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Simão conversa com família e quer voltar

Parentes do morador de rua entraram em contato com o Diário; eles se falaram após 25 anos

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
22/03/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O morador de rua Simão Pinheiro da Costa, 43 anos, quer voltar para casa. Ele, que passa as noites embaixo da proteção de uma doceria na esquina entre as avenidas Itamarati e Antônio Cardoso, na Vila Curuçá, em Santo André, há três anos, vai para o Maranhão.

A reportagem do Diário, publicada há uma semana, ajudou a família de Simão a encontrá-lo. A secretária de Comunicação de Buriti Bravo, cidade onde ele nasceu, compartilhou a matéria no Facebook. As primas de Simão acabaram lendo e entraram em contato com a equipe de reportagem.

A prima Tatiana Rossany é tenente da Aeronaútica e está de férias em Buriti Bravo. “Quando lemos a reportagem, tomamos um susto. Ele foi para São Paulo em 1989 e, desde então, não conseguimos mais contato. Chegamos a pensar que estava morto.”

A madrinha Raimunda da Silva, 59, é professora e continua morando na cidade de origem de Simão. “Eu me casei com o tio dele e, junto com a avó dele, fui responsável por sua criação. Nunca mais tivemos contato com a mãe dele, que fugiu quando ele nasceu. O pai tem outra família.”

O tio de Simão, Tomé Cosme da Silva, 59, é lojista e, em conversa telefônica, fez a proposta para que ele retornasse. Ele falou bastante sobre o jeito do sobrinho. “Simão sempre foi muito quieto e bem calmo. Várias vezes precisávamos buscá-lo, porque ficava andando por aí. Queremos que ele volte. A gente pode arrumar o dinheiro se ele quiser.”

Mesmo com o empecilho da distância, um celular foi levado até Simão para que ele conversasse com a família. Antes, o morador de rua viu a foto enviada pelos parentes pelo aparelho. Na porta da casa em que ele cresceu, seguravam cartaz com os dizeres ‘Simão, estamos com saudades!.’ Um enorme sorriso brotou em seu rosto e lágrimas em seus olhos. “São eles? Como a minha prima cresceu! Lembro dela pequena. Que saudades da minha madrinha e do meu tio!”

Com o telefone em mãos, o número da prima foi discado. Nervoso, Simão pegou o celular e perguntou “É só falar?”. Por cerca de 10 minutos, o morador de rua matou as saudades da família. A última vez que falou com um deles foi em 1990, há 25 anos.

Simão perguntou de muitas pessoas, seus amigos e conhecidos. Referências que estavam há muito esquecidas em sua mente. Porém, não mencionou o pai e a mãe. Emocionou-se. Ficou surpreso ao saber da morte do primo que o trouxe para São Paulo para trabalhar na loja de discos. Relembrou a avó que o criou.

No momento da proposta do retorno, Simão pareceu ficar em dúvida. “Você sabe que eu sou morador de rua, né? Também tenho os cachorros.”

Porém, com o término da ligação, havia uma única certeza. Simão quer voltar para o Maranhão. “Eles disseram que vão pagar a minha passagem e também a dos cachorros. Estou muito agradecido a vocês, eu não esperava que um dia ia voltar a falar com eles. Muito obrigado”, disse, emocionado.

O morador de rua, que não tinha planos, sonhos ou aspirações para o futuro na primeira entrevista, parecia outra pessoa nesta segunda vez. Falou em voltar a estudar e do trabalho na roça, do qual diz sentir falta. Imaginou os cachorros correndo e conhecendo a nova moradia. Sorriu. “Pensava que estava sozinho no mundo. Pensei tanta coisa da minha família, que não se lembravam mais de mim e não me reconheceriam. Agora sei como eles estão e só de falar pelo telefone consegui matar um pouco da saudade. Quero voltar.”

Agora, é aguardar os próximos acontecimentos desta história, que já tem final feliz.




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