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Covid-19 muda rotina em velórios e cemitérios

Familiares e amigos se adaptam a novas medidas para última despedida de pessoas, vítimas ou não da doença

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
25/04/2020 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


A pandemia do novo coronavírus mudou o cenário relativo à última despedida de um ente querido. Isso porque, para evitar aglomerações, proliferação e/ou contágio pela doença, velórios e cemitérios tiveram de adotar série de medidas para que familiares e amigos não fiquem expostos. Desta maneira, se o óbito for em decorrência da Covid-19 ou se a vítima tiver suspeita de ter morrido em decorrência do vírus, a indicação é para que o caixão seja lacrado e o sepultamento, instantâneo – a partir de hoje, na Capital, por exemplo, tal procedimento foi determinado pela prefeitura. E mesmo se a morte não tiver relação com a doença, a indicação é para que as despedidas tenham, no máximo, uma hora – informação confirmada por empresas de assistência e serviços funerários.

Ontem pela manhã, no Cemitério do Curuçá, em Santo André, mulher e conhecidos do cobrador de ônibus Severino Marinho da Silva, 55 anos, tiveram de se contentar em dar o adeus de maneira adaptada. Segundo um amigo da vítima, em razão de o hospital ter apontado suspeita do novo coronavírus na morte, ocorreu cerimônia “bem curta”, com caixão lacrado e em uma sala trancada, sem que ninguém pudesse se aproximar.

“A dona Maria (mulher), que estava tendo de lidar com uma dor, teve de lidar com outra: não poder olhar no rosto de seu marido pela última vez e se despedir dele, o que é completamente desumano”, contou Sérgio Roberto, que é pastor da igreja que o casal frequenta na cidade. Depois, coveiros paramentados encaminharam a urna até a sepultura. “Não tivemos como fazer um ofício fúnebre, como de costume, ao lado do caixão, com as pessoas na sala. Se restringiu à citação de um texto bíblico e breve oração ao lado da cova”, lamentou.

De acordo com resolução da secretaria estadual de Saúde emitida dia 20 de março, “em situação de pandemia, quaisquer corpos podem ser considerados de risco para contaminação e difusão da doença”, sendo categorizados confirmados ou suspeitos.

Tal constatação, inclusive, pode ser usada como explicação para confusão que envolveu a morte do cobrador de ônibus. Isso porque, no atestado de óbito de Severino consta como causa mortis “arritmia, choque séptico e abdômen agudo”, sendo que ele havia sido internado no CHM (Centro Hospitalar Municipal) andreense na quarta-feira com crise de apendicite. Ele foi submetido a cirurgia e não resistiu.

Apesar de, aparentemente, a morte de Severino não ter relação com a Covid-19, o hospital chegou a levantar esta suspeita e, também por isso, o velório rápido justamente para preservar os familiares e funcionários do cemitério, já que nem sempre as pessoas infectadas pelo novo coronavírus apresentam sintomas e os testes só são realizados em pacientes sintomáticos. A situação desagradou parte da família pela falta de informação. “A suspeita é legítima. Cabe ao médico suspeitar. Não tem problema. Mas estranhamos que a esposa não foi comunicada e não foi relatada depois”, lamentou Sérgio Roberto. 




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