Setecidades Titulo Justiça
Após 5 anos, vítimas de explosão ainda têm prejuízos

Vizinhos de loja de fogos de artifício
acidentada em Santo André não receberam indenização

Por Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
24/09/2014 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Dia 24 de setembro de 2009, 12h40. Loja de fogos de artifício localizada na Rua Américo Guazelli, na Vila Pires, em Santo André, explode, mata duas pessoas e provoca danos físicos em outras 23. Passados cinco anos da tragédia, a justiça ainda não foi feita. Sem receber indenizações, vítimas que tiveram os patrimônios danificados ainda tentam recomeçar suas vidas e recuperar os prejuízos.

Alguns contaram com a solidariedade para se reerguer. Caso do mecânico Wagner Montanari, 54 anos, proprietário do imóvel ao lado de onde funcionava a loja Pipas e Cia., de propriedade do empresário Sandro Luiz Castellani. No terreno estavam sua oficina automotiva e a casa onde morava com outras cinco pessoas. “Muitos amigos e clientes me ajudaram durante esse período”, relata Montanari, que só conseguiu reabrir seu comércio em fevereiro deste ano.

O prejuízo estimado é de R$ 500 mil. “Peguei um empréstimo no valor de R$ 200 mil e o resto do dinheiro fui colocando conforme conseguia juntar”, lembra. Durante o período em que o imóvel ficou inutilizado, alugou um galpão para poder manter as atividades da oficina. Nessa época, ficou cinco meses abrigado em casa de familiares.

Apesar das dificuldades financeiras, Montanari se considera uma pessoa de sorte. “Quando houve a explosão, fui parar debaixo de um carro. Consegui sair de lá sozinho. Pela magnitude do acidente, foi um milagre ter sobrevivido estando ao lado do local onde tudo começou.” O mecânico teve escoriações e ficou internado por dois dias, mas não possui sequelas.

A empresária Ivanilde Scaramel, 58, proprietária de uma corretora de seguros, gastou em torno de R$ 200 mil para recuperar um prédio que acabara de adquirir em frente à antiga loja. “Também perdemos cinco carros, que foram atingidos pelos escombros”, recorda. Tanto Montanari quanto Ivanilde não receberam indenizações.

A filha dela, a corretora Viviane Coelho, 28, narra os momentos de terror que viveu naquela tarde. “Todo mundo correu para a cozinha, que ficava na parte de baixo, para se proteger. Parecia cena de filme.” Ela considera o acidente como “tragédia anunciada”, já que a vizinhança sabia que Castellani armazenava pólvora no imóvel de maneira irregular.

Perante a demora, Viviane demonstra confiança de que a justiça será feita. “Nossos juízes deveriam dar uma punição exemplar para que não houvesse mais fatos como esse. Uma solução seria penhorar todos os bens do dono da loja e indenizar as vítimas”, sugere.

Uma vizinha que não quis se identificar conta que, poucos meses após a explosão, a administração municipal, à época chefiada por Aidan Ravin (então no PTB, hoje no PSB), fez as reformas em sua casa, que foi parcialmente demolida. “Durante três meses, a Prefeitura bancou a estadia do meu filho em um hotel. No entanto, a alimentação era por minha conta.” Mesmo depois das obras, o imóvel ainda tem problemas. “Minha laje ficou com vazamentos e vou ter de refazer o serviço”, lamenta.

A vítima informa que a ajuda da Prefeitura se deu após acordo entre as partes, sem intervenção da Justiça. Formalmente, nenhuma indenização foi paga. “Além dos prejuízos, meu irmão, que é especial, teve uma lesão no olho.”

Condenado a 6 anos de prisão, dono de comércio está solto

O empresário Sandro Luiz Castellani, proprietário da loja de fogos de artifício que explodiu em 2009 em Santo André, foi condenado em agosto do ano passado a seis anos de detenção no regime semiaberto. Mesma pena foi aplicada à mulher dele, Conceição Aparecida Fernandes. A sentença, em primeira instância, foi proferida pela juíza Daniela de Carvalho Duarte, da 1ª Vara Criminal de Santo André. Ambos foram enquadrados nos crimes de explosão culposa resultante em morte e transporte de explosivo sem licença. Como o processo ainda está em fase de recursos, os dois podem aguardar o julgamento final em liberdade.

O advogado do casal, Cláudio José Carvalho, afirmou apenas que está aguardando novas intimações para tomar providências. Castellani e Conceição foram procurados pelo Diário, mas não quiseram comentar o assunto.

O acidente provocou a morte do primo de Castellani, Deniam Castellani de Sousa, e da faxineira dos réus, Ana Maria de Oliveira Martins. Segundo os autos, a explosão foi provocada depois que o proprietário da loja tentou reparar uma antena de radioamador na parte frontal do imóvel. O material teve contato com a rede elétrica, o que provocou curto-circuito que iniciou o fogo. 




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