Setecidades Titulo Crise na saúde
Falta de remédio adia cirurgias em Mauá

Empresa retira medicamentos e Secretaria de Saúde municipal tem de buscar suprimento durante a madrugada

William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
29/08/2008 | 07:00
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A falta de medicamentos provocou o adiamento de cirurgias eletivas no Hospital Doutor Radamés Nardini, em Mauá. A situação atingiu seu ponto crítico na madrugada de ontem, quando a Home Care - até então responsável pelo fornecimento e gerenciamento de produtos médico-hospitalares - cumpriu o que havia prometido e retirou os medicamentos que ainda mantinha nas unidades de Saúde, abandonando o galpão que tinha na cidade.

A empresa rompeu contrato unilateralmente depois que a Prefeitura não pagou uma dívida estimada em R$ 4 milhões. A previsão inicial era de que a Home Care deixasse o município apenas entre hoje e amanhã. Porém, uma releitura do contrato apontou que, ao invés de três meses, são 90 dias de aditamento, o que provocou a saída à 0h de ontem.

A partir daí, uma força-tarefa de profissionais ligados à Secretaria de Saúde do município percorreu a cidade em busca de medicamentos e produtos necessários para o funcionamento do hospital. Relatos de auxiliares de enfermagem que trabalham no local dão conta de que as reservas chegaram a níveis mínimos e houve racionamento na medicação e até de seringas descartáveis.

O secretário de Saúde, Valdir Russo, confirmou que um grupo saiu durante as primeiras horas do dia em busca de material para suprir a demanda do Nardini. "Com a saída, tivemos de nos mobilizar para manter o atendimento."

As cirurgias eletivas, como a retirada de vesícula, varizes e amídalas, estão suspensas desde então, enquanto o problema persistir na cidade.

O secretário confirmou ainda que o fornecimento de medicamentos não foi afetado, embora os estoques tenham ficado bastante baixos, o que gerou a mobilização entre os profissionais. A expectativa de Russo é de que a situação comece a melhorar no início da próxima semana. "Já acertamos o fornecimento emergencial, que será assinado amanhã (hoje)", explicou.

A Home Care informou que retirou o que lhe pertencia das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) Zaíra 2 e São João e do Hospital Nardini para que a Prefeitura assumisse a distribuição e gerenciamento dos remédios. Apenas um equipamento de refrigeração para suprimentos como insulina foram mantidos no hospital, a pedido da Prefeitura, por mais 15 dias. Ontem à tarde, o galpão da empresa já estava fechado e sem funcionários.

‘Desculpe, mas não temos agulhas'

A reportagem do Diário sentiu na pele os problemas enfrentados pela população mauaense na tarde de ontem. Ao tentar imunização contra a rubéola na UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Magini, descobriu que até havia vacina disponível, porém, não seria possível a aplicação. "Desculpe, mas não temos agulhas", afirmou a atendente.

O desabastecimento provocado pela saída da Home Care deixou unidades do município impossibilitadas de participar da campanha nacional contra a doença. A Secretaria de Estado da Saúde confirma que enviou anteontem mesmo 10 mil doses da vacina para o Grande ABC, garantindo o abastecimento.

Comunicado sobre o fato, o secretário de Saúde do município, Valdir Russo, afirmou que possivelmente ocorreu um equívoco, e que a unidade da Vila Magini estaria habilitada a aplicar a vacina, com estoque de agulhas disponível. No local, o repórter do Diário foi informado de que deveria retornar depois de dois dias.

Por conta das obras na farmácia da unidade central, a UBS da Vila Magini se tornou ponto bastante procurado pela população de Mauá,. O local tem sido alvo de constantes queixas dos munícipes, que procuram medicamentos e voltam para casa de mãos vazias. Realidade que se estende aos bairros mais distantes.

A situação nas unidades básicas de Saúde deve se normalizar no início da próxima semana. Pelo menos essa é a promessa de Russo, que vê outro problema a ser resolvido, algo que vai além da chegada de remédios ao município. "Teremos de montar nosso esquema de gerenciamento e distribuição. Trata-se de algo que precisa ser informatizado, inclusive", explicou.

Apesar de todos os problemas, o secretário acredita que ainda conseguirá reverter a situação crítica. O otimismo contrasta com a precariedade da Saúde no município, setor que recebe cerca de 38% de todo o orçamento municipal.

Candidatos não poupam críticas à Saúde

Como já era esperado, os candidatos ao posto hoje ocupado pelo prefeito Leonel Damo (PV) não pouparam críticas ao que tem acontecido com a Saúde no município.

Chiquinho do Zaíra (PSB) disse que espera chegar ao Paço para evitar que os problemas continuem. "Não sei porque acontece isso. Só sei que não pode faltar remédio para a população", explicou.

Depois de pedir abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara Municipal na terça-feira, Diniz Lopes (PSDB) demonstrou indignação com a falta de medicamentos. "O fato é que ele (Damo) abandonou a Prefeitura por não ser candidato à reeleição", afirmou.

Já Matheus Prado (Psol) culpou também administrações passadas pelo que ocorre hoje. "O Amaury Fioravante foi de extrema irresponsabilidade quando municipalizou o Nardini", apontou.

Oswaldo Dias (PT) reconheceu que os problemas relacionados à Saúde são trabalhosos, mas disse discordar de tudo que tem ocorrido. "Tenho acompanhado esse processo há algum tempo. É um desastre anunciado.".

O atual prefeito foi contatado pela reportagem anteontem, durante reunião na Secretaria de Estado de Saneamento e Energia, em São Paulo. Na ocasião, disse que tomaria pé da situação e voltaria a falar com a reportagem sobre a crise dos remédios ontem.

O Diário foi até o Paço Municipal e tentou, durante todo o dia, novo contato com o prefeito. No fim da tarde, Damo se manifestou por meio de nota oficial, dizendo que só falaria sobre o assunto quando a Secretaria de Saúde apresentasse decisões.




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