Economia Titulo Salário
Remuneração paga pelo comércio recua 10%

Rotatividade, número de funcionários e atividade econômica levaram ao resultado; demais setores fecharam em alta

Por Pedro Souza
26/03/2012 | 07:04
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Enquanto a renda média dos trabalhadores da região subiu 10,4% em 2011 contra o ano anterior, o comércio pagou menos na comparação anual. A remuneração média do segmento caiu 10%, de R$ 1.430,66 para R$ 1.285.

O setor vai contra as demais atividades da região. A indústria teve o melhor desempenho, com alta de 15,3%, de R$ 1.753,36 a R$ 2.021,93. E a remuneração dos prestadores de serviços avançou 7.7%, para R$ 1.587,96.

Os resultados são da mais recente pesquisa socioecoômica do Inpes-Uscs (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano), cuja coleta de dados ocorreu em agosto. Os valores estão corrigidos monetariamente para fevereiro. O instituto considera trabalhadores formais e informais. Para entrar no universo do estudo, os entrevistados devem ter rotina de trabalho de dois dias por semana por mais de três meses.

A rotatividade dos empregados do setor é uma das explicações para o resultado negativo. Com a baixa exigência de qualificação, os funcionários que adquirem mais conhecimentos partem em rumo de novas oportunidades. Junto a isso está o aumento nas vendas, que girou entre 4% e 10% nas sete cidades em 2011. O resultado gerou acréscimo na movimentação das lojas que demandou mais mão de obra. No entanto, o empresário, muitas vezes, não conseguiu acompanhar a elevação na folha de pagamento, pontuou o assessor da presidência da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Nelson Pereira. E a substituição é uma das soluções para os comerciantes.

Com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o coordenador do Inpes-USCS, Leandro Prearo, reforça a ideia de que a rotatividade e a maior demanda por funcionários explicam a queda na renda média. "Com exceção de Rio Grande da Serra, o comércio das outras seis cidades apresentou valor médio de remuneração das contratações, em 2011, bem menor do que os salários daqueles que deixaram as empresas."

Os valores pagos em Mauá para quem entrou no comércio, em agosto, de R$ 992, ficaram 23% distante das remunerações de quem deixou os estabelecimentos, cuja média era de R$ 1.228. Esta é a cidade com a maior diferença entre os valores, segundo dados do Caged.

O presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura, relacionou os passos da economia com o resultado regional. "A conjuntura econômica influenciou. Em 2010, os rendimentos eram maiores porque o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 7,5% no ano. Em 2011 não vimos isso, a alta do PIB foi de apenas 2,7% e os salários assentaram."

Para o diretor do Sindicato dos Comerciários do ABC, Jonas José dos Santos, a redução não foi puxada pelos pisos da categoria, que subiram entre 10% e 11%. "O mais baixo passou de R$ 715 para R$ 797".

Comerciárias sofrem mais quando o assunto é salário

Em comparação com outras atividades, as trabalhadoras do comércio da região têm os salários mais baixos e mais distantes em relação à remuneração dos homens que atuam no setor. A diferença chega a 145%, com a média feminina em R$ 732,59 contra o resultado masculino de R$ 1.800.

Professor José Dari Krein Coordenador, do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp, apresentou duas hipóteses genéricas do comércio para explicar a situação. A primeira é de que pode haver maior concentração de força de trabalho masculina em empresas cujos produtos têm maior valor agregado. "Como em concessionárias de veículos ou vendas de máquinas. E isso poderia puxar a média dos homens para cima."

Por outro lado, Krein opina que ainda existe discriminação no mercado de trabalho. "É geral no Brasil", disse. Mesmo que a legislação brasileira exija que funcionários com o mesmo cargo tenham salários equiparados quando atuam na empresa por mais de dois anos, a rotatividade pode subsidiar os empresários a driblarem essa regra.

Segundo o presidente da Acisbec, Valter Moura, a história vem tomando outro rumo. "A renda da mulher sempre foi inferior à do homem. É cultural. Antes era uma vergonha para o homem ter a mulher colocando dinheiro dentro de casa. Esse fato ainda deixa vestígios na remuneração do mercado de trabalho. Mas em breve não teremos mais essa diferença." Nelson Pereira, assessor da presidência da Acisa, argumentou que cada vez mais as mulheres estão ocupando posições que antes eram vistas como masculinas. "E não há diferença alguma na mão de obra", destacou. 




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