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Metalúrgicos têm saldo de vagas positivo
Michele Loureiro
Do Diário do Grande ABC
01/02/2010 | 07:00
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O Natal teve um motivo a mais para ser comemorado pelo metalúrgico Luis Garamuns Peixoto. Demitido em fevereiro de 2009, o trabalhador recuperou o emprego em dezembro. "Foram meses de pânico enquanto estive desempregado, mas com a retomada da economia, minha vaga voltou", comemora o funcionário de uma autopeça em Diadema.

Apesar da perda de milhares de postos entre novembro de 2008 e junho de 2009, o saldo do emprego metalúrgico na região terminou positivo em 2009, com 1.953 vagas. Assim como Peixoto, esses trabalhadores tiveram boas notícias entre julho e dezembro de 2009.

Dados da Subseção Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, com base no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e RAIS (Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego), apontam início da retomada do emprego metalúrgico na base do sindicato (São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra).

Dos 1.953 postos gerados, 905 foram concedidos pelas autopeças, setor que emprega 24,8 mil trabalhadores na região (9% da soma nacional).

As montadoras (Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz, Scania e Toyota) geraram 831 empregos, contabilizando 30,1 mil trabalhadores, o que representa 28,1% do total do País.

São Bernardo puxou o saldo positivo de empregos do segundo semestre na base, com 1.350 novas vagas, seguida por Diadema (434) e Ribeirão Pires (181). Novembro registrou o pico das contratações de 2009, com 967 novas vagas.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC encerrou 2009 com 97.379 trabalhadores, mas a expectativa é que, ainda no primeiro trimestre de 2010, este número alcance os 100 mil - número atingido em maio de 2008, segundo o presidente da entidade, Sérgio Nobre.

Atualmente, o Brasil tem 2 milhões de metalúrgicos. No segundo semestre de 2009, foram feitas 70.207 contratações em todo o País, ante as 140.473 demissões registradas no primeiro semestre do ano passado.

Para o presidente do sindicato, o resultado positivo no segundo semestre de 2009 revela que a crise foi mais branda e mais rápida do que o alardeado. Durante o ano todo, afirma o dirigente, o sindicato mobilizou a categoria. Além disso, segundo Nobre, o governo federal agiu com rapidez para evitar que a crise gerasse mais desemprego e adotou medidas, como redução do IPI (imposto sobre Produtos Industrializados) e dos juros, que garantiram a manutenção e geração de empregos em setores vitais, como a construção civil, indústria automotiva e comércio.

Dificuldades - A indústria de transformação foi um dos setores que mais demoraram a registrar saldo positivo de emprego em 2009. Dados do Caged do Ministério do Trabalho, mostram que apenas em abril, com a criação de 183 empregos, a indústria de transformação teve saldo positivo de contratações, desde o início da crise financeira internacional, em setembro de 2008.

Nos meses seguintes, a indústria registrou somente saldos positivos de contratações. A exceção foi dezembro, que teve déficit de contratações, com o fechamento de 166.040 postos de trabalho. Em 2009, a indústria fechou com saldo de 10.856 novos empregos. No consolidado do ano, foram criados 995.110 empregos com carteira assinada em todos os setores no País.

Trabalhadores da região têm maiores benefícios
Os salários dos metalúrgicos de São Bernardo encabeçam o ranking de benefícios do segmento no País. Um montador de linha tem remuneração média de R$ 3.434,51 na cidade da região, enquanto o trabalhador que exerce a mesma função em Catalão (GO) é remunerado com R$ 1.232,78. A diferença é de 64,2%.

Segundo Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a disparidade pode ser explicada por um conjunto de fatores. "Primeiramente temos de analisar o tempo de existência das montadoras em cada localidade. No Grande ABC, as companhias estão instaladas há décadas, por isso, ao longo dos anos, os trabalhadores foram ganhando poder de compra", explica.

Além disso, o sindicalista destaca a tradição do Grande ABC no setor. "Aqui temos gerações de trabalhadores metalúrgicos, há uma especialização maior e com isso nossos índices de produção são bem superiores", destaca Nobre.

Outro ponto citado pelo dirigente é a forte presença sindical. "A região é palco das maiores conquistas trabalhistas do País, isso também é refletido nos ganhos dos trabalhadores."

Mas Nobre acredita que a tendência é que a disparidade diminua com o decorrer do tempo. "A situação deve ficar menos distante daqui para frente, pois as lideranças sindicais se espelham nas nossas conquistas e as montadoras vão se consolidar nesses locais", projeta.

Melhorias - Apesar de concentrar os melhores salários do País, Nobre afirma que a região tem de melhorar inúmeros pontos. "Questões como logística, segurança e infraestrutura estão no topo da lista que precisa ser aprimorada. Com a abertura do Rodoanel, em março, pode ser que a logística melhore. Mas nenhuma empresa quer fazer hora extra e temer que o funcionário seja assaltado na saída do trabalho, ou mesmo não saber se seus colaboradores vão chegar ao emprego por causa das enchentes. Ainda há muito trabalho pela frente", finaliza.

Segmento de autopeças preocupa sindicato
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, prevê um ano de conquistas para os trabalhadores e para a produção de veículos, mas assinala que alguns segmentos preocupam. O setor de autopeças, por exemplo, tem "luz amarela", segundo o sindicalista.

Nobre explica que a importação de peças poderá comprometer o segmento. Segundo ele, muitos países produtores estão com as peças estocadas, devido à crise financeira internacional, e buscam mercados emergentes, como o Brasil, para comercializar estes itens.

"O ano tende a ser de recorde na produção de veículos, mas a importação dos componentes preocupa, afinal, a maioria das peças está sendo importada pelas montadoras com preços mais baixos, uma vez que os mercados externos ainda têm rescaldos da crise. Como o setor de autopeças tem presença importante na nossa base, isso poderá trazer problemas com a manutenção dos empregos", destaca o presidente do sindicato.

Nobre não soube precisar qual é a participação das peças importadas na produção nacional de veículos. "Solicitei que fosse feito um estudo sobre isso, mas posso afirmar que é uma participação muito significativa. Por isso, precisamos nos empenhar em iniciativas que reforcem a produção local", afirma.

Recuperação - Apesar da preocupação com o segmento de autopeças, Nobre comemora a recuperação do setor metalúrgico. "Apesar de termos enfrentados momentos difíceis, 2010 tem tudo para ser um ano de notícias positivas. Estamos otimistas quanto aumento de produção e novas contratações na região".




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