Economia Titulo
Microprodutora de Santo André rivaliza com supermercados
Mariana Oliveira
Do Diário do Grande ABC
20/04/2005 | 12:15
Compartilhar notícia


Debaixo das linhas de transmissão da AES Eletropaulo na Vila Pires, em Santo André, uma microprodutora urbana de verduras ganhou escala, competitividade e, com a ajuda da família, de um funcionário e sem intermediários, se transformou em fornecedora de restaurantes da região e numa concorrente de supermercados, ao vender diretamente ao consumidor.

A produção mensal de alface, por exemplo, é de 10 mil pés, o equivalente a um mês de vendas do produto da unidade Campestre da Coop (Cooperativa de Consumo), uma das lojas de maior movimento da cooperativa. Segundo a ONG ambiental AGDS (Associação Global de Desenvolvimento Sustentado), de São Bernardo, a média de produção de alface para microprodutores urbanos (considerando terreno de 3 mil m²) é de 2 mil pés mensais.

Neiva Fortuna da Silva planta em dois terrenos próximos, cuja área total é de 5,3 mil m², mas a horta inclui também agrião, couve, rúcula, almeirão, escarola, coentro, mostarda, salsinha, cebolinha, beterraba e cenoura. Todos os produtos são orgânicos (sem uso de agrotóxico). Ela é comodatária em um terreno da AES Eletropaulo (leia texto nesta página) desde 1992 e disse que a idéia de solicitar a área para a horta surgiu quando o marido, que trabalhava na linha de montagem da Ford, em São Bernardo, foi demitido.

“Nós dois crescemos na roça, plantando e colhendo. Portanto, já tínhamos os conhecimentos necessários para trabalhar com comercialização de verduras e legumes. O investimento não foi alto e conseguimos aprimorar a técnica de cultivo aos poucos”, conta Neiva.

A pequena produtora já fornece verduras para restaurantes conhecidos da região, como Churrascaria Rosas, Padaria Vitória Régia e Restaurante São Judas, todos de Santo André, cujas compras representam 5% do faturamento da agricultora. A meta é ampliar os clientes empresariais e a venda para quitandeiros, mas continuar com o foco de atender bem os consumidores finais. “Aqui as pessoas conhecem a procedência do produto e sabem que não há agrotóxicos nos alimentos. O diferencial do meu estabelecimento é que me preocupo com as verduras e legumes porque também sou consumidora”, diz.

A horta, em meio a um bairro residencial (Vila Pires) da cidade, segundo ela, traz mais rentabilidade que uma quitanda de pequeno porte. O compromisso com os clientes é levado tão a sério, que as portas do local estão abertas todos os dias – de segunda à domingo. As colheitas são feitas duas vezes ao dia – de manhã e à tarde. Mas, em casos de produtos com menor procura, como a mostarda, por exemplo, ou se o cliente fizer questão, ela colhe na hora.

Neiva tem plantações em dois terrenos – ambos na mesma rua, cedidos pela AES Eletropaulo –, um de 2,854 mil m², que usa para plantio de temperos, produtos mais consumidos e atendimento, e outro de 2,45 mil m², no qual cultiva somente os alimentos com maior produção. Além dos 10 mil pés de alface mensais, a produção do mês conta com 5 mil pés de rúcula, 400 maços de agrião e 400 de couve, entre outros.

A agricultora tem o apoio do marido – ambos plantam e colhem –, da filha, que atua no atendimento aos clientes, e de um funcionário, que ajuda no cultivo. De acordo com a filha de Neiva, Gueime Fortuna da Silva, passam pela horta durante a semana cerca de 60 pessoas. Nos finais de semana, a clientela dobra – 120, em média. “Nossa propaganda é a boca a boca. E, o mais interessante, é que criamos laços com os consumidores”, acrescenta.

Fidelidade – Cliente há mais de 10 anos, o aposentado Oswaldo Ligeiro, morador da Vila Luzita, vai à horta de Neiva uma ou duas vezes por semana. “Confio nas verduras daqui. Não compro na feira porque não conheço a procedência da água utilizada para regar os alimentos nem sei como é a manipulação dos produtos. No supermercado, os produtos não são frescos. Aqui, sei que encontro qualidade.”

O casal Flávio Orlando e Auxiliadora de Souza, morador do Jardim Santo André, consome na horta por dois motivos: atendimento e qualidade. “No supermercado, ninguém te ajuda a escolher o melhor pé de alface, por exemplo. A verdade é que os funcionários nem olham na sua cara. Aqui, eles te aconselham e até sugerem receitas alternativas para não deixar as verduras estragar”, conta Flávio Orlando.

Já Auxiliadora, prefere a horta de Neiva devido à qualidade. “Como os alimentos são colhidos na hora, duram mais tempo.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;