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Lula perdeu a chance de ser um operário-estadista, diz Tito Costa

Ex-prefeito de São Bernardo revela decepção com o ex-presidente diante da crise política no País, relembrando amizade no período sindical

Por Fabio Martins
22/09/2015 | 07:00
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Decepção. Este foi o sentimento escolhido pelo ex-prefeito de São Bernardo Tito Costa (1977-1982) ao descrever sobre como vê o legado deixado pelo ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu aliado e amigo no início dos anos 1980.

O ex-chefe do Executivo são-bernardense, hoje sem partido político e com 92 anos, publicou no jornal Folha de S.Paulo carta aberta ao ex-chefe da Nação, relatando o período de convivência entre 1979 e 1981, início das grandes greves no País que eram lideradas pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – presidido pelo petista.

Para Tito, o ex-presidente perdeu a chance de materializar liderança histórica no País, ao lamentar postura do petista diante dos recentes escândalos de corrupção envolvendo o PT.

“Estou preocupado com os rumos que o PT está colocando no Brasil. O partido mostrou que, em vez de um projeto para o País, tinha projeto de poder. Com tristeza, digo que o Lula perdeu a chance de ser um operário-estadista”, pontuou. “Busquei publicar a carta pela dificuldade em conseguir falar com ele. Tentei por várias vezes contato, por meio do Instituto Lula, e jamais consegui.”

Engajado na defesa de seu argumento e ainda ativo na carreira – atua como advogado –, o ex-prefeito relatou período de parceria com Lula, destacando sua liderança nos tempos de sindicalista. “Minha amizade com o Lula começou há muito tempo. O sindicato apoiou minha candidatura a prefeito. E eu retribui oferecendo o poder que tinha, como chefe do Executivo, para eventuais dificuldades com o sistema que tinha no País. São Bernardo ficou reconhecida pelo início do movimento (sindical), porque o Lula estava lá”, adicionou.

Em seu artigo publicado, Tito relatou minuciosamente atuação de parceria com o ex-chefe da Nação, lembrando de situações conflituosas como a ocasião de tê-lo refugiado em seu sítio em Torrinha, no Interior. “O Lula e sua família ficaram lá. Ele era um líder destacado. E, agora, deixou escapar das mãos a oportunidade histórica de liderar a implantação de urgentes mudanças estruturais na máquina do poder público”, considerou.

Durante o período que comandou o Executivo de São Bernardo, Tito era filiado ao MDB, sigla que formava frente de oposição num tempo em que os partidos políticos eram proibidos. Continuou quando o MDB virou PMDB, na liberação de criação de partidos políticos, em 1979.

“Meu objetivo com a carta é lembrar ao Lula que o Brasil esperava muitos mais dele. Falei isso da maneira mais respeitosa, por conta de toda amizade e convivência que tivemos”, descreveu.

O ex-prefeito afirmou não ter pretensões em obter respostas do ex-presidente, salientando que sua escrita foi embasada em trazer colaboração “à possível mudança de postura” diante da crise que afeta a classe política. “Espero que os meus dizeres tragam reflexão ao Lula, porque foi uma colaboração de amigo, que passou junto com ele as dificuldades de um período conturbado de opressão. Espero que a repercussão da carta seja boa.”

Depois de comandar o Paço são-bernardense, Tito foi eleito deputado federal pelo PMDB, entre 1987 e 1990. Na eleição de 1992, foi eleito vice-prefeito na chapa que era liderada por Walter Demarchi.




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