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Quinta-Feira, 18 de Abril de 2024

Intervenções em áreas ociosas
Por Gisele Yamauchi
Andréa de Oliveira Tourinho*
11/09/2020 | 00:05
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Entre o período de 1950 a 1980, a região do Grande ABC recebeu massivos investimentos de montadoras de automóveis, eletroeletrônicos, indústrias químicas e autopeças, entre outras. Mas a partir de 1990, as ideias neoliberais (que criticavam a forte presença do Estado) ganharam maior espaço nos governos, num cenário de globalização econômica, financeira e produtiva, acentuando a problemática da diminuição nas estruturas das empresas e o encerramento das atividades das plantas de produtos possíveis de serem produzidos em outros lugares com custos menores. Este fenômeno, denominado por vários autores de desindustrialização ou reestruturação produtiva, levou ao surgimento das áreas industriais ociosas e à crise de várias cidades no globo, principalmente em países periféricos. Neste contexto, a problemática dessas áreas ociosas na região do Grande ABC foi objeto de nosso estudo na 13ª Carta de Conjuntura do Observatório Conjuscs e no XV Seminário de História da Cidade e Urbanismo.

Na década de 1990 houve uma intensa construção entre os atores sociais (Consórcio Intermunicipal, Agência do Desenvolvimento Econômico, Ciesps, sindicatos e universidades, entre outros atores) em prol do desenvolvimento regional, pautando discussões na manutenção da indústria na região e visando soluções das áreas industriais ociosas. Desses diálogos, surgiu o Projeto Eixo Tamanduatehy, implementado parcialmente sob a forma de investimento do poder público, em parceria com o setor privado a partir de 1997. Sob a égide das ideias neoliberais, o projeto acabou contemplando a lógica do mercado de consumo e da especulação imobiliária, deixando de lado os projetos voltados para o âmbito social.

De 1989 até hoje, todos os municípios do Grande ABC seguem apresentando o problema das áreas industriais ociosas. Mas, a partir do início do ano de 2000, houve uma reconfiguração da dimensão dessas áreas industriais ociosas, de grandes para pequenas e médias áreas. Persiste, assim, o desafio a ser enfrentado pela região: desde a manutenção da indústria até a concepção de projetos de intervenção urbana, convertendo esses locais ociosos em novos espaços de uso para comércio, residências, cultura, lazer e turismo.

O Projeto do Eixo Tamanduatehy acabou se tornando o modelo a para as cidades do Grande ABC, levando à aplicação de sua lógica a projetos urbanos localizados nas cidades de São Bernardo (na antiga Brastemp e Tecelagem Tognato), São Caetano (na antiga Cerâmica São Caetano), Mauá (na antiga Porcelana Schmidt) e Ribeirão Pires (na antiga Tecmafrig e Ugimag), entre outros. As obras de intervenção urbana já executadas deram espaço a novas atividades de comércio e serviço, gerando empregos, renda e arrecadações de tributos. No entanto, verifica-se o limite deste tipo de proposta, pois há poucos projetos voltados para a manutenção da indústria e para a sociedade. Ademais, inexistem estudos ou discussões no âmbito regional que ofereçam alternativas de reconversão industrial, permitindo, assim, a sua manutenção em áreas industriais ociosas, bem como intervenções urbanas que tenham o foco também no lazer, cultura, entretenimento e turismo.

Durante os anos de 2001 a 2019 não houve uma discussão específica sobre a realidade, as dimensões do problema e as soluções da problemática das áreas industriais ociosas. Além disso, a não abordagem específica sobre as realidades que envolvem essa problemática ociosa mostra que o protagonismo exercido pelos atores sociais sobre o problema durante a década de 1990 enfraqueceu. Há uma urgência de retomada da discussão do problema no âmbito regional em várias esferas da sociedade civil e de conhecimento das novas realidades do problema. Pela complexidade do problema, é importante aumentar a amplitude da discussão, incorporá-lo numa agenda permanente de planejamento estratégico regional, tendo em vista que a questão ultrapassa os limites da esfera da gestão pública e do urbano. É necessário que a região tenha um planejamento estratégico de desenvolvimento voltado para o curto, médio e longo prazos, de forma que demonstre quais serão as estratégicas na busca da manutenção da indústria, reconversão industrial e atração de novas indústrias relacionadas à indústria 4.0.

* Pesquisadoras convidadas do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) 




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