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Cubas renuncia e diz que é vítima de conspiraçao
Do Diário do Grande ABC
29/03/1999 | 00:01
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O presidente do Paraguai Raúl Cubas Grau, 55 anos, apresentou domingo, às 20h50 (21h50 de Brasília) em cadeia nacional de rádio e televisao, sua renúncia após seis dias da mais violenta crise política vista no país desde o começo da década. "Acabo de apresentar minha renúncia e passo o poder ao presidente do Congresso Luis González Macchi", afirmou. "Nao vou mais ser responsável pelo derramamento de sangue por questoes políticas. Peço desculpas a todos os paraguaios que votaram em mim", disse em seu pronunciamento.

Cubas afirmou que foi vítima de uma conspiraçao armada por seus opositores no Congresso, que o acusavam e ao seu padrinho político, o ex-general Lino Cesar Oviedo de ser os mandantes da morte do vice-presidente Luis María Argaña na terça-feira passada. Como ex-presidente, Cubas passa a integrar a Câmara Alta como senador vitalício e terá imunidade ante um eventual processo judicial.  

Mesmo antes da morte de Argaña, Cubas já estava ameaçado de sofrer um impeachment e sabia, nestes dias, que podia estar vivendo suas últimas horas no poder. O Senado votaria o impeachment entre terça e quarta-feira. A renúncia torna sem efeito o julgamento político no Senado que, aparentemente, destituiria Cubas do cargo.  "Nao há nada o que celebrar ou vingar. Nossa pátria requer uma responsável renúncia a qualquer forma de violência ou intolerância", disse Cubas.

Ele disse que nao deixava o cargo "como corrupto ou ladrao. Vou-me porque se isso contribui para a pacificaçao nacional, entao será minha contribuiçao nesse momento delicado". A carta de renúncia lida pelo presidente do Congresso tinha apenas uma linha: "Renuncio como presidente da República. Raúl Cubas Grau".  

De acordo com uma alta fonte diplomática européia, Cubas aceitou abandonar o poder depois de um dia de intensas negociaçoes com líderes de facçoes dissidentes de seu próprio partido e dirigentes centro-esquerdistas dos opositores PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico) e PEN (Partido Encontro Nacional). A reuniao ocorreu na residência do núncio apostólico do Vaticano, Lorenzo Baldisseri, em Assunçao.  

Enquanto o Congresso era convocado às pressas para dar posse a Macchi, emissoras de rádio e TV noticiavam que um dos protagonistas da crise paraguaia, o general da reserva Lino Oviedo, tinha deixado sua prisao no quartel da Guarda Presidencial e deixado o país rumo ao Brasil, num pequeno aviao que partiu de um aeroporto particular da periferia de Assunçao.  Os militares, através de um comunicado do comandante interino das Forças Armadas, general Oswaldo Faria, anunciaram que reconheciam o presidente do Senado, o advogado Luis Angel González Macchi, 55 anos, como o novo presidente do país.  

Nas ruas da capital do país, a populaçao comemorou a renúncia de Cubas com um buzinaço. Cinco mil pessoas cantavam ininterruptamente o hino nacional, diante da catedral situada ao lado do senado. No entanto, apesar das comemoraçoes, havia preocupaçao pela resistência que poderia surgir em setores vinculados ao general Lino Cesar Oviedo.  

Cubas foi o presidente eleito que menos tempo ficou no poder no Paraguai desde o fim da 2ªGuerra mundial: sete meses e 13 dias. Por volta das 20 horas, senadores e deputados começaram a chegar no edifício do Senado para presenciar a cerimônia de posse do novo presidente.  

Cubas ganhou as eleiçoes presidenciais pelo Partido Colorado, o mais popular do país, que governa o Paraguai por mais de meio século depois de ter chegado ao poder com um golpe de Estado em janeiro de 1947. No mandado de seu antecessor, Juan Carlos Wasmosy, ele ocupou as pastas do Planejamento e da Fazenda. Em abril de 1996 ele se distanciou de Wasmosy para apoiar o ex-general Lino Oviedo, que passou para a reserva acusado de tramar um golpe de Estado.  

Como candidato a vice-presidente numa chapa encabeçada por Oviedo, Cubas passou a ter notoriedade no Partido Colorado, onde antes era uma figura menor.  As eleiçoes que colocaram Cubas no poder foram consideradas as mais limpas já realizadas no Paraguai.




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