Setecidades Titulo
Nem vizinhos conhecem associações de bairro
Por Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
14/03/2010 | 07:43
Compartilhar notícia


Com atuação cada vez menos combativa, as associações de bairro passam, muitas vezes, desapercebidas até para seus vizinhos. O Diário visitou algumas dessas entidades em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá e foi também a casas e lojas vizinhas para saber a opinião da população sobre o trabalho desenvolvido pelas associações. Muitas pessoas, apesar de morarem ou trabalharem a poucos metros das sedes das organizações, sequer sabiam de sua existência.

A farmacêutica Marta Aparecida Souza Pontes, 41 anos, de Diadema, não sabia que, atravessando a rua onde está instalado seu estabelecimento, na Vila Nogueira, existe uma associação de bairro. "Estou aqui há 20 anos e nunca tive nenhuma informação sobre este lugar. Certa vez me falaram que parecia ser um ponto da Prefeitura, mas nunca soube ao certo."

A falta de visibilidade das associações talvez se deva a mudança de perfil que sofreram através da história.

As primeiras entidades surgiram no Brasil da década de 1930, com o intuito de cobrar das autoridades melhorias para os bairros - como pavimentação, iluminação, segurança, entre outras demandas.

Hoje, de maneira geral, as entidades têm cunho voltado ao assistencialismo. A maioria oferece cursos à população, atividades esportivas para crianças e realiza encaminhamentos profissionais. Há também distribuição de alimentos fornecidos por programas governamentais.

Para a pesquisadora da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Dulce Maria Tourinho Baptista, os cidadãos é que têm comportamento clientelista. "Eles procuram vale-transporte, atendimento odontológico e outras coisas."

MUDANÇA DE ATUAÇÃO
Um dos fundadores da Sabajazac (Sociedade Amigos de Bairro do Jardim Zaíra e Circunvizinhos), em Mauá, Olivier Negri Filho, 57, lembra que, em 1962, quando foi fundada a entidade, o forte da associação era a reivindicar melhorias para o bairro que acabara de nascer.

"Tínhamos que conquistar coisas de primeira necessidade, como instalação de postes de luz, canalização e pavimentação. Esses problemas mobilizavam até a igreja."

Atualmente, a Sabajazac tem uma creche, oferece atividades esportivas para adolescentes, aulas de dança de salão e artesanato para a terceira idade, além de ser ponto de entrega do programa Vivaleite, do governo do Estado. "Hoje é nítida a diferença no comportamento das pessoas. As participações mais ativas ficaram tímidas", explicou Negri Filho.

Líderes comunitários com diferentes formações

Os líderes comunitários que comandam as associações de bairro do Grande ABC têm histórias de vida bastante diversas. Tratam-se de donas de casa, comerciantes, autônomos ou até filhos de antigas lideranças que seguiram os passos dos pais.

Aos 9 anos, o diretor de escola e sociólogo Olivier Negri Filho, de Mauá, já presenciava as reuniões que o pai, Olivier Negri, fazia com a população para conscientizãção sobre a necessidade de lutar por melhorias no embrionário Jardim Zaíra II.

"Cresci naquele ambiente e nunca mais quis sair. Passei momentos difíceis, principalmente na época da ditadura. Tanto que fui preso com outros amigos na adolescência por participação nesses movimentos populares. Aquela época deixou muito medo nas pessoas do Zaíra. Tudo era motivo para prender alguém."

O diretor - que comanda uma escola estadual no bairro - contou que, em sua casa, em 1968, o sociólogo e ativista dos direitos humanos Herbert José de Sousa, o Betinho, recebeu abrigo.

Já a presidente da Associação de Moradores da Vila Nogueira, de Diadema, Regina Del Rei de Lima, resolveu reunir a comunidade para buscar soluções para o bairro a partir de 1979. Ela fazia reuniões nas casas dos moradores, e que, de lá, surgiam mobilizações.


Organizações rejeitam o rótulo de assistencialistas

A presidente da Associação Beneficente Jardim Santo André e Adjacências, em Santo André, Sônia Cristina Augusto da Silva, 42 anos, defende que, apesar de receber basicamente pedidos de ajudas particulares (de cestas básicas, roupas e encaminhamento de currículo), a atuação da comunidade ainda é muito forte.

"Todos os dias recebemos pessoas dispostas a formar grupos para cobrar da Prefeitura melhores condições de Saúde, urbanização, Lazer. Muitas mães de cinco ou seis filhos, não vêm aqui somente para apanhar leite", diz Sônia.

Em Diadema, a Associação de Moradores da Vila Nogueira oferece cursos de computação e distribui cestas básicas. "A nossa comunidade é participativa e briga por melhorias. Fundamos a associação em 2002 e em 2003 conseguimos um posto policial para a Praça da Vila Nogueira", conta a presidente Regina Del Rei de Lima, 52.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;