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Isolamento reflete em curva de casos

Levantamento mostra que quedas do distanciamento físico no Grande ABC causam aumento no número de infectados pela Covid-19

Por Aline Melo
Dérek Bittencourt
02/05/2020 | 08:13
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O isolamento físico está mais uma vez em queda no Grande ABC. Por outro lado, o número de casos confirmados não para de crescer, aumentando 12 vezes em abril e fechando o mês com 1.794 pacientes infectados pela doença. Seis das sete cidades (exceção feita a Rio Grande da Serra, por ter menos de 70 mil habitantes) vêm, desde o dia 8, tendo acompanhamento diário pelo governo do Estado para medição, por meio de sinais de telefonia, da adesão dos munícipes ao distanciamento. Porém, pela segunda vez a região registrou queda brusca na taxa de isolamento (que na prática significa mais pessoas nas ruas) e o reflexo está implícito neste aumento do índice de pacientes positivados.

Há pouco mais de duas semanas, em 16 de abril, o Grande ABC registrou a pior taxa de distanciamento físico, com apenas 46% dos moradores respeitando as medidas impostas pelos governos estadual e municipal. Tal situação impactou na ascensão da curva de pessoas que tiveram testes confirmados para o novo coronavírus: os números mais do que dobraram desde então, passando de 728, no dia 16, para 1.794, no dia 30.

Desde domingo, dia 26, os índices na região voltaram a cair. Na ocasião houve o registro de 60% dos moradores do Grande ABC em casa (o ideal, segundo a secretaria estadual de Saúde, é de 70%); entretanto, na medição de quinta-feira, este número despencou para 49%. De fato, é visível o aumento de veículos nas principais vias, assim como estabelecimentos que descumprem o decreto, abrem as portas e proporcionam aglomerações. Consequentemente, a população está mais exposta ao contágio e à proliferação do vírus.

Por outro lado, nos períodos em que a adesão foi maior, o reflexo também foi de desaceleração na curva de casos. Em Santo André, por exemplo, entre os dias 10 e 12, foram registrados entre 55% e 59% de isolamento. Duas semanas depois – prazo citado por especialistas para gerar reflexo –, entre 24 e 26, houve desaceleração no aumento no número de infectados (14, enquanto outros intervalos similares de três dias tiveram crescimento de 83 contaminados). Cenários similares podem ser percebidos acima nos gráficos em São Bernardo, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires.

“É importante lembrar que existe descompasso e essa queda de isolamento grande vai se refletir daqui a duas semanas, aumentando ainda mais os casos”, salientou o epidemiologista e docente no curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Davi Rumel. “A gente percebe que muitas pessoas já relaxaram o isolamento, especialmente nas periferias, mais acentuadamente desde 25 de abril. O efeito disso nós vamos sentir na primeira quinzena de maio, porque leva um tempo até que os sintomas apareçam. Agora, mais do que nunca, é importante reforçar o uso da máscara, que protege quem a utiliza e também as outras pessoas”, endossou o clínico geral e obstetra Alberto Guimarães.

A última prorrogação do período de quarentena, determinada pelo governador João Doria (PSDB), previa a gradual volta à normalidade a partir do dia 11. Porém, com a curva epidemiológica acentuada, os especialistas não têm essa mesma visão. “Devemos ter em maio período muito difícil devido ao afrouxamento do isolamento. Prefiro estar errado e se estiver, vou dizer que foi ótimo, mas temos que trabalhar com estas projeções”, constatou o professor de infectologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Juvencio Duailibe Furtado, que, apesar da diminuição na adesão ao distanciamento, o enxerga como principal medida. “Não fosse isso, os casos seriam ainda maiores. O crescimento da pandemia no Grande ABC ainda não é desesperador como em outros locais do Brasil e do mundo, mas poderia ser pior não fossem as medidas que foram adotadas até agora”, disse.

BOLETIM
O Grande ABC se aproximou ontem dos 2.000 casos confirmados do novo coronavírus. Dados de cinco das sete prefeituras (Mauá e Diadema não enviaram os boletins epidemiológicos ontem) apontam 1.941 pessoas infectadas pela Covid-19 – 147 a mais que quinta-feira, último dia de abril. Além disso, o número de mortos aumentou para 178, com três novos óbitos em Santo André, que chegou a 55 – apenas um abaixo de São Bernardo. Já com relação aos suspeitos, 4.737 pacientes aguardam os resultados dos testes. 

Prefeitos pedem que Doria feche acesso à Baixada

Autoridades estaduais e municipais apertaram o cerco para conter o avanço do novo coronavírus. Com a queda repentina no isolamento físico – apenas 46% estavam em casa no último dado disponibilizado pelo Estado, de quinta-feira –, prefeitos e o governador João Doria (PSDB) estudam medidas para dificultar ainda mais que as pessoas saiam de casa.

Nove prefeitos da Baixada Santista – Santos, São Vicente, Guarujá, Itanhaém, Peruíbe, Mongaguá, Praia Grande, Bertioga e Cubatão – enviaram documento ao governador pedindo o fechamento da descida da serra. A argumentação é o grande número de veículos que utilizaram o SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes) quinta-feira, véspera de feriado do Dia do Trabalho – a Ecovias não informou quantos veículos seguiram rumo ao Litoral.

 Em São Bernardo, o prefeito Orlando Morando (PSDB) determinou o fechamento da Rodovia Caminho do Mar (Estrada Velha de Santos), entre o Km 33 e o 41,7, exceto para transporte coletivo, moradores e serviços essenciais. O decreto, que entrou em vigor ontem, visa diminuir aglomerações. 

 Na Capital, o prefeito Bruno Covas (PSDB) vai fechar parcialmente a partir de segunda-feira vias importantes da cidade, das 7h às 9h, com apenas uma faixa liberada. Na Zona Sul, será bloqueada Avenida Moreira Guimarães com a Avenida Miruna; na Zona Norte será fechada a Avenida Santos Dumont com Avenida do Estado; na Zona Leste a restrição atinge a Avenida Radial Leste com a Rua Pinhalzinho; e na Zona Oeste, a Avenida Francisco Morato com a Rua Sapetuba.

 RIGIDEZ

 O Ministério Público do Maranhão decretou lockdown (bloqueio total) em quatro municípios da Região Metropolitana de São Luís, por dez dias, a partir de terça-feira pela evolução da Covid-19. São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa são as primeiras cidades brasileiras a adotar esse tipo de restrição, que suspende todas as atividades que não são essenciais à manutenção da vida e da saúde.




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