Depois de dez anos no poder, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha Tony Blair anunciou nesta quinta-feira que deixará o cargo no dia 27 de junho, em um discurso em Trimdon, em seu distrito eleitoral de Sedgefield (nordeste da Inglaterra), onde teve início sua vertiginosa carreira.

"Deixarei o cargo de primeiro-ministro em 27 de junho", declarou Blair no clube trabalhista de Trimdon, onde lançou a campanha pela liderança trabalhista em junho de 1994.

"Tenho sido primeiro-ministro deste país por algo mais de 10 anos. Neste cargo, no mundo atual, acredito que é tempo suficiente para mim, mas especialmente para o país", declarou Blair, que no início do discurso homenageou a esposa Cherie, que qualificou de "excepcional amiga e companheira".

"Retornei aqui, a Sedgefield, minha circunscrição, onde começou minha viagem política e, onde eu penso, que é conveniente que termine", declarou Blair.

O anúncio acabou com meses de incerteza e abriu o caminho para a batalha pela liderança do Partido Trabalhista, que todos os analistas apostam que será vencida pelo ministro das Finanças, Gordon Brown.

Antes do anúncio oficial, Blair informou ao gabinete a intenção de abandonar a chefia de Governo em uma breve reunião em Downing Street.

Em seguida, o premiê viajou de avião para Trimdon, em seu distrito eleitoral de Sedgefield, onde foi eleito deputado aos 30 anos, em 1983, no início de uma trajetória que o levou ao número 10 de Downing Street, sede do governo britânico, no dia 2 de maio de 1997.

A pequena cidade de Trimdon foi tomada por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas do mundo inteiro, além dos habitantes da localidade que queriam ouvir o histórico anúncio.

Futuro - Apesar de vários trabalhistas terem anunciado a intenção de concorrer ao cargo deixado vago por Blair - entre eles John McDonnel e Michael Meacher, da ala mais à esquerda do trabalhismo -, existe a quase certeza de que Gordon Brown será o próximo líder do Partido Trabalhista e futuro primeiro-ministro do Reino Unido.

Brown deve lançar sua candidatura à sucessão de Blair na sexta-feira. Para isto, precisa do apoio de 44 deputados.

Ao obter a liderança do Partido Trabalhista, Brown se converterá em primeiro-ministro automaticamente, até as próximas eleições gerais, que devem acontecer em 2009 ou 2010.

"Atualmente existem 600 mil postos vagos na economia. Na realidade, agora há um a mais, depois do anúncio recente", brincou um sorridente Gordon Brown esta quinta-feira no Parlamento.

A única dúvida que resta é quem será o sucessor do vice-premiê John Prescott, que deixará o governo ao mesmo tempo em que Blair.

Ao fim do processo, o partido governante anunciará o nome do substituto de Blair, que entregará oficialmente seu cargo à rainha Elizabeth II, que convidará depois seu substituto a formar o gabinete.

Apesar do governo Blair ter obtido um inquestionável sucesso na área econômica e ter proporcionado o processo de paz na Irlanda do Norte, sua saída do poder será acompanhada de poucos aplausos, principalmente pela decisão de apoiar os Estados Unidos na invasão do Iraque.

Independente de tudo isto, Blair transformou o país e marcou fortemente os britânicos.

Uma pesquisa publicada na edição desta quinta-feira do jornal The Guardian mostra que 60% dos britânicos consideram que Blair foi uma força de mudança na Grã-Bretanha. Em outro tópico, 44% acreditam que suas ações beneficiaram o país, apesar do Iraque.