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Eu estava nos Estados Unidos
Por Adriana Mompean
Do Diário do Grande ABC
09/09/2006 | 20:20
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Dois brasileiros que estavam nos Estados Unidos no dia dos atentados relatam, ainda com tristeza, as lembraças da tragédia que marcou para sempre o mundo.

Marcelo Toniolo, 41 anos, está fora do Brasil há oito anos. Na época, morava com a esposa Gayle, 38 anos, na cidade de Greenvale, em Long Island, a 40 km de  Manhattan. Toniolo trabalhava como analista de rede e suporte a usuários e seu escritório ficava na Wall Street, a 500 metros das Torres Gêmeas. No fatídico dia 11, o profissional não foi trabalhar porque tinha sofrido um acidente doméstico. Eram 8h50, quando ele acessava site brasileiros de notícias e a internet parou. Nisso, a esposa ligou e contou que tinha ouvido notícias de um avião que havia se chocado com uma das torres.

Marcelo relembra: “ Liguei a TV que repetia cons-tantemente o que havia acontecido e que mostrou ao vivo o segundo avião explodir contra a torre. Logo depois, a TV alertava que uma aeronave havia se chocado contra o prédio do Pentágono e outra havcaído na zona rural da Pensilvania. Assisti TV durante horas, sem saber o que fazer ou dizer, e até pensando que era um filme sendo rodado. Algo fora da realidade.

Não pude deixar de chorar quando vi as torres caindo e imaginando o desespero das pessoas que estavam em seu interior e quantas delas eu

conhecia pessoalmente. Saí de casa às 15h para ver como estavam as coisas. As rodovias foram bloqueadas. Vários helicópteros passavam sobre a minha residência em direção a Manhattan. E depois, um caça da força aérea começou a sobrevoar a região de Nova York, fato que se prolongou por seis meses diariamente, 24 horas por dia. Os dias seguintes foram muito difíceis. Só uma semana depois a energia elétrica, telecomunicações e transportes foram restaurados e então pude voltar ao trabalho. Viajando pelo metrô, à medida em que nos aproximamos do Marco Zero, o odor de borracha e plástico queimados ficava quase insuportável. Dava para perceber a expressão de pavor em todos que estavam no trem. Havia o receio de que os terroristas colocassem bombas no metrô.

Parei na estação Fulton Street e andei até a Broadway onde vi o que tinha sobrado das torres. Ainda havia muita fumaça e o local estava repleto de vistantes. 

Na empresa, embora todos estivessem bem e salvos, o clima era de tristeza geral e ninguém conseguia trabalhar. Muita gente chorava e contava sobre parentes e amigos que faleceram no desabamento das torres. Creio que só após uns três meses as pessoas começaram assimilar a situação. O sistema de transporte funcionou de forma precária por um ano, o que nos fazia lembrar dos ataques diariamente. Felizmente, minha esposa trabalhava num shopping perto de casa e não pegava metrô. Ma ela ficou também muito chocada. Não perdi amigos no desastre, porém, nunca mais vi certas pessoas que diariamente encontrava no metrô. Não sei se apenas mudaram de emprego ou se infelizmente estavam entre os mais de 3 mil mortos no colapso das torres”

A família Toniolo saiu dos Estados Unidos em março de 2003 e foi para  Auckland, na Nova Zelândia. Atualmente, Marcelo trabalha na DHL como executivo de Comércio Eletrônico.

Toniolo conta que a ligação com o Grande ABC se dá por  ele ter  trabalhado  em empresas do Pólo de Capuava, e pelos amigos que continuam morando na região até hoje. “Há muitos anos tenho o Diário do Grande ABC como umas das minhas principais fontes de notícias  pela internet. Eu leio diariamente, gosto do formato das notícias, da qualidade do material, do teor informativo”, finaliza.

Já o engenheiro industrial mecânico Luciano Federico Barbosa era gerente de Projetos Industriais da CompuVac Systems Inc. Ele e a família moravam em Sarasota, Flórida, cidade em que o presidente Bush se encontrava naquele 11 de setembro em visita a uma escola infantil. A esposa Dalva e a filha Tatiana estavam em casa e a filha mais velha, Mariana, na escola.

Barbosa conta: " O presidente Bush foi levado para o Air Force One e deixou rapidamente a cidade para algum lugar não divulgado. Eu, naquele dia e hora, estava na internet e falei para os colegas de trabalho que a Twin Towers fora atingida.

Eles não levaram a sério. Quando avisei sobre o segundo ataque, a empresa parou para ver o noticiário na TV. Os pais saíram imediatamente para retirar as crianças da escola. Houve um movimento intenso de soldados nas cidades vizinhas. Lembro que parte dos terroristas era dessa região (Sarasota, Naples e Venice).  Num primeiro momento, todos queriam entender o que ocorreu. Depois ficou um clima muito triste e uma revolta cega, pois não sabíamos quem era o inimigo. A nação ficou mais solidária, mas o orgulho foi ferido pois todos achavam que os EUA eram um território seguro e intocável. 

Com o impacto psicológico, percebemos que catástrofes acontecem, somos frágeis. Observamos que a máquina de guerra americana não é ficção, é realidade. Logo após os atentados, muitas empresas ficaram com problemas financeiros. Nosso principais clientes cancelaram os projetos em andamento. E a empresa em que trabalhava decretou falência um ano depois. Muitas outras não se reergueram após o choque econômico que o ataque causou.

A vida mudou muito nos EUA. Retornamos ao Brasil após seis meses. Em 2004, voltei para fazer um projeto de três meses e notei que as empresas ainda estavam instáveis, a economia se recuperava numa velocidade muito lenta"

Hoje Luciano mora com a família em Santo André e é diretor industrial da Flexflor do Brasil.  (Colaborou Marisa Marega)



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