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Preconceitômetro

Costumo brincar em minhas palestras que, quando o assunto é preconceito...

Por Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
23/01/2013 | 00:00
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Costumo brincar em minhas palestras que, quando o assunto é preconceito, crio a seguinte situação e primeiro pergunto: ‘Quem aqui é preconceituoso?'. Salvo dois ou três corajosos - ou até um tanto autênticos -, o restante das pessoas se mantém em silêncio e sem levantar a mão. Logo em seguida, faço uma segunda pergunta: ‘Quem aqui conhece alguém preconceituoso'? Nesse momento, a manifestação é quase unânime.

Inúmeros pensadores ao longo da história nos mostraram, por meio de pequenos aforismos, ou complexas reflexões, a tendência humana de sempre enxergar os problemas de ordem social como algo do outro. Assim, em se encontrando um culpado, além da absolvição por completo, ainda sobra o deleite secreto de se colocar, enquanto vítima, das falhas do sistema e dos tantos pecadores que o cercam.

Mas, entrando em um novo ano, faltando pouco mais de uma semana para acabar o mês de janeiro, já poderíamos tentar fazer uma pequena autoanálise e fugir dessa lógica simplista, elegendo pelo menos alguns assuntos para tentarmos de vez acabar com a terceirização da culpa. Imaginem só se tivéssemos em casa um preconceitômetro, isso mesmo, um aparelhinho que talvez colocaríamos embaixo das unhas, ou quem sabe das pálpebras, talvez até mesmo sob o travesseiro, e ele pudesse nos contar, em uma escala de zero a 100, como estaria nosso nível de preconceitos.

Como essa bela maquininha ainda não foi inventada, talvez o jeito seja identificar algumas perguntas que nos ajudariam a começar, primeiro, como eu disse anteriormente, fazer uma avaliação das verdades que temos em relação a determinados segmentos de pessoas ou de culturas, com as quais acabamos interagindo no dia a dia.

Digo isso porque antes de buscarmos saber de fato o quanto somos preconceituosos, faz-se necessário compreender, de fato, o que vem a ser preconceito. Um conceito preestabelecido pode fazer com que eu, dentre outros equívocos, deixe de contratar alguém por sua idade, sua cor de pele e até por um sotaque ou opção religiosa. 

Também pode fazer, por outro lado, com que determinados segmentos sejam percebidos como melhores e infinitamente superiores, por um sobrenome, por morar em determinado território, ou até por fumar e beber desejados itens de marcas tradicionais. Notem, então, que o preconceito pode ser terrivelmente danoso, tanto nos momentos em que se desvaloriza alguém, quanto nos momentos em que se exauta. 

Muitas vezes, condutas preconceituosas são maquiadas e encobertas por belos discursos. As atitudes, no entanto, muito rapidamente traem o dono da bela retórica, fazendo transparecer velhas convicções conservadoras e discriminatórias.

Pessoalmente, acredito que todo ser humano, em aguma medida, traz consigo algum tipo de preconceito, contudo, igualmente acredito na capacidade humana de se libertar dessas tais verdades absolutas desnutridas de qualquer tipo de inteligência ou de respeito ao próximo.

* Carlos Ferrari é presidente do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e vice-presidente da Fenavape (Federação Nacional das Avapes). 




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