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Eliane Giardini: amiga das horas
Renata Petrocelli
Da TV Press
10/07/2005 | 09:58
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Quando ainda era uma atriz desconhecida do grande público, dedicada exclusivamente ao teatro, Eliane Giardini, 51 anos, ouviu do diretor Antônio Abujamra a afirmação de que "mulher de voz grossa nunca faz a mocinha da história". Mais de 20 anos e várias novelas depois, a intérprete da divertida viúva Neuta, de América, na Globo, ri só de lembrar o "aviso". "Não passei uma vida inteira fazendo protagonista na TV. Comecei com coisas pequenas e passei para os bons e grandes papéis. É uma trajetória ascendente", diz, esbanjando serenidade. A seguir os principais trechos da entrevista:

PERGUNTA: Apesar da aparente rigidez, a Neuta é uma personagem com forte potencial para o humor. Isso facilita a identificação com o público?
ELIANE GIARDINI: Acho que o humor é um grande lance. Tudo que eu puder fazer com humor, faço. Não banalizando, nem jogando para a arquibancada, não é neste nível. Mas acho que o humor é a maior qualidade que um ser humano, e também um personagem, pode ter. É claro que gosto de fazer drama, comecei minha carreira fazendo muito drama, sempre fui considerada uma atriz dramática, até por vir do teatro. Mas houve um momento em que as pessoas descobriram que eu poderia fazer humor. A partir daí, tudo ficou mais gostoso. A Neuta sem este toque de humor seria insuportável, até porque não seria crível. Uma pessoa muito rígida começa a ser risível. Tudo que sai da medida fica risível. Controlando isso com o humor, fica muito melhor.

PERGUNTA: A temática do preconceito em torno do homossexualismo agrada você?
ELIANE GIARDINI: Gosto de fazer personagens com os quais as pessoas possam se identificar e alcançar algum benefício. Se através de uma personagem que tem identificação com o público, como é a Neuta, eu posso falar de uma resistência que muitas pessoas têm, e mostrar que elas podem enxergar isso de uma outra forma, é perfeito. Acho que é uma possibilidade muito grande de contribuição para quem está assistindo. As pessoas vão se enxergar e a televisão tem esta função, ela é meio libertadora. Às vezes, você tem um problema e se tranca completamente, parece que tudo é muito mais difícil. Se você vê seu problema numa novela, se dá conta de que aquilo é comum a muitas pessoas. E de que existem inúmeras formas de lidar com aquele problema.

PERGUNTA: Você está num núcleo cheio de atores mais jovens. Gosta dessa troca de experiências entre gerações?
ELIANE GIARDINI: Adoro, até porque tenho filhas nessa mesma idade, com 20 e poucos anos. Aliás, acho que tenho um canal de comunicação nessa faixa, porque tenho amigos com essa idade, saio muito com pessoas dessa idade. Nosso cenário é famoso na novela por ser um dos mais divertidos.

PERGUNTA: Essa convivência faz você avaliar sua própria trajetória como atriz?
ELIANE GIARDINI: Uma das coisas que aprendi, e que todo mundo já sabe, é que o tempo é relativo. Às vezes, vejo uma menina falando: ‘Nossa, já tenho 28 anos e não aconteceu nada na minha vida’. Isso é uma coisa que hoje enxergo de outro modo. Se aos 40 anos você faz um bom trabalho e é reconhecido, é o mesmo que você ter feito isso nos 20 anos anteriores. O tempo não conta muito, é subjetivo mesmo. Hoje percebo que é mais do jovem essa coisa de correr atrás do tempo. Depois você percebe que o tempo pode ser elástico às vezes.

PERGUNTA: Receber aos 51 anos um convite para posar na Playboy reforçou essa certeza?
ELIANE GIARDINI: Claro que sim, achei ótimo. A Playboy é uma revista que vende mulheres jovens e bonitas. O fato de estar de alguma forma incluída neste rol já é um elogio. Não preciso nem fazer esse ensaio, o elogio já está feito. E aí eu fico só com a parte boa. Tem uma coisa legal que é o fato de que todas as mulheres que estão na minha faixa de idade podem se sentir envaidecidas também, porque estão incluídas nisso. Significa que essa faixa de idade não exclui possibilidades.

PERGUNTA: Você acha que hoje lida melhor com a passagem do tempo?
ELIANE GIARDINI: Acho que estou na idade do ‘tudo posso’. Uma hora isso passa. Mas faço parte de uma geração meio emblemática, que rompeu com milhares de padrões e valores estabelecidos na década de 60 e agora está rompendo com os limites da velhice. Assim como aos 20 anos eu percebi que, se quisesse, poderia não me casar, ou casar de vermelho, ou estudar. É a mesma geração, uma geração do questionamento. A gente descobriu que não precisa colocar um pijama e ficar aposentado em casa, porque existe uma vida para se reescrever e se recriar. Não sei como vai ser a velhice da minha geração. Estou vendo muita gente envelhecer muito bem e outros envelhecendo muito mal. Eu estabeleço metas para mim, é possível fazer concessões e estabelecer exigências. O fato de querer permanecer na juventude é péssimo. É preciso trabalhar para estar bem, com muita saúde, o melhor que se puder ficar, mas sem querer se fixar no passado.




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