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Saci invade sala de aula e faz muita bagunça

Na Emeief Janusz Korczak, projeto prioriza lendas e cultura brasileira durante atividade em classe

Selma Viana
Do Diário do Grande ABC
04/12/2011 | 07:00
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Foi tremendo alvoroço quando os pequenos da sala 4 voltaram do horário da merenda e encontraram o local na maior bagunça. Carteiras e cadeiras estavam fora do lugar e algumas crianças identificavam objetos pessoais no lado oposto onde costumam sentar-se. Outros tentavam chamar a atenção da professora, indignados com a confusão. "Foi o Saci, foi o Saci".

Eles já tinham aprendido que o Saci só aparece quando há desordem no ambiente e mau comportamento por parte deles. Imediatamente começaram as acusações. Na confusão ouvia-se que a culpa era da Giovana e do Ryan. "Eles estavam cavando a terra para pegar tatu-bola". Os garotos tentavam desmentir os colegas quase que em um berro só.

De novo a história se repetiu. A primeira vez que o Saci apareceu no 1º ano da Emeief Janusz Korczak, na Vila Valparaíso, em Santo André, foi em março, quando a professora Luciana André Pimentel iniciou o projeto O Saci em minha sala. Formada há 26 anos, Luciana sempre trabalhou com o folclore em suas aulas, mas só se dedicou ao Saci quando entrou na escola, em 2008.

A intenção principal é a de priorizar as lendas e histórias da cultura brasileira em vez dos mistérios que vêm de outros oceanos. No dia 31 de outubro, por exemplo, ela prefere enaltecer o Saci ao dia da bruxa, celebrada na mesma data.

Nas rodas de discussões, a professora fez os alunos pensarem sobre o que fazia com que o Saci agisse de forma marota sem que ninguém presenciasse. As crianças perceberam que as supostas aparições estavam condicionadas ao seu comportamento. Para mudar a situação só tinha um jeito: mudar a atitude. "Expliquei que o Saci não apareceria se eles falassem baixo, não mentissem nem fizessem bagunça", diz Luciana.

Aos poucos, sem que a professora interviesse, os alunos envolveram os familiares no seu dia-a-dia ao chegar em casa e contar com espanto o que estavam aprendendo. Dessa vez nenhum pai se manifestou. Mas em uma ocasião a professora teve de lidar com um sentimento que, inexplicavelmente, as crianças não têm em relação ao mito mais pop que o caipora: o medo. "Eu tinha um boneco Saci que as crianças levavam para casa em rodízio. Um pai ficou com medo do brinquedo e o colocou para dormir na cozinha, perto da geladeira, não o deixou no quarto", conta rindo a professora.

Imaginação e descontração também são pontos explorados nas atividades. A escola tem boa área verde e os alunos acreditam piamente que o cantar do Bem-Te-Vi é o barulho do Saci. Wellynton Leal Leite, de 6 anos, afirma que viu a touca do Saci em um sábado. "Foi lá na quadra de futebol da Vila Alice. Era vermelha, igualzinha a dele e só vi uma perna", fala seriamente.




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