, o que até o momento não foi comprovado, sendo completamente descartada qualquer abordagem de cunho racista.

Infelizmente é comum a existência de furtos em lojas, razão pela qual, sempre que ocorre alguma suspeita, o segurança do shopping é acionado para que, em conjunto com um colaborador verifique e apure o caso com toda a educação, discrição e cuidado e, quando envolve menor, os funcionários estão orientados a acionar os pais e/ou responsáveis. Não havendo a presença de qualquer responsável, a abordagem é imediatamente cessada.

A Daiso não divulgará as imagens, visto que envolve menores e a imagem das menores deve ser preservada. Em sua página no Facebook, a empresa também divulgou uma nota de esclarecimento.

Permanecemos à disposição para quaisquer esclarecimentos complementares."




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