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Bolshoi traz tradiçao e orgulho ao Brasil
Mônica Santos
Da Redaçao
02/05/1999 | 17:12
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O Ballet Bolshoi, fundado na Rússia há mais de 200 anos, volta a se apresentar no Brasil este ano, quase uma década depois de sua última temporada no país. Em Sao Paulo, a companhia russa dança no Theatro Municipal de Sao Paulo, de 11 a 16 de maio, com suas principais estrelas. Os ingressos já estao à venda.

A companhia, criada em 1743, em Moscou, atualmente é comandada pelo bailarino Vladimir Vassiliev, 58 anos, que desempenhou praticamente todos os papéis principais dos repertórios clássico e contemporâneo do Bolshoi e é o único detentor do título de Maior Bailarino do Mundo, conferido em 1964 pelo júri do Concurso Internacional de Balé de Varna, na Bulgária.

Vassiliev tornou-se diretor-principal artístico do Teatro Bolshoi em março de 1995 e, desde entao, além de desenvolver um novo programa artístico, é o responsável por uma série de mudanças no processo criativo da companhia. Em entrevista ao Diário, concedida por fax, Vassiliev falou da estrutura atual da companhia, de suas estrelas e da crise financeira enfrentada há alguns anos, entre outros assuntos. Leia trechos:

   DIARIO - Qual a formaçao atual do Ballet Bolshoi e quais suas maiores estrelas?
VLADIMIR VASSILIEV - No corpo de baile sao 142 bailarinos, sendo que 61 sao solistas. Podemos destacar Petrova, Tsiskaridze, Filin, Belogolovtsev, Gratcheva, Peretokin e Antonitcheva, entre muitos outros. Além dos bailarinos, temos 20 professores e muitos outros profissionais. No total, o Bolshoi tem 1,5 mil pessoas em sua folha de pagamento.

DIARIO - O Kirov continua sendo formador de bailarinos para o Bolshoi? Apesar de alguns bailarinos das duas companhias terem se apresentado juntos no Brasil, em 1992, é inevitável nao falar da rivalidade que sempre marcou a convivência das duas companhias. Como vocês encaram isso?
VASSILIEV - O Kirov nunca foi formador de bailarinos do Bolshoi, existe aí uma grande confusao. Temos escolas completamente diferentes, e raramente existe uma transferência de bailarino para lá e para cá. A rivalidade é sadia. Convidamos solistas do Kirov para dançar no nosso teatro e vice-versa. Também temos um intercâmbio com relaçao a coreografias. Hoje somos duas companhias lutando para se consolidar, e vamos nos ajudar mutuamente no que for preciso.

DIARIO - O Ballet Bolshoi carrega o título de embaixador da dança da Rússia. Qual é a responsabilidade de conviver com isso?
VASSILIEV - Nos sentimos satisfeitos e em nenhum momento nos inibimos com o título, muito pelo contrário, acho que queremos sempre nos aprimorar mais, fazer jus a ele.

DIARIO - Muitos bailarinos, durante a direçao de Yuri Gridovorich, denunciaram a administraçao de caráter autoritário que imperava na companhia. Alguns chegaram a abandonar o Bolshoi em busca de alternativas onde pudessem exercer maior criatividade. A sua direçao permite a criaçao por parte dos bailarinos?

VASSILIEV - Eu nao creio que isso seja muito importante para um balé. Os bailarinos têm uma funçao muito diversa, de representar o que é escrito, de serem artistas. Criar só é permitido a um grande bailarino, quando se quer dificultar algum passo ainda mais. A criatividade tem de estar com os coreógrafos.

DIARIO - Para o Brasil, o Bolshoi é sinônimo dos grandes balés clássicos do século passado. É assim que a companhia segue para o próximo século?
VASSILIEV - Em parte, sim. Nunca deixamos os clássicos do nosso repertório, mas estamos incorporando novas peças, de tal modo que sempre possamos ter o equilíbrio entre o clássico e o contemporâneo.

DIARIO - A nova estrutura política da Rússia atingiu a companhia, que sempre foi sustentada pelo Estado. O mundo tomou conhecimento da crise que o Bolshoi enfrentou. Como você lidou com as mudanças e de que maneira a companhia sobrevive atualmente?
VASSILIEV - Como qualquer órgao, teve de haver uma grande adaptaçao. Antes nao nos preocupávamos com verbas. Hoje, sobrevivemos com 40% de verba do governo e o restante com patrocínio de empresas privadas, renda de gravaçoes e turnês.

DIARIO - O que os bailarinos acharam disso?
VASSILIEV - Acho que todos estao conscientes de que temos um grande caminho pela frente, de que agora somos nós que temos de resolver os problemas. Isso gera maior responsabilidade e envolvimento. Quanto à rotina, é a mesma: trabalho e trabalho.

DIARIO - Você já esteve no Brasil? O que acha de trazer a companhia para um país que nao tem tradiçao de dança?
VASSILIEV - Eu estive no Brasil nos anos 80, com minha mulher. Na época, fazíamos parte das estrelas do Bolshoi. Eu acho que estar no Brasil, ou em qualquer outra parte do mundo, é sempre positivo e isso independe de tradiçao. Sempre é uma forma de assimilaçao de cultura, de permitir que as pessoas vejam, entendam e aprendam.

DIARIO - Como você analisa o fascínio do mundo com o balé clássico?
VASSILIEV - Acho que é o mesmo que existe em ouvir uma grande sinfonia de Beethoven. Sao patrimônios da humanidade, obras que foram feitas há muito tempo, e as pessoas ainda têm o que aprender com elas.




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