Política Titulo Ex-presidente na cadeia
'Se soubesse, teria dito para Lula não se entregar', diz líder sindical

Prisão do ex-presidente completa um ano; metalúrgico afirma que petista sofre perseguição

Junior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
07/04/2019 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Há exato um ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se rendia à decisão da Justiça e, após horas aquartelado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, se entregava à PF (Polícia Federal) para cumprir pena de 12 anos e um mês de prisão no âmbito da Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.

Desde a decretação da prisão de Lula, na noite do dia 5 de abril, uma quinta-feira, até o momento em que o ex-presidente deixou o Grande ABC rumo à cadeia, na noite de sábado, dia 7, passaram-se quase 50 horas. Foi o período que a defesa do ex-presidente levou para tentar evitar a detenção nos tribunais superiores e que, diante das derrotas, negociasse a rendição do petista.

Nessas duas noites e dois dias, o prédio do sindicato que formou politicamente o ex-presidente virou a casa de Lula e abrigou centenas de militantes do PT e simpatizantes do petista, que protestavam contra a decisão. Em meio às manifestações, uma ideia defendida publicamente era a de que o ex-presidente resistisse à prisão.

Não foi o que ocorreu, mas passado um ano do episódio, o sentimento de figuras que testemunharam os fatos é o de que a escolha deveria ter sido justamente a desobediência. “Se eu acreditasse, naquele dia, que Lula sofreria as injustiças que ele vem sofrendo neste instante por parte do Judiciário teria defendido que ele não se entregasse”, revelou o atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Wagner Santana, o Wagnão, ao citar episódios como o fato de a Justiça, em primeiro grau, impedir Lula de ir ao enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, que morreu em janeiro vítima de câncer. Foi Wagnão quem ofereceu abrigo a Lula nas horas que antecederam à prisão. 

Ao Diário, o líder sindical reproduz a narrativa de que Lula é um preso político e que sua detenção tinha “a intenção de tirá-lo do processo eleitoral” de 2018, vencida por Jair Bolsonaro (PSL). “Para nós, Lula é preso político, refém de um Judiciário que optou por um lado e por exercer, por meio dos tribunais, uma intervenção política no País”, avaliou.

Para Wagnão, mesmo passada a corrida presidencial, Lula só não foi solto em decorrência da fragilidade do governo de direita. “Enquanto o Brasil estiver numa situação de política instável, enquanto não houver um governo que consiga se firmar, Lula continuará sendo ameaça constante. Se (a gestão Bolsonaro) não fosse um governo tão fragilizado, tão incompetente, acredito que haveria boa vontade para soltá-lo”.

Autor da referida sentença em primeiro grau e hoje ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Sérgio Moro refuta o discurso de perseguição a Lula. “Essa alegação de que a Justiça foi parcial nesses casos ignora que por desdobramentos da Lava Jato vários outros personagens políticos da oposição também respondem a investigações e acusações sérias perante outros fóruns”, disse o ex-magistrado, em entrevista recente à TV Bandeirantes.

Moro vira ministro e petista sofre nova condenação

A derrota do PT nas eleições de 2018, depois de quatro vitórias consecutivas nas urnas, não foi o único fato que marcou o primeiro ano da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo dentro da cadeia, em Curitiba (Paraná), Lula foi registrado em agosto como candidato a presidente, mas após ser barrado pela Justiça Eleitoral, abençoou o plano B do PT e lançou o ex-prefeito da Capital Fernando Haddad na condição de substituto. O petista, que revezou agendas de campanha com visitas semanais a Lula na cadeia, foi ao segundo turno, porém, saiu derrotado por Jair Bolsonaro (PSL), que em setembro havia sofrido atentado, com uma facada na barriga, durante ato de campanha em Juiz de Fora (Minas Gerais).

Diante da vitória, o então juiz Sérgio Moro, responsável pela condenação de Lula em primeira instância, recuou da promessa de não entrar na política e aceitou convite de Bolsonaro para ser ministro da Justiça e Segurança Pública.

Em fevereiro, contudo, novo revés para Lula nos tribunais. Substituta de Moro, a juíza Gabriela Hardt condenou o ex-presidente novamente: 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia.

No início de março, Lula enfrenta mais um drama pessoal de dentro da prisão. Dois meses após a morte do irmão Vavá, morre um dos netos do petista, Arthur Araújo Lula da Silva, 7 anos, vítima de infecção generalizada. Diferentemente do veto ao velório do irmão, o ex-presidente foi autorizado a deixar temporariamente a prisão para se despedir do neto, em São Bernardo. Foi a primeira e única vez que Lula deixou a cadeia e apareceu em público.

Nesta semana, nova derrota de Lula, desta vez indireta. Presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli tirou da pauta de julgamento a possibilidade de revisão da prisão em segunda instância. O ex-presidente aguarda, agora, recurso contra a condenação do triplex no STJ (Superior Tribunal de Justiça)




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