Economia Titulo
Hora extra atinge 42,9% dos trabalhadores
Por Do Diário do Grande ABC
10/04/1999 | 13:29
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O Brasil da recessao e do desemprego é também o da hora extra, por mais paradoxal que pareça. Em janeiro e fevereiro, quando tudo parecia paralisado diante da mudança do modelo econômico, nada menos do que 42,9% de todos os ocupados da Grande Sao Paulo estavam trabalhando mais do que a Constituiçao define - as 44 horas semanais.

No comércio, enquanto os jornais noticiavam concordatas e era flagrante o número de pequenas lojas fechando as portas, quase 60% dos empregados do setor estavam trabalhando a mais. Os dados sao de pesquisa da Fundaçao Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) em convênio com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A situaçao nao é nova. Ano após ano, durante esta década a quantidade de ocupados que declara trabalhar mais do que a jornada contratada se mantém em torno de 40%. No comércio, passa os 50% e nao raramente atinge 60% de todos os empregados. A cultura do expediente que é sempre esticado parece ser independente de dados como o de crescimento - ou o encolhimento - do Produto Interno Bruto (PIB).

Em 1994, ano do Plano Real, em 1995 e em 1996, auge do sucesso da estabilizaçao da economia, ou em 1997 e 1998, anos marcados por crises internacionais que tiveram pesados reflexos no Brasil, o número de trabalhadores com jornadas aumentadas se manteve em níveis muito parecidos.

Sao considerados altíssimos para um país no qual o desemprego é cada vez mais motivo de preocupaçao. Mesmo na indústria, que foi muito afetada pelo aumento de juros e pela mudança radical na política de câmbio, nada menos que 38% dos trabalhadores fizeram horas extras em janeiro e fevereiro.

O índice é mais alto do que o registrado no mesmo período de 1996. É igual ao de 1997. Situa-se apenas dois pontos porcentuais abaixo do registrado em 1998. No setor de serviços, o índice de cerca de 40% se mantém estável desde 1996.

A Central Unica dos Trabalhadores (CUT) fez um cálculo, em 1998, de que, se a jornada legal fosse cumprida, haveria criaçao imediata de mais de 3 milhoes de empregos no país, quantidade suficiente para resolver duas vezes o problema da Regiao Metropolitana de Sao Paulo, onde existem quase 1,6 milhao de desempregados, segundo a pesquisa Seade-Dieese.

Os salários contidos e o risco de perder o emprego sao duas das principais razoes pelas quais empregados aceitam passivamente propostas de esticar as jornadas de trabalho. "A hora extra sempre foi usada como forma de complementar uma renda cronicamente insuficiente no Brasil", ressalta o diretor-técnico do Dieese, Sérgio Mendonça.

Da parte dos empresários, trata-se de uma forma de evitar o risco de contratar empregados em momentos de incerteza e ainda de reduzir alguns custos trabalhistas, que sao calculados pelo salário-base. Mas eles também usam a hora extra como forma de evitar a queda de renda dos empregados, que, do contrário, ficariam insatisfeitos.

"O primeiro trimestre foi de extrema instabilidade para que houvesse contrataçoes, mesmo em setores que sofreram menos com a crise", diz Mendonça. Uma crise que ao final, de acordo com o economista, foi menor do que se imaginava e que, se espera comece a ser superada no segundo semestre. Mas, antes de setembro, dificilmente algum setor vai aumentar quadros de pessoal, mesmo que tudo melhore. O diretor da Lojas Cem Natale Dalla Vecchia, por exemplo, informa que, mesmo com o esperado movimento maior de vendas de produtos elétricos e eletrônicos em maio, por causa do Dia das Maes, ele nao vai contratar. Aumento de empregados, avisa, só no último trimestre. Vecchia afirma que os empregados nao estao fazendo extras e que ainda há ociosidade.




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