Cultura & Lazer Titulo
Consumida pela maldade
Por Mariana Trigo
Da TV Press
02/09/2006 | 18:23
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Carolina Dieckmann, 27 anos, precisou de apenas alguns dias para “encaixar as peças” de Leona. Na garras da vilã de Cobras & Lagartos, na Globo, a atriz praticamente montou um quebra-cabeças. As principais peças eram unhas vermelhas, cabelo platinado, figurino abusado e uma audaciosa dose de irreverência. Para completar, além do visual descolado, muita malícia e uma generosa braçada de inconseqüência recheiam a primeira vilã da trajetória da carioca. “Nesse momento da minha carreira, nada foi melhor do que uma vilã. O problema é que ela me deixa exausta, me suga. Sou um trapo de mulher depois de gravar as cenas da Leona”, confessa.

PERGUNTA – Em 13 anos de carreira você fez dez mocinhas e essa é sua primeira vilã. Como tem sido a experiência de fazer uma malvada?
CAROLINA DIECKMANN – Eu nunca tive vontade de fazer uma vilã, mas de diferenciar minhas mocinhas. Achava isso o mais difícil. A mocinha é muito mais complicada de fazer. A Leona é uma delícia porque ela me permite tudo, é um universo muito engraçado. Concordo que ela tem todos os adjetivos e predicados de uma verdadeira vilã. Além de agir com maldade, a Leona chega a rir das coisas que faz porque é muito irresponsável. Ela não se diverte com a maldade, mas com a irresponsabilidade. Claro que antes da novela estrear, tive muito medo porque tirei tudo de dentro de mim, não me inspirei em nada. Estou acostumada a tirar de mim elementos para compor uma mocinha. Por isso tive muito medo que as pessoas não a odiassem. Mas ela é uma vilã leve pela inconseqüência.

PERGUNTA – Essa leveza dificulta? Dá mais trabalho deixá-la crível?
CAROLINA – É muito mais difícil. Isso a deixa mais rica porque ela fica mais contraditória, com muitas nuances. Ela é muito intensa. Quando ela sofre é de verdade, quando está feliz, está radiante. Ao mesmo tempo que é dita por mim com leveza, ela é pintada com cores muito fortes. Não é uma personagem serelepe. Ela é intensa. Eu merecia uma personagem assim.

PERGUNTA – Merecia?
CAROLINA – Acho que sim. Ela é muito coerente com a minha entrega. Eu sou uma atriz de televisão. Sempre gosto de frisar isso. Minha carreira é aqui. Sou contratada pela Globo. Faço outros trabalhos em intervalos de novelas, durante as minhas férias. Mas é de fazer novelas que eu vivo. Comecei aqui. Sou uma atriz muito entregue. Gosto do dia-a-dia, da rotina do folhetim. Fico feliz, mas esse reconhecimento não me surpreende, tipo “Nossa! Que bom que valorizam meu trabalho!”. Acho que eles merecem a minha entrega também.

PERGUNTA – Por ter crescido fazendo TV, em algum momento você sentiu falta do teatro ou de cursos de interpretação para se aprimorar como atriz?
CAROLINA – Poucas pessoas são formadas na TV, como a Glória Pires. Você conta nos dedos atores que priorizam a televisão. Minha carreira é realmente peculiar porque não é comum começar na TV. O normal é fazer cursos, peças. Nunca fiz um curso de interpretação. Não vou lhe dizer que o teatro não me fez falta porque eu não tenho capacidade de medir isso. Mas hoje assumo que nenhum curso de interpretação me faz falta. O que me ensinariam em três meses eu aprendi em 13 anos aqui dentro.

