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Eutanásia é assassinato, diz bispo
Por Adriana Gomes
Do Diário do Grande ABC
29/03/2005 | 14:28
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“A eutanásia voluntária, sejam quais forem as normas e os motivos, constitui um assassinato. É gravemente contrária à dignidade do ser humano e ao respeito do Deus vivo, seu criador.” Com essas palavras, o bispo diocesano de Santo André, Nelson Westrupp, respondeu ao questionamento da reportagem sobre o posicionamento da Igreja Católica a respeito da polêmica da eutanásia do caso Mascaro. Moradora de São Bernardo, a autônoma Milena Bonato Mascaro, 40 anos, declara-se favorável à prática baseada na experiência junto ao marido, Giovanino Mascaro, 50, que vive em estado vegetativo na Clínica de Repouso Jardim, em Santo André, há cinco anos. A discussão sobre a indução à morte intensificou-se no mundo inteiro nas últimas semanas por conta da briga judicial que envolve a vida da norte-americana Terri Schiavo, 41. Nesta terça-feira, a paciente – em estado vegetativo há 15 anos – entra no décimo primeiro dia sem alimentação e hidratação, por conta de decisão da Justiça que permitiu a retirada das sondas a pedido do marido, Michael Schiavo.

Ouvida pelo Diário após a declaração do bispo, Milena, esposa de Giovanino Marcaro, paciente em estado vegetativo mantido na clínica de Santo André, reafirmou sua posição a favor da eutanásia. Católica por formação, ela disse que respeita a posição da Igreja mas lembra que aqueles que julgam não vivem o problema. “Fui criada no catolicismo, embora não seja praticante. Dei o mesmo encaminhamento aos meus filhos, mas os deixo livres para decidirem sobre religião. Sei que a posição da Igreja é contrária à eutanásia, mas sou eu que encaro a situação todos esses anos. Os médicos nunca disseram que haveria chance de recuperação para meu marido. Se houvesse alguma chance, minha opinião seria outra”, diz.

A autônoma Milena recebe mensalmente R$ 1,2 mil de aposentadoria do marido para custear aproximadamente R$ 1,5 mil mensais de despesas com a internação. Conta que passou a sofrer julgamentos de toda ordem após a divulgação de seu posicionamento a favor da eutanásia, ação que prevê desligamento de aparelhos ou retirada de sondas para abreviar a vida de um paciente em estado terminal ou vegetativo. “Dizem que estou querendo matar meu marido. Mas ouvi dele mesmo que não gostaria de viver assim, e acho que ninguém gostaria. O estado dele é totalmente inconsciente. Abre os olhos por conta de estímulos automáticos do cérebro e é 100% dependente de cuidados”, relata.

Orçamento – Além dos gastos com a manutenção de Giovanino Mascaro na clínica, Milena precisa pagar todas as despesas dos dois filhos – Natália, 20 anos, universitária, e um menino de 12. Ambos têm benefício de bolsas parciais de estudos, mas a mãe precisa pagar diferença de aproximadamente R$ 500, relativa às mensalidades. “Sem contar material escolar, alimentação, vestuário, tudo o que uma família precisa”, diz Milena. Segundo a mulher, familiares ajudaram durante algum tempo, mas hoje não conta com qualquer auxílio dos parentes. “As pessoas têm suas próprias vidas e despesas.”

Para tentar pagar todas as contas em dia, Milena faz cortinas em casa e representa uma empresa do mesmo setor. Enquanto o marido trabalhou, a família tinha uma vida confortável, e ela pôde cuidar dos filhos e dos afazeres domésticos sem precisar trabalhar.

Giovanino Mascaro, 50 anos, sofreu infarto há 5 anos. Ele era auditor fiscal em empresa em São Bernardo. Segundo Milena, o único benefício mantido pela empresa após a aposentadoria de Giovanino – motivada pelo problema de saúde – foi o plano de saúde para ele e a família. “Mas tenho de pagar as despesas adicionais (cerca de R$ 1,5 mil) de qualquer forma”, explica. Milena conta ainda que os médicos não descobriram a razão do infarto que vitimou Giovanino. “Ele não fumava, não bebia, levava uma vida saudável. Nunca tinha apresentado nenhum problema, inclusive fazia check-up anual por exigência da empresa onde trabalhava. A única associação que fizeram foi um possível estresse”, conta.

Bispo – O bispo Nelson Westrupp pediu ao Diário que publicasse na íntegra sua declaração, que enviou por escrito. Segundo a nota, “para a Igreja Católica, a eutanásia é uma violação grave da Lei de Deus, enquanto morte deliberada moralmente inaceitável de uma pessoa humana.”

“A doutrina católica está fundada na lei natural e sobre a palavra de Deus escrita. Recusando ou esquecendo seu relacionamento fundamental com Deus, o ser humano pensa que é critério e norma de si mesmo e julga que tem inclusive o direito de pedir à sociedade que lhe garanta possibilidades e modos de decidir da própria vida com plena e total autonomia. Na realidade, aquilo que poderia parecer lógico e humano, quando visto em profundidade, apresenta-se absurdo e desumano”, completa o bispo na nota, citando o Evangelho.



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