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Estimativa é que Grande ABC tenha 229 desaparecidos

Epecializadas de Santo André e São
Bernardo mantêm 147 casos em aberto

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
02/07/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


A Polícia Civil estima que o Grande ABC tenha atualmente 229 pessoas desaparecidas. Este número, porém, pode ser maior, uma vez que é preciso levar em consideração o fato de que nem todas as famílias registram boletim de ocorrência. Apenas neste ano, as delegacias seccionais da região receberam 559 ocorrências relacionadas a desaparecimentos.

O setor de homicídios de Santo André, também responsável pelas investigações dos casos de Mauá, de Ribeirão Pires e de Rio Grande da Serra, recebeu 260 ocorrências de desaparecidos em 2017. Atualmente, a especializada mantém cerca de 60 casos em investigação, sendo o mais antigo datado de 2014, segundo o delegado titular Márcio Bicudo Tossati. “Cerca de 90% são localizados. Há muitos casos de adolescentes que fogem de casa, além de pessoas que têm vício em álcool e drogas e acabam ficando afastadas da família por um tempo. A maioria dos casos, cerca de 60%, é de Mauá, seguido por Santo André, com média de 30%.”

Conforme dados da Delegacia Seccional de São Bernardo, que também integra São Caetano, foram 217 boletins de desaparecidos nas duas cidades em 2017, e 184 pessoas localizadas. Atualmente, são 87 casos em investigação, sendo 33 com mais de 60 dias desde o desaparecimento. “Mais de 60% voltam para casa e acabam nem avisando a polícia. Alguns casos são de pessoas idosas com doenças como amnésia ou Alzheimer, e poucos são relacionados a acidentes. Mortes são raras”, comentou o delegado Aldo Galiano Júnior.

A Delegacia Seccional de Diadema informou que foram realizados 82 registros de pessoas desaparecidas neste ano. A polícia não informou, contudo, a quantidade de casos solucionados, o que poderia alterar o número de 229 pessoas desaparecidas na região.

ESPERANÇA

Operadora de máquina Maria Neide Lima, 52, procura pelo filho há sete anos. O auxiliar de produção José Mairton Lima, à época com 26, desapareceu em janeiro de 2007, quando ela estava na casa da irmã, na parte da tarde. Ele foi trabalhar e retornou à casa da família, na Vila Conceição. “Ele me ligou e perguntou se eu ia jantar lá. Até achei estranho, porque ele não costumava se preocupar, mas na hora não pensei nada. Ele disse que ia para o shopping com os amigos.”

Segundo ela, um colega de trabalho chegou a ver Lima em um ônibus em direção ao Brooklin, bairro na Capital, logo após a ligação. Desde então, ela não teve mais informação. Três anos antes, ele tinha sido diagnosticado com depressão após o suicídio de um amigo, chegou a fugir de casa e também tentou se matar. “Acredito em milagres.”

Em São Bernardo, a técnica de enfermagem aposentada Marli Vieira Carolino, 59, procura pelo filho Anderson Vieira Rodrigues desde março de 2003, quando ele tinha 28 anos. Embora tivesse deficiência intelectual, estudava e jogava bola no Jardim Palermo. Ele também havia fugido outras vezes.

Marli, que é mãe de mais duas filhas e avó de três netos, tenta reconstruir a vida após a morte do marido, há quatro meses, sem perder a esperança de voltar a abraçar o filho. “Quero reencontrá-lo antes de partir deste mundo. Quando sonho com ele, vejo-o com o pai e a avó que faleceram. Mas, muitas vezes, penso em encontrá-lo até casado, com uma família. Seria o dia mais feliz da minha vida.”

Diversos cartazes no calçadão da Oliveira Lima, Centro de Santo André, mostram o rosto de Inácio Francisco Teixeira, 60. O morador do bairro Taboão, em Diadema, desapareceu há dois meses e sempre teve o costume de dar longas caminhadas. A família chegou a receber informações de que ele fora visto na Estação Santo André. “Mobilizamos a família inteira, mas até agora nada. Fizemos busca em toda a região. É um grande mistério para nós”, contou o sobrinho, o gerente comercial Ricardo Pereira, 29.

Quem tiver informações sobre a localização de pessoas desaparecidas deve ligar para o Disque Denúncia no 181.

Mães da Sé ajudou a encontrar mais de 4.000

Ao longo de 21 anos de existência, a ABCD (Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas) ajudou a localizar 4.528 pessoas. Fundada por duas mães de crianças desaparecidas, Ivanise Esperidião da Silva Santos e Vera Lúcia Gonçalves, a associação ficou conhecida como Mães da Sé, por causa do ponto de encontro do grupo, a Praça da Sé, Centro da Capital.

Mensalmente, as mães levam cartazes com fotos dos filhos desaparecidos e fazem uma espécie de protesto, na esperança de encontrar os entes queridos.

“Fazemos um trabalho de prevenção nas escolas, um projeto chamado Sempre Alerta, e temos um psicólogo e uma assistente social que fazem acompanhamento com as mães. Isso é muito importante, pois a desestrutura emocional é o primeiro sintoma que afeta uma mãe que vive a dor do desaparecimento de seu filho”, disse a presidente Ivanise Esperidião da Silva Santos.

Quase 11 mil boletins foram registrados no Estado neste ano

Conforme informações da SSP (Secretaria da Segurança Pública), em todo o Estado foram registrados 10.775 boletins de ocorrências de pessoas desaparecidas de janeiro a maio deste ano – 7.955 foram encontrados. Em 2016 foram 26.489 ocorrências de desaparecimento e 24.139 pessoas encontradas. A Pasta não forneceu números regionais.

O coordenador da comissão da criança e do adolescente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Ariel de Castro Alves, defende cadastros nacional e estaduais para crianças e adolescentes. “Se atualizados diariamente, a partir dos boletins de ocorrência de desaparecidos em todo o País, poderiam ser utilizado diante de situações nas quais pessoas sejam encontradas em situação de risco e abandonadas. Também defendemos a criação de delegacias especializadas nas buscas e vinculadas a cada Seccional, as quais garantiram atendimento adequado e atuariam em conjunto com programas sociais.”




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