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‘Paixão de Cristo’ chega à TV
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
25/03/2005 | 12:42
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Trata-se de uma daquelas obviedades necessárias: chegada a Páscoa, as emissoras de TV sacam de seus depósitos audiovisuais obras alusivas à vida e à morte de Jesus Cristo, cujo calvário possibilitou o feriadão prolongado. E neste ano, para não ter dúvida de que o telespectador entendeu o recado e deixe momentaneamente de lado coelhinho e chocolates, a rede Telecine (Net) optou por uma mensagem que poderia ser classificada de retumbante e inflamável, no mínimo. A Paixão de Cristo, o filme de Mel Gibson que retrata as últimas 12 horas do messias e foi responsável pelo maior banzé que a mídia conheceu no ano passado, é a grande atração do canal Telecine Premium neste fim de semana. O drama, inédito na TV brasileira, passa no sábado (21h) e terá reprises no domingo (16h30) e no próximo dia 31 (23h30).

É a grande coqueluche das grades televisivas neste intervalo compreendido entre a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa, com direito a Sábado de Aleluia. Pudera: o terceiro filme dirigido por Gibson (Coração Valente) custou US$ 30 milhões e rendeu 20 vezes mais ao redor do globo. E o intérprete do sargento Riggs de Máquina Mortífera não economizou em ousadia, ao estruturar os diálogos de seu filme em aramaico e latim, idiomas sepultados na atualidade.

Mas tudo isso, afinal de contas, tem importância secundária. Os grandes escarcéus que rondaram A Paixão de Cristo derivaram da inclinação do cineasta em tornar a narrativa do flagelo e da morte de Jesus (Jim Caviezel) numa tragédia açougueira e da suspeita de seu filme incitar o anti-semitismo.

A obra de Gibson reparte a culpa pela tortura cristã entre romanos e judeus, num jogo político fracamente exposto, mas presente. A realidade histórica existe, e o cineasta até a admite como verdadeira no fogo cruzado dos interesses políticos de um e outro lado, embora os coloque em perspectiva distante para privilegiar o açoite físico sofrido pelo filho de Deus. O diretor se refestela ao decalcar na "maior história de todos os tempos" uma lógica do cinema de ação, em que a humilhação e o sofrimento são levados a extremos para que sejam razão suficiente para justificar o troco do torturado. No filme de Gibson, a vingança transparece como uma lágrima de Deus que estremece a terra e a ressurreição do personagem, entendida como estopim do cristianismo (a vingança coletiva).

Nem tudo é desgraça em A Paixão de Cristo, um filme que deve ser assistido, de todo modo. Houve parte da crítica brasileira que soube detectar acertadamente no filme uma qualidade de coerência representada pela questão do olhar. O olho funciona como elemento de reconhecimento da natureza humana entre os personagens. Amor, sofrimento, expiação, perdão; sentimentos que estão expressos de modo enfático nas trocas de olhares entre Cristo e Maria (Maia Morgenstern), Cristo e Judas (Lucas Lionello), Cristo e Pilatos (Hristo Naumov Shopov), Cristo e Pedro (Francesco De Vito). É coisa que talvez não se perceba de imediato, até porque a atenção é instantaneamente dirigida para a hemoglobina e a carnificina explícitas. Por isso mesmo, A Paixão de Cristo é filme para ver e rever.

Na TV aberta – Nem todo canal tem A Paixão de Cristo para exibir, mas as emissoras viram-se como podem para introduzir a Semana Santa em suas grades. Nesta sexta-feira, a Globo exibe às 15h50 Maria, Filha de Seu Filho, telefilme italiano de Fabrizio Costa que pretende compreender toda a vida de Cristo, do nascimento à crucificação, do ponto de vista de sua mãe. O mesmo tema percorre Maria, Mãe de Jesus, obra norte-americana de Kevin Connor, também realizada para a TV, que o SBT mostra às 22h15. Preste atenção, porque o ator que interpreta Jesus neste filme é o mesmo Christian Bale que assume o uniforme soturno do protagonista de Batman Begins, nova versão cinematográfica do herói dos quadrinhos, que estréia em junho próximo. No sábado, às 23h30, a Record completa o pacote da Paixão na TV com a exibição de Jesus de Nazaré, de Franco Zefirelli.




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