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Na contramão da economia, Grupo Polar cresce na pandemia

Fábrica de embalagens para testes e vacinas de São Bernardo amplia receita, mas vê desafios no transporte ideal de produtos

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
17/01/2021 | 00:20
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Nario Barbosa/DGABC


Em ano de tantas dificuldades deixadas pela pandemia, empresas de segmentos específicos viram, na contramão da economia, sua receita crescer e abrir ainda mais caminhos para 2021. É o caso do Grupo Polar, de São Bernardo, que fabrica embalagens para transporte de testes de Covid-19 e de vacinas, além do gelo atóxico para armazenamento dos produtos e medidor de temperatura. Diante do cenário, viu seu faturamento crescer 10% no ano passado e atingir R$ 53 milhões. De olho na aprovação dos imunizantes contra o coronavírus, a projeção é ampliar os ganhos em mais 25%.

Além de produzir, a companhia realiza ensaios térmicos em seu laboratório, valida e ainda treina técnicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que aprendam a manusear os itens da forma correta, assim como manipular vacinas.

Uma das embalagens produzidas na fábrica situada há duas décadas na Avenida Piraporinha são caixas especiais de PU (Poliuretano) usadas para transportar testes de detecção do novo coronavírus, que podem ser armazenados de 2ºC a 8ºC, mesma temperatura necessária para a Coronavac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, e que começará a ser aplicada na população assim que for aprovada pela Anvisa - autorização pode ocorrer hoje.

Segundo a diretora técnica e estratégica em cold chain (cadeia fria) do Grupo Polar, Liana Montemor, a expectativa é grande diante da aprovação desta e de outras vacinas, como a da britânica da Oxford junto com a farmacêutica AstraZeneca, cuja temperatura de armazenamento é a mesma da Coronavac, uma vez que a companhia possui 80% dos mercados farmacêutico e de laboratórios como seus clientes.

Desde que começou a pandemia, o Grupo Polar foi na contramão e aumentou o quadro de funcionários em 15% ao longo de 2020, passando para 110 pessoas. Neste ano, existe a previsão de abertura de vagas, a depender da demanda das vacinas. Liana pontua que, conforme puder ser comercializada por laboratórios privados, deve haver também maior necessidade de profissionais. Por isso, interessados em atuar na companhia podem ser inscrever por meio do link http://grupopolar.com.br/contato/trabalhe-conosco.

GARGALOS


Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apontam que 50% das vacinas em todo o mundo chegam sem condições de serem aplicadas e, 25%, têm quebra da cadeia do frio. Segundo a diretora técnica do Grupo Polar, o manuseio e o transporte de imunizantes ainda são os grandes gargalos deste segmento. Ela destaca que não basta ter a embalagem correta, mas também a manipulação que, se falhar, pode danificar o produto, que terá de ser desprezado e haverá todo um retrabalho e atraso na entrega, distribuição e eficácia dos imunizantes. “Não é uma logística fácil. Trata-se de grande desafio. E quanto mais longe a região a receber o produto estiver da indústria farmacêutica, maior ele é. Uma das nossas missões é garantir que a temperatura ideal seja mantida, pois a quebra na temperatura pode reduzir o efeito da vacina. E queremos ter uma população imunizada e não somente vacinada”, explica.

Validadora da certificação Ceiv Pharma no Brasil pela Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), Liana conta que já treinou cerca de 500 fiscais da Anvisa – sendo mais de 80 só neste mês –, sobre como receber os produtos nos postos de saúde, medir a temperatura, ligar o refrigerador e armazená-los.

Segundo ela, o transporte aéreo ainda é o ‘buraco negro’ para levar os medicamentos. “Por exemplo, no caso de uma vacina contra a Covid como da Pfizer (dos Estados Unidos), que requer temperatura de -70ºC. É preciso ter gelo seco para manter a temperatura negativa, porém, se o embarque atrasar ou não ocorrer, o gelo começará a sublimar e emitir CO², o que pode prejudicar o operador diante do risco de inalar esse gás”, explica. O mesmo vale para o imunizante da norte-americana Moderna, por exemplo, que requer temperatura de -20ºC.

Pensando nisso, o Grupo Polar desenvolveu o gelo em PCM (Phase Chance Material), ou material de mudança de fase, na tradução para o português, que é atóxico e segue padrão de química verde. Com ele, se reduz em 30% a necessidade do uso de gelo seco para esse tipo de transporte e, com isso, é menor a chance de evaporação do gás carbônico e, portanto, minimiza os riscos à saúde de quem o manuseia. “Fomos pioneiros em desenvolver essa tecnologia 100% atóxica no País”, conta Liana.

Outro aliado na manutenção da temperatura dos itens transportados é o Polar Tracker, equipamento de gerenciamento integral da cadeia fria desenvolvido para monitorar em tempo real e on-line o ambiente interno de veículos, embalagens, freezers, galpões e câmaras. “Ele vem com um sistema GPS e, além de registrar a temperatura, informa onde está o produto, se está parado, por exemplo, se a temperatura está muito elevada.” Além dele, há o Data Loguer, medidor que registra a temperatura e quem recebe a mercadoria a avalia de forma eletrônica.

Os investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento pelo Grupo Polar em 2020 não foram divulgados. 




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