PERGUNTA – Mas você estreou como atriz muito por acaso em Sex Appeal. Já pensou em desistir de ser atriz, fazer alguma faculdade?
CAROLINA – Eu estava em Búzios quando fui chamada para fotografar para uma agência de modelos. Cheguei ao Rio descascando, como toda adolescente, e fui para a agência. Lá a responsável disse que eu era uma graça, mas muito baixinha. Me deu um teste para ir e disse que não era fácil de passar. Dei de cara com várias modelos com empresários. Um fotógrafo fez uma foto minha e eu consegui o trabalho, que foi uma mega campanha publicitária da Rádio Cidade. Era uma grana! Uma campanha gigante, outdoors pela cidade inteira com a minha cara. Em seguida fui chamada para fazer o teste de Sex Appeal e passei para ser uma das protagonistas. Fui na brincadeira, mas com responsabilidade. Sempre tive disciplina, mas ia vendo no que ia rolar.

PERGUNTA – Quando realmente teve certeza de que seguiria esta carreira?
CAROLINA – Depois que eu tive filho (Davi, 7 anos, do casamento com o ator Marcos Frota), fui chamada para fazer a Camila em Laços de Família, que foi um marco da minha carreira. Naquele momento, fiquei em dúvida. Pensei: ‘E agora? Preciso realmente saber se quero essa profissão para dizer o que sou para o meu filho’. Viver essa personagem com leucemia foi crucial para que eu me enxergasse, de fato, como atriz. Eu sentia necessidade de ter uma decisão dentro de mim. Tudo tinha acontecido na minha vida por acaso e, naquele momento, eu precisava de certezas. Até ter interpretado a Camila eu ainda não sabia o que queria fazer da vida, se faria uma faculdade. Eu não questionava. Com a Camila descobri que eu era atriz de verdade.

PERGUNTA – Foi a personagem que mais te exigiu como atriz?
CAROLINA – Sem dúvida. Me exigiu profissionalmente, fisicamente e emocionalmente. Foi pesado. Sofri muito, raspei a cabeça, nasci de novo ali. Foi intimamente uma prova. Foi esse o trabalho que me provou que eu era uma atriz. Foi a personagem mais importante da minha carreira porque eu fiz com a total consciência que ali eu realmente não tinha volta, não podia ser outra coisa. Teve um peso muito íntimo. Mas ela não foi o papel que eu mais gostei. Personagem é como filho, a gente gosta de todos, cada um representa um momento da sua vida.

PERGUNTA – Mas o Manoel Carlos foi o autor com quem você mais trabalhou. Que peso ele tem na sua carreira?

CAROLINA – Fui fazer Por Amor porque o diretor Paulo Ubiratan me chamou. No último capítulo da novela, minha personagem tinha de falar que estava grávida do personagem do Murilo Benício. Mas eu tinha acabado de perder um bebê num aborto. Liguei para o Maneco e disse que eu não estava bem para fazer a cena: “Maneco, fiz uma curetagem ontem, à meia-noite. Não vou conseguir dizer que estou grávida e feliz”. Ele me mandou uma carta me reservando para eu fazer sua próxima novela com a Vera Fischer, Laços de Família. Também tive muitos frissons fazendo novelas do Lombardi. Recebia um capítulo às duas da manhã dizendo que no dia seguinte eu ia me jogar de um penhasco. Não tinha dublê, me jogava de prédios. Cada autor traz um pouquinho de loucura.

PERGUNTA – Dentro dessas loucuras, você fez personagens fortes como a Camila, a Lindalva, uma nordestina sofrida, e a Leona. O astral dessas mulheres interfere em sua vida de alguma forma?
CAROLINA – Me entrego de verdade, de uma forma intensa e, por isso, elas me influenciam. A Leona me deixa muito cansada. Tenho pena do Davi e do Thiago, que têm tido um trapo de mulher em casa. Quando não fico cansada, fico quieta, sinto muita necessidade de ficar reclusa, fechadinha. Ela me expõe demais, em todos os sentidos. Ela é má, sexual, vaidosa. Virar um furacão em cena exige muito de mim, sem exagero. Quando eu saio daqui quero ir para minha casa toda branca e ficar quietinha e sozinha. Ela rouba muito de mim em cena.



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