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Produçao de Pernambuco vence festival em Goiás
Por Do Diário do Grande ABC
06/06/1999 | 15:20
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"Recife de dentro pra fora", da pernambucana Kátia Mesel, é o grande vencedor do 1º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica). O filme ganhou o troféu Cora Coralina e prêmio em dinheiro de R$ 20 mil. O melhor longa foi "Dársena Sur", do argentino Pablo Reyeres. O prêmio para média-metragem ficou com Alice de Andrade brasileira radicada na França, que trouxe a Goiás seu Le Pari Burkinabé. O melhor curta-metragem ficou para "Nord-Sud", de Dominique Soyer, também da França. Ganharam mençoes especiais "Bocamina", do espanhol Javier Codesal, e "Wars of the British Tree People", do inglês Mark Stucke. A melhor produçao goiana foi "A Lenda da Arvore Sagrada", de Eládio Garcia Sá Teles. O prêmio Unesco foi para "A'uwe Uptabi" - "O Povo Verdadeiro", de Angela Pappiani e Christina Florida, que venceu também o troféu Jangada, da Ofício Cinematográfico Católico Internacional (Ocic), com "Bubula", o Cara Vermelha, de Luiz Eduardo Jorge.

O que se pode dizer é que os júris agiram com precisao cirúrgica. Em termos estritamente cinematográficos, podem-se lamentar algumas omissoes, como o emocionante "Por Longos Dias", de Mauro Giuntini, ou o sistemático desconhecimento de longas-metragens de valor como No Rio das Amazonas, de Ricardo Dias, ou "Terra do Mar", da dupla Eduardo Caron/Mirella Martinelli. Além disso, segundo afirmou seu presidente, o jornalista e ambientalista Washington Novaes, o júri teve de contornar diversas dificuldades na apreciaçao do material. Entre elas, definir se o núcleo temático do vídeo ou filme era ou nao ambiental. Por isso sugeriu que nas próximas ediçoes os critérios de seleçao dos concorrentes sejam de tal forma explicitados que a questao ambiental esteja realmente no centro de cada obra.

Nada se pode objetar à vitória de "Recife de dentro pra fora". Em sua justificativa de prêmio, o júri diz que a escolha se deveu à "centralidade da questao ambiental, o tratamento dado à relaçao entre meio ambiente e pobreza no meio urbano do nordeste brasileiro e a originalidade da linguagem poética e musical, com economia de recursos".

Na mosca. Kátia Mesel começa o filme por uma sofrida entrevista com o poeta Joao Cabral de Melo Neto, doente e com dificuldades de fala, descrevendo sua relaçao com o rio de sua cidade e sua infância, o Capibaribe. Em seguida, a narrativa, de grande expressividade visual, é guiada pelo poema musicado "O Cao sem Plumas", de Joao Cabral. A relaçao entre o meio ambiente, belo e ao mesmo tempo degradado, e o homem, senhor do seu meio e também escravo de condiçoes sociais abjetas, é expressa com toda graça poética.

Polêmicas - Nao se pode dizer que o tempero da polêmica tenha ficado ausente da ediçao inaugural do Fica. O presidente da organizaçao nao governamental Assembléia Ecológica Permanente o médico Roberto F. Lenox, disse que a "dimensao sociopolítica do evento" tinha sido prejudicada porque as ONGs que tratam do meio ambiente nao foram convocadas. Segundo Lenox, como o Fica é organizado com dinheiro público (teria custado R$ 917 mil, segundo seu depoimento), tem obrigaçao de prestar contas à sociedade civil.

Procurado, o cineasta Joao Batista de Andrade, coordenador-geral do evento, disse que, de fato, cerca de cem cartas de convite às ONGs deixaram de ser entregues devido a problemas de saúde do presidente da Fundaçao do Meio Ambiente de Goiás, Paulo Souza Neto, que deveria tê-las postado. "Na próxima ediçao isso nao se repetirá e as ONGs serao contatadas" promete.

O segundo atrito nao se deu em termos tao civilizados. Durante o show de lançamento de livros, sábado à noite, perto da piscina do Hotel Vila Boa, alguém pediu a palavra para lembrar o nome do "verdadeiro idealizador" do Fica, o publicitário Luiz Gonzaga, morto meses atrás, numa briga de bar. Joao Batista de Andrade nao se fez de rogado e retrucou que o governador Marconi Perillo, em pessoa, o convocou a assumir a coordenaçao-geral. Pior foi quando outro dos idealizadores passou a discutir com Andrade e partiu para o ataque, tentando agredir o cineasta. "Tudo nao passa de ciumeira por causa do sucesso do evento", retrucou o diretor, mineiro de Ituitaba, agora radicado em Goiás.

De fato, baixarias à parte, toda essa disputa por prioridades é sintoma de que o Fica deu muito certo. Em matéria de política, ninguém reivindica paternidade quando a criança nao tem saúde e boa aparência.




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