Cultura & Lazer Titulo
Clássico ilustrado
Por Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
15/02/2010 | 07:00
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As editoras parecem ter encontrado um novo tipo de mercado ao trazerem famosas obras literárias para o século 21 com uma nova roupagem: a das histórias em quadrinhos. O último título do gênero a ser lançado é Triste Fim de Policarpo Quaresma (Editora Desiderata, R$ 44,90, 72 páginas.

A publicação faz parte da série Grandes Clássicos em Graphic Novel, que já apresentou aos leitores produções como O Alienista, de Machado de Assis e adaptado pelos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Ba, e O Pagador de Promessas, de Dias Gomes e releitura de Eloar Guazzelli. O projeto tem o objetivo de levar textos fundamentais a um novo tipo de público, além de prestar homenagem a grandes nomes nacionais.

O conto narra a saga do sonhador Policarpo Quaresma, nacionalista fervoroso que acredita que o reconhecimento das raízes brasileiras ajudarão imensamente no andamento e desenvolvimento da Nação. No Rio de Janeiro do ano de 1893, ele trabalha como funcionário do Arsenal da Guerra e é chamado pelos amigos pela alcunha de Major.

A convicção do personagem faz com que tenha estranhas iniciativas, como enviar ao governo carta que pede que o tupi seja designado como língua nacional a ser adotada. O fato faz com que seja enviado para o manicômio, sendo que é tido como louco por grande parte da sociedade carioca da época.

Após período em que se mudou para uma fazenda para provar as maravilhas das terras brasileiras, Quaresma volta à cidade para defender o então presidente Floriano Peixoto da Revolta da Armada. Porém, a boa vontade do protagonista em seguir a linha ‘ordem e progresso' da bandeira nacional acaba não sendo valorizada pelo Estado, levando ao fim de sua trajetória - como premeditado no título da história.

Escrito por Lima Barreto (1881-1922), o enredo envolvendo Policarpo Quaresma foi publicado originalmente em folhetins entre os meses de agosto e outubro de 1911 no Jornal do Commercio. Somente quatro depois foram compilados em um livro único. O trabalho é considerado marco no modernismo brasileiro.

A edição em graphic novel conta com roteiro de Flávio Braga e ilustrações de Edgar Vasques, conhecido por seu trabalho como desenhista do Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo.

A dupla aposta no tom cômico existente no personagem, dando ênfase a detalhes sem tanta dramaticidade encontrados no original. Isso faz com que o militar ganhe aspecto folclórico e passe a imagem de uma pessoa ingênua. Os belos quadros, que misturam cores com um bem utilizado jogo de sombras, faz do livro um trabalho primoroso visualmente.

O prefácio é assinado pela crítica e pesquisadora literária Beatriz Resende, que classifica Quaresma como o melhor personagem da obra de Lima Barreto e o aponta como um dos mais interessantes da literatura nacional. Entre suas palavras, menção para a contemporaneidade do texto. Segundo ela, "(...) nos causa espanto o quanto este folhetim do início do século 20 permanece válido e coerente, próximo à realidade dos leitores, e serve sobretudo de alerta contra todos os perigos que a liberdade de pensamento pode, facilmente, correr".




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