Setecidades Titulo Córregos
Grande ABC gasta R$ 88 mi para canalizar seis córregos

Valor é equivalente a R$ 10,23 milhões por cada quilômetro
retificado; há obras em Sto.André, S.Bernardo e Diadema

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
05/12/2010 | 07:00
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O Grande ABC investe R$ 88 milhões para canalizar seis córregos, que, juntos, somam 8,6 quilômetros de trajeto. O valor representa o montante de R$ 10,23 milhões por quilômetro canalizado. As obras são feitas em Santo André, São Bernardo e Diadema (veja quadro ao lado). A Prefeitura de Ribeirão Pires não informou se realiza intervenções.

Segundo especialistas ouvidos pelo Diário, as modificações nos córregos podem evitar enchentes no local onde a obra for feita. No entanto, as consequências negativas são observadas em regiões de baixada, onde os cursos d'água desembocam. O processo de canalização é feito quando estruturas de alvenaria são colocadas nas margens e no fundo dos canais.

A professora Maria Glória da Silva Castro, coordenadora do curso de Geografia da Fundação Santo André, explica que a retificação faz com que a velocidade e o volume da água aumentem, ampliando o risco de enchentes nas áreas baixas. "Com o trajeto retilíneo, a água passa mais rápido. É mais água correndo em menos espaço. Isso faz com que seja reduzido o tempo em que ela passaria se o córrego não tivesse sido modificado."

O mestre em Engenharia Hidráulica Jorge Giroldo, professor do curso de Engenharia Civil da FEI (Fundação Educacional Inaciana), defende que os municípios tenham plano integrado para córregos. O objetivo é evitar que as canalizações prejudiquem cidades vizinhas.

"Se canalizar todos os córregos de Mauá, vai implicar em mais rápida inundação do Rio Tamanduateí, em Santo André. Se canalizar todos em Santo André e São Caetano, acelera a inundação nas baixadas do Tietê", exemplifica o professor.

TAMPONAMENTO - Uma das modalidades de canalização já utilizadas no Grande ABC é o chamado tamponamento - também conhecido como sepultamento do córrego. O procedimento foi adotado em parte do Ribeirão dos Meninos, onde hoje passa a Avenida Faria Lima, em São Bernardo.

No entanto, o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), responsável por autorizar as obras, informa que, atualmente, não são permitidos ‘sepultamentos'. "É vedada a execução de canalizações fechadas, exceto em casos de interesse público e social e com manifestação expressa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente", informa.

PROCEDIMENTO - Segundo Giroldo, o primeiro passo para a canalização de um córrego é a realização de estudo para saber o volume das chuvas e os níveis de água observados no curso durante os últimos 25 anos. "Após esta análise, será possível definir a largura e a profundidade."

Na sequência, inicia-se o processo de retificação das margens. As paredes podem ser verticais ou diagonais, dependendo do espaço disponível e do volume de água.

MODIFICAÇÕES - O Grande ABC está incluso na bacia do Rio Tamanduateí. A professora Izabel Cristina Moroz, que apresentou tese de doutorado sobre a bacia, informa que a rede hidrográfica possuía, originalmente, 701,5 quilômetros de extensão. Hoje, o tamanho total é de 650,8 quilômetros - redução de 7,2%. Foram retificados 64,7 quilômetros de cursos fluviais, o que representa 13% do total.

Moradores têm esperanças com obras

A canalização é vista de forma otimista pelas famílias que vivem em áreas com risco de enchentes. Para os moradores, a obra é uma esperança de que o medo das chuvas se transforme em passado. A reportagem do Diário acompanhou as intervenções nos córregos Taióca, em Santo André, e Alvarenga, em São Bernardo.

Na Rua Humberto Dotto, no Jardim Telma, é comum ver barreiras de até 1,5m antes dos portões. A via beira o trecho já canalizado do Córrego Alvarenga. "A enchente sempre foi um problema aqui. Já perdi móveis e eletrodomésticos antes de colocar a comporta", revela a dona de casa Diva Mosqueto, 53 anos.

A moradora afirma que, mesmo após a obra, o canal transbordou uma vez, o que forçou a Prefeitura a aumentar o muro que margeia o curso d'água. Desde então, diz a moradora, não houve mais alagamentos. Apesar de otimista, Diva ainda se mostra receosa. "Ainda não dá para saber, vamos ver quando começarem as chuvas fortes."

"Tomara que, se der enchente, pelo menos a água não suba tanto", comenta o mecânico André Luiz Castro, 33. "A esperança é a última que morre."

No início da Avenida José Fernando Medina Braga, no Jardim Oriental, próximo à divisa com São Bernardo, o Taióca ainda não foi canalizado. A dona de casa Vera Lúcia Moura, 57, acredita que a região será beneficiada após a conclusão da obra. Já o funileiro Maurício Garcia, 33, protesta contra a demora na finalização. "Isso não acaba nunca. Faz uns três anos que está assim", reclama.

O trecho mais alto do córrego, localizado próximo à Avenida Brasília, já passou pelas intervenções. A Prefeitura fará uma avenida marginal com ciclovia e o prazo para conclusão das obras é até junho de 2011.




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