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O Interior é o futuro

A frase acima já foi dita muitas vezes como uma espécie de profecia sobre o desenvolvimento de polos regionais

Por Wilson Marini
03/05/2010 | 00:00
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A frase acima já foi dita muitas vezes como uma espécie de profecia sobre o desenvolvimento de polos regionais no Estado de São Paulo. Mas agora ela é dita com ênfase por um especialista que estuda a globalização, acaba de visitar a China e comanda um exército de pesquisadores que têm como missão fazer a conexão entre o conhecimento acadêmico e as exigências dos setores governamentais e empresariais nesses tempos de mudança.

O engenheiro João Fernando Gomes de Oliveira tem um pé no Interior Paulista, como professor titular da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, e outro na Capital, como diretor presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o prestigioso IPT. Dessa dupla experiência, ele acena com novas tendências para São Paulo.

"O Interior é muito pujante. Quem vive na Capital não percebe isso. Só quem vai ao Interior é que nota", diz ele.

"Por mais que as ações governamentais sejam positivas na tentativa de desentupir a Capital, como o Rodoanel e novas estações do metrô, ela se esclerosa muito fácil. O caminho é o Interior, que não sofre desses males, tem boa qualidade de vida e infraestrutura."

Por conta dessa nova realidade, que considera "inevitável", Oliveira faz uma advertência: "A visão não pode mais ser limitada ao local, regional. O Interior tem olhar para o mundo, não adianta só olhar para o seu espacinho. Há municípios muito desenvolvidos, mas em outros menores têm muita gente, por falta de conhecimento, investindo e desenvolvendo coisas que numa perspectiva mundial pode não ter futuro."

Interiorização
No IPT, esse conceito se traduz numa espécie de interiorização de suas atividades. Isso é recente se for considerada a história de 110 anos da instituição, que nasceu como um braço da Escola Politécnica para validar materiais de construção e por isso se instalou onde hoje é o campus da USP, na Cidade Universitária, em São Paulo. Ali o IPT movimenta orçamento anual de R$ 190 milhões em serviços prestados por cerca de 1.400 funcionários dos quais mil pesquisadores. Só em 2009 emitiu cerca de 36 mil pareceres técnicos e relatórios tecnológicos. Como órgão vital para alavancar a tecnologia do setor empresarial, descobriu que precisa expandir as suas fronteiras e se capacitar para atuar em outras regiões além da Capital. Já estava em Franca, entrou ano passado em São José dos Campos e agora mira Piracicaba. O IPT "interiorizou", essa é a novidade.

Calçados
Em Franca, um laboratório atende à demanda de empresas fabricantes de luvas, vestimentas e calçados de proteção para aperfeiçoar produtos segundo normas internacionais. A atuação do IPT consiste em recomendar materiais, componentes e processos de produção, e fazer ensaios para testar a qualidade dos produtos. Um apoio fundamental no momento em que a China é um competidor voraz.

Indústria aeronáutica
Em São José dos Campos, o IPT investe em parceria com a Embraer na pesquisa de materiais leves e de menor gasto de energia na fabricação de aeronaves. "O objetivo é ajudar o segmento a avançar tecnologicamente para produzir com mais competitividade. A região tem suas competências tecnológicas já instaladas e nosso papel é o de agregar tudo isso buscando soluções para fortalecer toda a cadeia aeronáutica", afirma o presidente do IPT.

Cana-de-açúcar
O próximo passo será montar uma unidade em Piracicaba para estudar processos termoquímicos de uso da biomassa da cana-de-açúcar. O projeto está sendo costurado com a Prefeitura, universidades e empresas regionais. A meta é possibilitar que as atuais usinas de açúcar e álcool, espalhadas em grande parte do Interior Paulista, sejam no futuro biorrefinarias e com isso produzam a partir da queima do bagaço da cana produtos de maior valor agregado, como biopolímeros.

Mobilidade
O IPT disponibiliza uma frota de 15 laboratórios móveis focados em madeira, plásticos e cerâmica em vans que viajam o tempo todo para o Estado, com articulação do Sebrae e Secretaria Estadual de Desenvolvimento. Cerca de 700 empresas são atendidas por ano. Para as prefeituras, o IPT atua em diagnósticos de áreas de risco. Fez isso na Serra do Mar, nas recentes enchentes em São Luis do Paraitinga e tem atualmente contrato com a prefeitura de São Paulo na prevenção de desastres ambientais. Equipe do IPT realizou estudo de prospecção de argila no Oeste do Estado e identificou a quarta maior reserva de argila do País: cerca de 135 milhões de toneladas, suficientes para abastecer as 70 empresas da região durante um século.




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