Setecidades Titulo Educação
Metade dos estudantes do
Ensino Médio estuda à noite

São 51,6 mil alunos em salas de aula no período noturno; a
carga horária menor e o cansaço são prejuízos aos alunos

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
23/07/2012 | 07:00
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O Grande ABC tem 99.692 alunos matriculados no Ensino Médio da Rede Estadual, sendo que a metade estuda à noite. São cerca de 51,6 mil jovens em salas de aula depois que escurece. O número é visto por especialistas e representantes das Apeoesps (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) como resultado da necessidade de adolescentes das cidades mais carentes trabalhar e consequência da expansão do Ensino Fundamental, que ocupa a maior parte das salas de aula das unidades de ensino durante o dia.

A média de estudantes no período noturno é mais alta entre as cidades com maior vulnerabilidade social como é o caso de Diadema, onde 13,3 mil alunos do Ensino Médio estadual frequentam aulas à noite, enquanto 4,2 mil estão matriculados de manhã e 667 à tarde. A situação é semelhante em Mauá e em Rio Grande da Serra, cidades que também registram maioria dos jovens à noite. No lado oposto a esta realidade está Ribeirão Pires, que tem apenas 854 estudantes no ensino noturno contra 3,6 mil de manhã e 36 à tarde.

De acordo com a professora do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Metodista de São Paulo, Maria Leila Alves, a história da expansão do ensino mostra que a luta pela aula noturna parte dos estudantes trabalhadores.

Ainda que os jovens não tenham emprego formal, a atividade remunerada é necessária para complementar a renda familiar nas cidades carentes. O ideal, de acordo com o coordenador da subsede da Apeoesp em Santo André, Alexandre Ferraz, seria a implantação de lei que determinasse trabalho de apenas meio período, para não trazer perdas ao aprendizado do aluno.

Na visão da coordenadora da subsede da Apeoesp em Mauá, Rita de Cassia Cardoso, a alta demanda de alunos no Ensino Fundamental não dá espaço para o Ensino Médio diurno. No entanto, nas cidades maiores e com menor demanda o Ensino Médio durante o dia já é realidade, o que significa vantagem para estudantes, segundo ela.

PREJUÍZOS
A Secretaria Estadual de Educação informou que o Ensino Médio noturno ganhou, a partir deste ano, uma aula a mais de filosofia, duas a mais de sociologia e uma aula de língua estrangeira. Entretanto, especialistas afirmam que há prejuízos para aqueles que se submetem ao estudo noturno. Entre os principais problemas, está a diminuição da carga horária de aulas (30 horas/aula pela manhã e 25 horas/aula à noite) e o cansaço.

Exemplo disso pode ser observado no Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) do Ensino Médio, cuja média caiu de 1,81 para 1,78 na região em 2011. Foram avaliadas 214 escolas nesta faixa escolar, sendo que 72% das unidades não alcançaram a meta traçada. O indicador atribui conceito de zero a 10 às unidades de ensino, e se baseia em critérios como as notas obtidas pelos alunos no Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar) - que mede conhecimentos em Português e Matemática - e aspectos como frequência e evasão.


Jovens conciliam trabalho e estudo

Depois de dia intenso de trabalho, vem o estudo. Essa é a rotina diária da auxiliar administrativa, Thainá Souza de Lima, 16 anos. Desde o ano passado a estudante do segundo ano do Ensino Médio da EE Professor José Brancaglione, na Vila Suiça, em Santo André, passou para o período noturno.

Se não fosse a necessidade de trabalhar, a jovem garante que preferiria estudar pela manhã. “À noite não temos intervalo entre as cinco aulas, então é mais cansativo”, destaca Thainá. A sorte dela é a possibilidade de descansar por uma hora ao chegar do trabalho e antes de ir para a aula.

Para a estudante, não há diferença gritante entre o aprendizado diurno e noturno, tendo em vista que a apostila dos alunos e os professores são os mesmos.

Em contrapartida, o auxiliar de serralheiro, Diego da Silva Lima, 16, revela que não gostaria de estudar de manhã mesmo que não trabalhasse. “Não gosto de acordar cedo”, destaca o aluno do primeiro ano do Ensino Médio da EE Professor José Carlos Antunes, na Vila Luzita.

Apesar de gostar de estudar à noite, Diego assume que o cansaço após um dia inteiro de trabalho atrapalha. “Às vezes cochilo na aula”, confessa. Outro problema é a falta de tempo para fazer os trabalhos extraclasse com dedicação necessária, além da diferença no rendimento dos professores, que também já estão desgastados no fim do dia.




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