Única estréia nos cinemas esta semana, Demolidor – O Homem Sem Medo (Daredevil, EUA, 2003) traz o galã Ben Affleck como o herói cego da HQ da Marvel Enterprises. Não é a primeira vez que a empresa vende um personagem para a indústria de Hollywood. Foi graças às parcerias cinematográficas do produtor-executivo Avi Arad que a Marvel saiu do buraco – sua dívida, em 1995, era de US$ 2 bilhões. A primeira adaptação foi o obscuro Blade (1998), com Wesley Snipes, seguido de dois megasucessos, X-Men (2000) e Homem-Aranha (2002). Só este último faturou cerca de US$ 1,4 bilhão em bilheteria e venda de DVDs.

Demolidor estreou bem nos Estados Unidos, com uma arrecadação de US$ 43 milhões no primeiro fim de semana de exibição. No Brasil, chega em 350 salas – dez delas na região –, o que lhe confere o título de arrasa-quarteirão. E vem com extras, já que o inédito trailer de X-Men 2, que mostra novos personagens como o Homem de Gelo, acompanha todas as cópias.

O Demolidor faz parte de uma série de personagens criados numa época de tensão e incertezas. A Marvel queria que os heróis fossem pessoas comuns, com as quais os leitores pudessem se identificar. Surgiram, também nessa fase, os célebres Homem-Aranha, o Homem de Ferro, X-Men, o Quarteto Fantástico e o Incrível Hulk, cujo longa-metragem chega às telas em junho. Em 1964, depois de pesquisar sobre deficientes visuais, Stan Lee e Bill Everett criaram Matt Murdock, um garoto que, após um acidente, perde a visão e desenvolve os outros sentidos de forma fenomenal.

O personagem continuou popular nos anos 60 e 70, mas quando Frank Miller assumiu o projeto em 1980, o Demolidor tornou-se uma das mais importantes e mais vendidas revistas em quadrinhos da Marvel. Miller deu às histórias um tom sombrio e realista, inédito no universo das HQs. Foi a partir desta fase que o diretor Mark Steven Johnson começou a construir a primeira incursão do personagem na sétima arte.

Demolidor faz a introdução do herói que, ainda menino (David Keith), sofre um acidente químico e perde a visão. Isso acontece depois que ele vê o pai, Jack (David Keith), um ex-pugilista conhecido como Demolidor, atuando como capanga de um criminoso. Jack é assassinado e Matt cresce com um juramento em mente: fazer justiça.

Matt se empenha no treinamento de seu corpo, mente e sentidos. Já adulto (Affleck), torna-se um advogado atuante no Hell’s Kitchen (a Cozinha do Inferno) de Manhattan. Sócio de Franklin Nelson (Jon Favreau) em um pequeno escritório, ele trabalha legalmente durante o dia e, à noite, veste seu uniforme vermelho e faz justiça com as próprias mãos.

As seqüências de ação de Demolidor usam os mesmos recursos já vistos em Homem-Aranha – os movimentos ágeis do herói são acompanhados por muito rock pesado. Falta emoção à história cinematográfica, que apenas se apóia nos quadrinhos sem criar sua própria identidade. Mais interessante é a personagem Elektra (a sarada Jennifer Garner, da série Alias) que, quando entra em cena, faz sair faíscas da tela.