Pais de alunos e funcionários da rede municipal de ensino de Ribeirão Pires dizem que a merenda servida nas escolas e creches não satisfaz mais as crianças. Segundo eles, a comida está sendo dividida em algumas escolas para poder alimentar todas as crianças. Para a Secretaria de Educação, porém, os funcionários estariam descontentes por terem sido proibidos de comer nas escolas e os pais teriam considerado redução da merenda uma “readequação” do cardápio em vigor desde meados do anos passado.

Uma professora que não quer ser identificada afirmou ter presenciado situações como dividir um frango para o almoço de 40 crianças, servir apenas leite com achocolatado sem pão ou bolacha e dividir uma fruta para até três crianças.

Uma diretora de escola também admitiu a situação. “As crianças não ficam sem comida, mas alguns dias temos de substituir determinado alimento porque falta alguma coisa.”

Para a auxiliar de limpeza Kelly Regina Gonçalves Ramos, 27 anos, que tem um filho e um sobrinho na creche Olívia Marques Petrilli, no Jardim Ribeirão Pires, houve mudança no hábito alimentar das duas crianças nos últimos meses. “Desde o fim do ano passado eles chegam em casa com fome. Antes, só tomavam uma sopa e não queriam comer mais nada antes de dormir; na escola, vi as crianças tomando leite puro sem mais nada. Fico preocupada, porque eles ficam a maior parte do tempo na creche e não podem ser mal alimentados.”

Mães de alunos da escola municipal Yoshihiko Narita, no bairro Santa Luzia, disseram que os filhos reclamam que em vários dias há apenas achocolatado com bolachas. “Na sexta-feira passada reclamamos para os professores, que nos orientaram a fazer uma reivindicação conjunta. A minha filha chega em casa perguntando se tem pão para comer, depois quer jantar, e isso não era comum antes”, disse a dona-de-casa Ângela Santos Reis.

Outras duas mães da mesma escola, Kátia Ferreira da Silva e Sirlene Salazar, relataram a mesma situação e pretendem se reunir para cobrar melhorias. “Temos de nos reunir porque algumas crianças são carentes e precisam de uma merenda forte”, disse Sirlene.

A secretária de Educação de Ribeirão Pires, Maria Auxiliadora Reis, garantiu que não falta comida na merenda. “No ano passado, fizemos uma readequação no cardápio mas a merenda dá para todos. Irei verificar se alguma escola não acompanhou o cardápio, mas não creio nisso”, disse Auxiliadora.

Um fato que, segundo a secretária, pode ter gerado a insatisfação dos servidores públicos é a proibição de professores e funcionários das escolas de fazer refeições nas escolas. “O repasse dos governos estadual e federal é muito pequeno e com os funcionários comendo nas escolas tínhamos de gastar muito e se não controlássemos isso certamente chegaríamos num ponto em que não teríamos, de fato, dinheiro para a merenda. Esses trabalhadores não ficaram sem alimentação, porque recebem cesta básica e têm horário de refeição, mas talvez isso tenha gerado insatisfação”.

Segundo a nutricionista Maria Auxiliadora de Souza Freire, consultora da Prefeitura, houve problemas com fornecedores em fevereiro, o que poderia explicar o caso de alunos terem ficado só com achocolatado e bolachas. “Mas todas as semanas as despensas são abastecidas com frutas, verduras e legumes. Hoje a merenda é calculada em grama por criança com valor nutricional para as necessidades de cada uma, o que não era feito antes. Não há desperdício, mas também não falta comida.”