Cultura & Lazer Titulo Estatueta
Indústria Americana desbanca Democracia em Vertigem

Filme norte-americano que retrata chegada de empresário chinês aos EUA bate documentário brasileiro e ganha como melhor documentário

Evaldo Novelini
Do Diário do Grande ABC
10/02/2020 | 02:21
Compartilhar notícia
Reprodução


E o Oscar... ainda não veio para o Brasil. Produzido pela Higher Ground Productions, do Barack e Michelle Obama, Indústria Americana confirmou o favoritismo e venceu ontem à noite o Oscar de melhor documentário, desbancando o brasileiro Democracia em Vertigem, na 92ª edição da festa do cinema norte-americano. O anúncio foi feito pelo ator Mark Ruffalo.

O longa-metragem vencedor, dirigido por Steven Bognar e Julia Reichert, acompanha o impacto causado pela chegada da fabricante de vidros automotivos chinesa Fuyao à cidade de Dayton, no Estado de Ohio, para ocupar instalações de antiga planta da General Motors, que sucumbira à crise econômica de 2008.

A entrada dos chineses, vista com entusiasmo por ex-funcionários da GM, por representar a chance de retornar ao mercado formal, aos poucos vai perdendo o encanto. A começar pela diferença salarial. A hora trabalhada caiu de US$ 29 (R$ 125,28 na cotação de sexta-feira) para US$ 12,84 (R$ 55,46). Os novos proprietários do negócio também promoveram ampla perseguição a funcionários favoráveis à presença do sindicato na empresa, o que incluiu demissões.

Já o documentário de Petra Costa mostra o olhar pessoal da diretora sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), ocorrido em 31 de agosto de 2016, e a consequente polarização política do País. Muitas das cenas do filme foram gravadas no Grande ABC, onde um dos protagonistas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do mesmo partido, mora.

Tido como parcial, por supostamente minimizar o envolvimento de petistas nos escândalos de corrupção, o filme foi criticado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que o chamou de “porcaria”. “Para quem gosta do que o urubu come, é um bom filme”, disse, em entrevista coletiva, embora tenha dito que não assistiu ao longa-metragem. O PSDB, em mensagem no Twitter, classificou a obra como “melhor filme de ficção e fantasia”.

Entre as cenas do documentário escolhidas pelos organizadores para serem exibidas pelo telão ontem à noite, na cerimônia realizada no Teatro Dolby, na cidade de Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos, estava exatamente a que aparece o fotógrafo do Diário Nario Barbosa. (Leia mais na reportagem abaixo)

PROTESTO
Ao pisar no tapete vermelho do Teatro Dolby, vestindo um longo vermelho, Petra Costa lembrou da demora na investigação do assassinato da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018. “Quem mandou matar Marielle (Franco)?”, questionava cartaz empunhado pela diretora. Ela estava acompanhada da líder indígena Sonia Guajajara, que denunciou o desmatamento ilegal da Amazônia.

Fotógrafo do Diário torceu muito: ‘Marco na história do Brasil’

O fotógrafo do Diário Nario Barbosa, 52 anos, curtia as férias de 2019, na capital de seu Sergipe natal, Aracaju, quando ouviu um toque discreto no celular. Era comecinho da noite de 1º de julho e ele ficou surpreso com o teor da mensagem que acabara de chegar via WhatsApp. Um colega o reconhecera em uma das cenas de Democracia em Vertigem, documentário a que acabara de assistir na Netflix.

“Nem sabia que estava neste filme”, conta Nario, que assistiu ao longa-metragem dirigido pela cineasta mineira Petra Costa, 36 anos, na primeira oportunidade. Reconheceu-se na tela. Câmera em punho, ele aparece em meio a jornalistas, seguranças e curiosos que acompanhavam a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da coletiva que acabara de conceder na sede do PT, no Centro da Capital.

Era 4 de março de 2016. Nas primeiras horas daquele dia, Lula havia sido conduzido coercitivamente por policiais federais a uma sala no Aeroporto de Congonhas, Zona Sul, para depor no âmbito da Operação Lava Jato, que investigava denúncias de corrupção em seu governo, de 2003 a 2010. Foi nesta data que, dizendo-se indignado, o ex-presidente se comparou a uma jararaca: “Acertaram o rabo, mas não mataram”.

Nario, que atua no Diário desde 1985, onde entrou para distribuir jornais, atuou como office-boy da Redação e desenvolveu paixão pela fotografia, lembra-se da muvuca. “Tenho as fotografias dessa sequência. Foi na hora em que ele saiu (do sindicato). O carro estava tomado de gente e o pessoal saiu correndo atrás.”

O fotógrafo diz que torceu muito para que Democracia em Vertigem ganhasse a estatueta. “Um marco na história do Brasil. É ver que o País está crescendo cada vez mais, (com) documentários, filmes”. Só o fato de ter sido indicado, lembra o profissional, já valeu a pena. “Repercutiu muito lá fora”. Não é para menos, diz. “Um presidente que foi eleito duas vezes e depois foi preso.” Para Nario, ter sido coadjuvante dessa história é inesquecível. “Vou poder contar para o meu filho, meus colegas, minha esposa.”

Coreano ‘Parasita’ é 1º longa não falado em inglês a vencer como melhor filme

O filme sul-coreano Parasita se tornou, na madrugada de hoje, a primeira produção não norte-americana a levar o prêmio de melhor filme em 92 anos da história do Oscar. Dirigido por Bong Joon-ho, que também conqistou a estatueta de melhor diretor, o longa-metragem desbancou o favorito 1917, de Sam Mendes, e outros sete concorrentes.

O anúncio feito pela atriz Jane Fonda surpreendeu o público presente no Teatro Dolby. A plateia se postou de pé enquanto Joon-ho se dirigia ao palco para receber o prêmio. “Sinto que um momento muito oportuno da história está acontecendo agora”, declarou o diretor. Ele dedicou o prêmio aos demais diretores, especialmente a Martin Scorsese.

Comédia dramática, Parasita acompanha família sul-coreana à beira da miséria que se infiltra em família rica. Além de 1917, o vencedor desbancou Adoráveis Mulheres, Coringa, Era uma vez em... Hollywood, Ford vs Ferrari, História de um Casamento, Jojo Rabbit e O Irlandês.

“Estou sem palavras. Estou tão feliz, nunca acreditei que isso aconteceria. Eu sinto como um momento oportuno conforme a história está acontecendo. Expresso minha gratidão profunda e respeito a todos os membros da Academia por tomarem essa decisão”, agradeceu Kwak Sin Ae, produtora de Parasita.

Ao todo, o longa-metragem, conquistou quatro estatuetas – tornando-se o mais premiado da noite. Além de melhor filme e melhor diretor, Parasita também foi premiado nas categorias de melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro. Só perdeu duas indicações em que figurava (design de produção e edição de som).

O favorito 1917, que estava concorrendo em dez categorias, venceu três delas (fotografia, efeitos visuais e mixagem de som). 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;