``Todo mundo que sabe que eles foram indicados pelo Temer', afirma o vereador Fausto Figueira (PT). ``Houve muita maracutaia no Porto de Santos nas barbas da direçao da Codesp indicada pelo PMDB. ACM se aproveitou disso para atingir o Temer. Isso é briga de cachorro grande, mas tem de ser apurado. Só que o ACM nao pode virar o ombudsman da moralidade', diz. ``Vamos dar a muniçao', disse o vereador Odair Gonzalez (Prona).
Investigaçao ampla _ Autores de denúncias contra a Codesp, os dois vereadores esperam apenas um sinal verde do presidente da Câmara de Santos, Carlos Mantovani Calejon, para formar a comissao que irá á Brasília na próxima semana. Eles querem uma investigaçao ampla, que inclua também a gestao de Azeredo (1995 a 1998), mas só têm indícios sobre o período em que Carmo - substituído pelo ex-deputado Wagner Rossi (PMDB), há dois meses - assumiu o cargo.
A denúncia mais grave é o arrendamento de dois armazéns de embarque e desembarque de contêineres de cargas da Codesp - os terminais 34 e 35, considerados como o filé mignon do Porto de Santos - para a empresa Libra-Linhas Brasileiras de Navegaçao S/A, cujo contrato, ao ser alterado, segundo Figueira, provocou prejuízos da ordem de R$ 32 milhoes à Codesp. ``Foram incluídas 14 cláusulas no novo contrato alterando prazos e pagamentos', sustenta o vereador. A principal alteraçao do novo contrato se refere ao momento em que a empresa passa a recolher as taxas de arrendamento à Codesp: em vez de pagar a partir da entrega dos dois terminais para exploraçao, há dois anos, o novo contrato estipulou que a Libra só recolhesse depois que o projeto fosse definitivamente aprovado.
Vulnerável - ``Nos primeiros 24 meses de vigência houve a discrepância de R$ 32.667.220. O valor do aluguel sumiu no segundo contrato', afirma Figueira. Segundo ele, até o edital da concorrência vencida pela Libra era vulnerável para permitir as alteraçoes. Além das condiçoes de preço e formas de pagamento, as novas cláusulas fazem remissoes a tabelas nao previstas no contrato original e a normas da Codesp que, na época, nem sequer foram cogitadas. Houve também, conforme a denúncia do vereador, diminuiçao de valores de aluguel e extinçao de garantias que levariam a Codesp a receber um valor mínimo da movimentaçao de contêineres nos dois terminais arrendados. Foram incluídos também prazos de carência que nao existiam, extintos itens que garantiam cobranças mínimas pela Codesp.
A denúncia já está sendo apurada pelo procurador da República Antônio José Donizette Molina Dalóia, de Santos. Nela o vereador Fausto Figueira cita o ex-presidente da Codesp Paulo Fernandes do Carmo como o signatário dos dois contratos como representante da estatal e pede seu enquadramento por improbidade administrativa.
O vereador Odair Gonzalez vai anexar ao dossiê uma denúncia que ele mesmo encaminhou ao Tribunal de Contas da Uniao (TCU) em fevereiro apontando que a Codesp, em outro contrato feito com a Libra - para movimentaçao de contêineres à margem direita do Porto de Santos - está perdendo o equivalente a R$ 6 milhoes por ano ao reduzir drasticamente os preços das tarifas. Segundo Gonzalez, o contrato foi firmado em 1996, e permite que a empresa pague taxas equivalentes a 85% a menos dos preços cobrados pela Codesp de outras empresas que também exploram o mercado portuário.
Uma outra irregularidade envolvendo Carmo foi denunciada à Procuradoria da República pelo presidente do Conselho de Autoridade Portuária (CAP), o capitao de mar e guerra da Marinha, Francisco Luiz Gallo. Segundo um documento que chegou ao CAP, assinado pelo representante dos trabalhadores portuários, Rubens Fortes Antonio, sem amparo legal a Codesp aceitou o pagamento de R$ 2,3 milhoes como quitaçao de uma dívida de R$ 9,3 milhoes, acumulada pela empresa Boa Vista Comércio e Serviços Ltda, antiga dona de um navio cimenteiro que ficou vários anos atracado no Porto de Santos. Segundo o documento, em nenhum momento a Codesp apresentou fundamentaçao legal para renegociar uma dívida que estava no contrato.
Parecer - O vereador Fausto Figueira lembra que, nesse caso, embora o acordo só tenha sido homologado no dia 16 de setembro do ano passado, só em 21 de outubro é que o ex-presidente da Codesp apresentou um parecer, assinado pelo advogado Ivan Barbosa Rigoli, de Santos, para respaldar a negociaçao. ``O parecer tem uma pérola impressionante. O advogado justifica a diminuiçao do valor da dívida argumentando que esse tipo de acordo é comum na Justiça do Trabalho. Como se uma coisa tivesse a ver com a outra', ironiza Figueira.
``Tem gente ficando rica com as privatizaçoes às custas do Porto de Santos, enquanto a populaçao está perdendo', diz Figueira. Segundo ele, a Câmara e a Prefeitura nao têm nenhuma informaçao sobre a real situaçao da Codesp, principalmente depois que o órgao foi loteado entre grupos políticos que formam a base de sustentaçao do governo federal. ``Só sabemos que depois da privatizaçao os empregos caíram de 40 mil para dez mil e a cidade sofreu uma diminuiçao de R$ 200 milhoes por mês na massa salarial', afirma.
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