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Chega a Sto.André a obra que faz referência ao assassinato de Celso Daniel
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
09/09/2005 | 08:30
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Quando a mostra Sobre a Terra do Sol foi apresentada na Casa Triângulo, em São Paulo, durante março passado, a Prefeitura de Santo André cedeu um ônibus para levar até o local freqüentadores da Casa do Olhar, pessoas da região interessados em apreciar a individual do artista plástico paulistano Pazé. Agora, a exposição chega à cidade. A abertura é às 19h30 de sexta-feira no Salão de Exposições do Paço Municipal, onde fica em cartaz até o próximo dia 24, com entrada franca.

O motivo do interesse despertado pela instalação Sobre a Terra do Sol em pessoas do Grande ABC é bem claro: diz respeito sobretudo a um elemento da obra, a fotografia em grande formato (1,90m x 4,49m) intitulada Estrada da Cachoeira ou Floresta Sem Fim.

A foto registra um ambiente bucólico de Juquitiba (SP), imagem na qual figura uma sinuosa estrada de terra em meio a densa vegetação. Só que, por trás da beleza natural da paisagem, há um significado sangrento.

Local de desova utilizado por criminosos, foi nessa estrada que em janeiro de 2002 encontraram o corpo de Celso Daniel, então prefeito de Santo André assassinado a tiros. O caso foi utilizado por Pazé para colocar o dedo na ferida de uma questão que assola o Brasil: a violência urbana.

A idéia do artista plástico foi tratar da sistematização da violência. Segundo Pazé, o caso de Celso Daniel é um exemplo dessa sistematização.

A foto de Juquitiba forma um conjunto com duas outras composições. Pelotão de Fuzilamento ou Relógio de Tiros, colocada no espaço expositivo na extremidade oposta à imagem, traz nove soldadinhos de brinquedo lado a lado. Em sincronia e seqüencialmente, eles avançam e levantam o braço apontando o dedo, simulando arma de fogo.

A outra obra chama-se Tabuleiro. Fica no chão, entre a fotografia e os soldadinhos. É um piso com motivo enxadrezado, em preto-e-branco. As peças do tabuleiro são redondas e móveis, então podem ser manipuladas pelos visitantes da mostra.

Assim, fica bem fácil entender a composição de Pazé. Enquanto as pessoas apreciam a fotografia, os soldadinhos as atingem pelas costas. O tabuleiro mostra que o que está em jogo é a vida.

A mostra é composta ainda por cinco ampliações de cartas de baralho que trazem desenhos sobrepostos, motivos dos índios kadiwéu recolhidos em 1949 por Darcy Ribeiro. Os desenhos dos índios são parecidos com os dos naipes.

A opção de Pazé de utilizar os motivos dos kadiwéu refere-se ao fato de que eles sistematizavam a morte. Esses índios do Pantanal Mato-grossense cometiam, por exemplo, infanticídio: das crianças tidas por uma mulher, só a mais nova era poupada.

A turma do Grande ABC que visitou a exposição em São Paulo foi recebida por Pazé. Em Santo André, o artista plástico também falará com o público, no próximo dia 17, às 10h30.

Sobre a Terra do Sol – Mostra individual de Pazé. No Salão de Exposições do Paço Municipal – praça IV Centenário, s/nº, Santo André. Tel.: 4433-0605. Abertura: nesta sexta-feira, às 19h30. Visitação: de terça a sábado, das 14h às 17h e das 18h às 21h. Entrada franca. Até o dia 24.




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