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Os filhos do acampamento

A ocupação do MTST no terreno no Jd. do Estádio completou
9 meses este mês; cerca de 10 crianças nasceram no período

Por Cadu Proieti
do Diário do Grande ABC
25/12/2012 | 07:00
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No dia 2 de dezembro, a ocupação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) no terreno particular localizado no Jardim do Estádio, em Santo André, completou nove meses. Durante este período, pelo menos dez crianças nasceram no acampamento - filhos de mulheres que entraram grávidas no local.

Com apenas 38 dias de vida, o pequeno Cauã de Jesus Veloso é um dos caçulas do local. A mãe dele, Aline Aparecida, 22 anos, instalou-se no terreno no quatro mês de gestação, em junho, na esperança de conseguir a moradia própria. Ela relatou que deu à luz ao filho em um hospital do bairro M'Boi Mirim, na Capital, próximo à casa de parentes. Após o parto, passou alguns dias na casa da mãe, em Santo Amaro, também em São Paulo, e retornou à ocupação, onde mora com o marido e a outra filha, Katelyn, 1 ano.

A forma precária de moradia não assusta Aline. Ela se diz bem adaptada ao improviso e cria o filho recém-nascido dentro de uma barraca de lona, com chão de terra, sem água encanada e banheiro. "Não tenho nenhuma dificuldade com ele. É tudo muito tranquilo", diz a mãe.

Segundo Aline, a chegada do calor é o que mais tem atrapalhado, já que a criança precisa tomar banho várias vezes ao dia em um banheiro comunitário localizado dentro do acampamento. Mas o problema é superado com a ajuda de vizinhos, já que o chuveiro fica distante do local onde Aline mora com a família. "Graças a Deus, somos bem unidos aqui dentro. O resto dá para ir levando. Como meu marido trabalha, nunca falta comida ou roupa para o Cauã."

Quando o acampamento completou exatamente um mês e um dia, em 3 de abril, nasceu o pequeno Brayan, que hoje tem 8 meses e é o primeiro descendente da ocupação. A mãe dele, Aline Cristina Laurindo da Silva, 21, vive no terreno desde o primeiro dia da invasão. "Quando entrei, estava prestes a ter meu filho. Foi difícil, porque tive de dormir no chão, em cima de um papelão, com barrigão de oito meses de gravidez", relatou.

Aline Cristina também disse que não encontra dificuldades para cuidar o filho. No entanto, ela depende de doações de roupas e alimentos para sustentar o bebê. A coordenação do movimento diz que, dificilmente, recebe leite entre os donativos. "Por enquanto, ele toma o da mamãe", disse. Quando tinha apenas 2 meses, o garoto teve de ficar internado seis dias porque teve princípio de pneumonia. "Depois disso, não ficou mais doente."

Brayan acabou se transformando em símbolo da luta por moradia, já que Aline Cristina é bastante atuante no movimento. O único ato promovido pelo MTST ao qual ela não esteve presente foi na invasão do Paço, que aconteceu justamente no dia em que o pequeno sem-teto nasceu. "Eu e meu marido só não fomos por causa do parto", comentou a mãe.

Por ser o primeiro nascido no acampamento, o menino virou o xodó dos moradores. Como ele não estranha os braços de ninguém e sempre está no colo de algum manifestante, já tem apelido, apesar dos poucos dias de vida. "Ele sempre gostou de ficar com o pessoal. Por isso, muita gente o chama de Zé Povinho. Mas já pedi para pararem de chamá-lo assim", disse a mãe.

 

Proprietário sinaliza possibilidade de venda do terreno

 

Pela primeira vez desde a entrada dos ocupantes no terreno localizado no Jardim do Estádio, em Santo André, em março, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) conseguiu se reunir com o proprietário da área, Flávio Barone Pereira, na semana passada. Segundo os ocupantes, o dono do espaço sinalizou a possibilidade de venda do terreno.

"Ele disse que vai assinar carta direcionando a opção de compra para o movimento", disse Valdilene Silva, uma das líderes do grupo.

No entanto, o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação do município, Frederico Muraro, que participou do encontro com Pereira, disse que a situação não é tão simples quanto parece. "Ele sempre dialogou no sentido da venda, mas quer ceder apenas a parte do terreno que é mais alta, entendendo ser algo mais viável financeiramente. Agora, o movimento precisa apresentar projeto viável para somente essa área, que considero ter capacidade para receber apenas 200 famílias."

O MTST diz que, atualmente, cerca de 400 famílias vivem no local. Inicialmente eram cerca de 1.300. A equipe do Diário procurou o proprietário para falar sobre o assunto, mas ele não retornou aos pedidos de entrevista.

 




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