Cultura & Lazer Titulo
Romeu e Julieta
da modernidade
Por Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
26/09/2011 | 07:01
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Lares desfeitos e refeitos, crianças de diferentes sobrenomes sob o mesmo teto, mulheres provedoras e homens domésticos, pais adotivos ou biológicos. Enfim, diferentes configurações da família contemporânea, que extrapolam o ideal dos anos 1950, ganham retrato na novela 'A Vida da Gente'. Histórias da vida real substituirão a partir de hoje a fábula de 'Cordel Encantado', um dos maiores sucessos das 18h, na Rede Globo.

Com direção geral de Jayme Monjardim e Fabrício Mamberti, a novela de Lícia Manzo tem como protagonistas Ana (Fernanda Vasconcellos) e Rodrigo (Rafael Cardoso). Os dois conviveram como irmãos postiços durante a infância e a adolescência, desde que Eva (Ana Beatriz Nogueira), mãe dela, e Jonas (Paulo Betti), pai dele, casaram-se. Hoje, os jovens se percebem apaixonados enquanto os seus pais dão início à separação.

Afastados pelo ódio entre as famílias, tentam manter a relação em segredo, mas Eva e Jonas conspiram para a fim do namoro. Passado um mês, Ana se descobre grávida e Eva fica inconformada: um neto ameaçaria o sustento da família, afinal a jovem tenista profissional é contratada por uma empresa para representar boa imagem publicitária. "Eva tem expressão muito grande para a carreira da filha como se estivesse projetada. Ela é vítima da ansiedade de ver a filha chegar e ela chegar junto", afirma Mamberti.

De acordo com o plano engendrado pela mãe dominadora para livrá-las do problema, farão uma viagem durante o tempo necessário para o nascimento da criança. As cenas foram feitas em Ushuaia, cidade da Argentina, conhecida como ‘o fim do mundo'. Na volta, a bebê Júlia (Jesuela Moro) será apresentada como filha de um caso fortuito de Eva no Exterior. É quando os conflitos se acirram.

Cansadas dessa tirania, Ana e Manu resolvem procurar a avó Iná (Nicette Bruno), em Gramado, onde desejam criar a pequena Júlia. Mas, no caminho, o carro capota e afunda em lago, do qual Manu logo emerge com Júlia nos braços. Já Ana, retirada de lá tempo depois, entra em coma - segundo os médicos, irreversível. A complicação é o eixo da novela. "Ela entra em coma e depois renasce. Isso, para nós, é uma força muito grande. É uma segunda chance para reconstruir, acertar a vida dela", conta o diretor geral.

Depois de ficar estacionada na fina fronteira entre a morte e a vida, Ana reencontrará o rumo seguindo sem a filha: Júlia estará crescida, amparada pelos ‘pais', Rodrigo e Manu, que agora estão casados. "Se a vida te desse uma segunda chance, o que você faria? Essa é a chamada da novela. Ana responderá para nós o que fará nesse processo", completa Mamberti.

Embora a família do núcleo principal seja natural de São Paulo, a trama se passa em Porto Alegre e Gramado, no Rio Grande do Sul, palcos para o romance de Ana e Rodrigo. Para representar a capital gaúcha, a Rede Globo construiu uma área comercial inspirada no bairro Moinhos de Vento. Já para as cenas que retratam as ruas de Gramado, a equipe priorizou a arquitetura europeia da cidade, assim como o paisagismo típico conhecido pelos turistas.

Quem é quem

- Pai dos jovens Rodrigo e Nanda, Jonas Macedo (Paulo Betti) é ex-marido de Eva. Ele acredita que o dinheiro soluciona tudo, e dessa forma tenta compensar a sua ausência na vida dos filhos. Quando percebe a aptidão de Rodrigo para os estudos, Jonas se empenha para torná-lo o seu sucessor na empresa. No começo da trama, ele troca Eva, mulher já quase cinquentona, pela personal trainer Cris (Regiane Alves) da mesma forma que costuma fazer com os seus carros todos os anos.

- Rodrigo Macedo (Rafael Cardoso) perdeu a mãe cedo e cresceu em companhia dos livros para compensar a falta de orientação sobre a vida. O pai se casou com Eva, madrasta não necessariamente carinhosa, que lhe apresentou um benefício: a filha Ana. Em admiração mútua, os jovens rapidamente se tornam inseparáveis. Com o passar dos anos e a efervescência dos hormônios, porém, precisam se distanciar. Durante um passeio ecológico, baixam as defesas. Desse contato, nasce Júlia.

- Irmã mais velha de Rodrigo, Nanda (Maria Eduarda) também foi criada praticamente sozinha. Rebelde e sem rumo, acostumou-se a suprir a ausência do pai com a gorda mesada que recebia. Embora não tivesse bom relacionamento com sua madrasta Eva, chega a sentir falta da ‘falecida' depois do casamento de seu pai com Cris. Na segunda fase da novela, a jovem se envolve com Lui (Marat Descartes), músico da noite, bom sujeito sem tostão, que tem um filho de dez anos, Francisco.

- Manuela Fonseca (Marjorie Estiano) é a irmã mais velha de Ana. Rejeitada pela mãe Eva, cresceu à sombra da irmã ‘perfeita', a sua única amiga e confidente. Tímida, tornou-se invisível tanto em casa como na escola, mas recebe amparo de Maria (Neusa Borges), a empregada da família, que sempre estimulou o seu talento para a culinária. Depois do acidente, que coloca a irmã em coma, ela assume a responsabilidade por Júlia (Jesuela Moro) e, tempos mais tarde, o relacionamento com Rodrigo.  

Lícia Manzo é comparada a Maneco

Já apontada como ‘novo Manoel Carlos', Lícia Manzo, 46 anos,é a aposta da Rede Globo para o faixa das 18h. Em comum com Maneco, autor de sucessos como 'Mulheres Apaixonadas' (2003) e 'Páginas da Vida' (2006), coloca a família no centro da trama - e escreve sobre temas como adoção e gravidez precoce.

Estreante como autora titular em novelas, Lícia não é novata na emissora. Em 1996, ela estreou no humorístico 'Sai de Baixo' em parceria com Guel Arraes. Mais tarde, colaborou com a série cômica 'A Diarista' (2004), a novela 'Três Irmãs' (2008) e o seriado 'Tudo Novo de Novo' (2009).

Como autora, estreou no teatro. Aos 15 anos, já assinava o primeiro texto encenado pelo Grupo Além da Lua, fundado por ela mesma. Em 1984, o coletivo foi vencedor do Prêmio Molière como a melhor companhia para crianças.

Responsável pela comédia 'A História de Nós 2' (indicada ao Prêmio Shell 2009 na categoria melhor texto), que está em cartaz no Teatro Gazeta, em São Paulo, Lícia também assina o texto da peça 'Aquela Outra', dirigida por Clarice Niskier, que tem estreia prevista para novembro, no Rio.

FORMAÇÃO
Mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica, do Rio, Lícia publicou o ensaio 'Era Uma Vez: Eu - A Não-Ficção na Obra de Clarice Lispector', indicado para o Prêmio Jabuti, em 2003. Na produção, ela afirma que Clarice compôs uma espécie de relato ‘autobiográfico' através de sua ficção.




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