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Na trilha do arco-íris
Por Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
01/06/2009 | 07:00
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Gays, lésbicas, travestis, transexuais, transgêneros, bissexuais, intersexuais ou simpatizantes interessados em agregar conhecimento à discussão pelos direitos civis contam com uma nova ferramenta intelectual, o livro Na Trilha do Arco-Íris - Do Movimento Homossexual ao LGBT (Ed. Fundação Perseu Abramo, 194 págs., R$ 38), dos autores Júlio Assis Simões e Regina Facchini.

Apesar do tom sisudo da pesquisa da dupla, a edição traz um interessante panorama dessa história, organizando dados dispersos que resultaram na formação da organização LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) responsável entre outras conquistas, por levar anualmente às ruas a maior manifestação civil regular do mundo, a Parada Gay, hoje espalhada por dezenas de cidades do País.

Júlio Assis Simões, nascido em São Caetano e professor do departamento de Antropologia da USP, ao lado de Regina Facchini, pesquisadora da Unicamp, conseguiu elencar curiosidades e casos verídicos sobre as vitórias e desafios da comunidade homossexual brasileira. Caso da adoção do filho da cantora Cássia Eller pela sua viúva. O foco é sempre mantido sobre a manutenção dos direitos civis básicos.

"Podemos compreender, assim, que a relevância do ativismo LGBT não reside apenas em sua resistência às formas de degradação, intolerância, perseguição e mesmo criminalização da homossexualidade, ou em seu esforço em tornar públicas e visíveis experiências minoritárias, silenciadas ou marginalizadas (o que não é pouco). Ela está, sobretudo, em sua potencialidade de desafiar os saberes convencionais e as estruturas de poder inscritos na sexualidade que alicerçam a vida institucional e cultural de nosso tempo", raciocinam os autores.

A tese é a de que ao acompanharmos as discussões propostas pelo movimento homossexual colocamos em xeque as bases da organização social e da cultura. A "nova família" é um dos desdobramentos mais espinhosos desses debates, já que envolve diretamente a educação de crianças sob novos modelos surgidos.

Interessante notar que as próprias condutas mal resolvidas dentro do movimento também são apontadas pelos autores em forma de tensões, ambivalências e paradoxos identificados nas relações. O fato é que há uma tendência atual, efeito colateral da organização, de separação das categorias. "O movimento se defronta com o desafio de renovar as conexões entre os diversos mundos no interior do próprio universo LGBT." A caminhada é árdua e nem sempre alegre. Nem todo dia é dia de Parada Gay.

Trechos

"Talvez nada seja mais novo, surpreendente e intrigante na cena política brasileira contemporânea do que as multidões de pessoas reunidas nas manifestações organizadas em inúmeras cidades do País para celebrar o Orgulho LGBT (...). O Brasil tornou-se, nos últimos anos, o país que mais realiza Paradas do Orgulho LGBT (...)"

"O movimento político que surgiu no final dos nos 1970 não foi o primeiro esforço de articulação de pessoas em torno de interesse comum na homossexualidade no Brasil, Desde os anos 1950, ou até mesmo antes, encontramos nas grandes cidades formas de associação dedicadas à sociabilidade, à diversão e à paródia, agregando principalmente homens, que promoviam eventos como concursos de miss, shows de travestis e desfiles de fantasias. Também era produzidos e distribuídos pequenos jornais feitos artesanalmente."

"Grande parte do mercado GLS e do seu circuito noturno de lazer não considera travestis e transexuais integrantes da ‘comunidade' para a qual oferecem seus serviços. Situações de conflito ocorrem quando identidades abraçadas pelo movimento são repudidas pelo mercado. Em 2004. por exemplo, travestis organizadas politicamente (...) em São Paulo realizaram a Blitz Trans, ocasião em que percorreram espaços de consumo do circuito GLS, apoiadas na lei antidiscriminação do estado, protestando contra estabelecimentos que sobretaxam a entrada de travestis."




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