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Região comemora 20 anos da primeira cirurgia bariátrica

Procedimento foi realizado em São Bernardo; recepcionista Roseli Moreti, contemplada pela cirurgia, e médico comemoram o ótimo resultado

Por Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
04/08/2020 | 00:01
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Pixabay


Há 20 anos, no Hospital e Maternidade Assunção, em São Bernardo, era realizada a primeira cirurgia bariátrica do Grande ABC. O procedimento, indicado para pessoas cujo excesso de peso prejudica a saúde, passou por inúmeras transformações até hoje. A beneficiada foi a recepcionista Roseli Moreti, 51 anos, moradora do Jardim Irajá, em São Bernardo.

Na época, conforme noticiado pelo Diário, Roseli não conseguia se sentir satisfeita com o seu corpo, além de constantes dores nas pernas, nos joelhos e muito cansaço. Apesar das inúmeras dietas, a recepcionista não conseguia emagrecer e por isso foi indicado o procedimento cirúrgico. “Em nenhum momento eu me arrependi da cirurgia, inclusive, faria tudo de novo”, destaca a recepcionista. 

A moradora de São Bernardo pesava 102 quilos, com 1,5 metro de altura. Após o procedimento, perdeu pelo menos 39 quilos. “Em 20 anos, eu ainda ganhei uns oito quilos, mas minha vida mudou totalmente desde que fiz a cirurgia. Foi um marco excelente em minha vida, precisei me adaptar sozinha, não tem jeito, com alimentação saudável, principalmente. Antes, eu adorava doce, hoje, não sinto mais falta”, comenta. 

Roseli ainda lembrou que, antigamente, não existia acompanhamento multidisciplinar com demais profissionais, como psicólogos e nutricionistas, então, a adaptação ocorreu naturalmente. “O acompanhamento pós-cirurgia foi pelos próprios cirurgiões mesmo, mas, graças a Deus, não passei mal nem tive complicações”, comenta. 

À frente do procedimento na época, o cirurgião bariátrico Marçal Rossi se orgulha do pioneirismo na região. “Começamos a estudar a obesidade e a cirurgia entre 1998 e 1999. Em 2000 foi realizada a primeira cirurgia com auxílio de demais médicos. De lá para cá, já operamos mais de 8.000 pacientes, não só no Grande ABC, mas em todo Estado e até Brasil”, comenta Rossi. 

De acordo com o médico, no início, a cirurgia “era aberta”, ou seja, cavidade abdominal era aberta para conseguir acessar os órgãos, ou seja, o procedimento era mais invasivo e com a recuperação mais lenta. Já em meados de 2004 e 2005, a evolução chegou com a videolaparoscopia, técnica cirúrgica realizada com auxílio de uma endocâmera no abdômen. “A medicina mudou muito e, com isso, entramos na era da robótica, tanto equipamentos médicos, quanto grampeadores e até mesmo as anestesias evoluíram. Além de beneficiar totalmente os pacientes, o índice de mortalidade é muito pequeno”, avalia o cirurgião. Na época do procedimento de Roseli, Rossi recorda que tudo saiu conforme o planejado. “Deu tudo certo e sem nenhuma complicação”, lembra ele, que até hoje mantém contato com a paciente.

Além da técnica, outra mudança significativa foi a inclusão de outros profissionais no procedimento, principalmente os psicólogos que ajudam especialmente depois da cirurgia. “Com a evolução, procuramos sempre o melhor ao paciente. Hoje temos acompanhamento de demais profissionais e isso é importante”, explica o médico, que lembra que o procedimento não faz milagre. “O paciente precisa se ajudar com alimentação e hábitos saudáveis todos os dias”, finaliza. 

CENÁRIO

O presidente executivo da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), Luiz Vicente Berti, destaca que, no início das cirurgias bariátricas, em muitos casos, a sociedade não entendia a obesidade como uma doença e, sim, como falta de vontade. 

“A obesidade é uma doença de corpo e alma. Diante da tecnologia que temos hoje, os procedimentos ficaram cada vez mais fáceis e acessíveis para nós e para os pacientes também”, destaca. “Hoje, nos procedimentos é possível ter uma visão muito mais ampla do que tínhamos. Na cirurgia aberta, por exemplo, era difícil ter acesso a todos os pontos que precisávamos. Além disso, antes, o paciente chegava a ficar cinco a seis dias internado, o que hoje, em um dia e meio a dois dias, o paciente já está em casa”, finaliza Berti. 

Obesidade é um agravante para a Covid-19

Diante dos inúmeros casos do novo coronavírus em todo País, especialistas relatam como a obesidade pode agravar os quadros de pacientes que tenham testado positivo para a doença. O cirurgião e docente da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Eduardo Grecco observa que, depois do fator idade, ou seja, pessoas do grupo de risco, os pacientes que tiveram quadros severos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) estão relacionados à obesidade. 

“Mesmo que seja um paciente mais jovem, com a obesidade, o organismo acaba vivendo em estado inflamatório e a Covid-19 não deixa de ser uma inflamação geral. O foco da doença é o pulmão, porém, acaba atacando o organismo como um todo”, comenta Grecco. 

Já o cirurgião bariátrico Ronaldo Barbosa Oliveira reforça que o cenário continua preocupante. “Hoje, estamos com 5% da população que se enquadram na obesidade mórbida e 30% em obesidade em todo País. Ano após ano, esses quadros se agravam, porém, na crise da Covid-19, pelo menos 57% das mortes são de pacientes abaixo dos 60 anos que são obesos”, comenta.

O presidente executivo da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), Luiz Vicente Berti, destaca que a chegada da Covid-19 só reforça que a obesidade deve ser tratada como doença e não como estética. “O novo coronavírus é uma doença respiratória, só por isso, já colocaria o obeso como número um em dificuldades para o tratamento. Além disso, a situação pode desencadear outros fatores como insuficiência cardíaca e diminuição de oxigenação no sangue”, comenta Berti.




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